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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

"No news, good news"

Onde é que eles estão?”, Enrico Fermi.
“Encontrar vida em Marte seria a pior notícia que poderíamos ler num jornal”, Nick Bostrom.
“Viajo exatamente à velocidade de rotação da Terra”, Marguerite Yourcenar.
“Paulo Portas’s dead. No, no, no, no, no, it’s outside looking in”, adaptação da letra de uma canção dos Moody Blues, de acordo com um acordo ortográfico.


Conta-se que durante o caminho para o refeitório onde iam almoçar, os físicos e matemáticos Enrico Fermi, Emil Konopiski, Edward Teller e Herbert York, todos a trabalharem em 1950 no Laboratório Nacional de Los Alamos (lembram-se da ‘bomba atómica’?), iam conversando sobre as então recentes controvérsias sobre os UFO (objetos voadores não identificados, vulgo ‘discos voadores’), quando Fermi quis saber a opinião de Teller sobre a probabilidade de nos próximos dez anos se virem a encontrar provas concretas sobre a existência de civilizações extraterrestres. “Um para um milhão” foi o número avançado por Teller. A meio do almoço, de repente, Fermi exclamou: “Onde é que eles estão?”, desatando a fazer uma série de cálculos que lhe iriam permitir contrariar a opinião de Teller.


Fermi era reconhecido como especialista em obter resultados muito aproximados através dos seus cálculos rápidos assentes em pouca ou quase nenhuma informação. Conseguia assim uma primeira estimativa que serviria como quadro de referência para os resultados possíveis, antes de se passar à utilização de cálculos mais sofisticados que dessem respostas mais precisas.


Entrando em consideração que só no universo observável existam 100.000 milhões de galáxias, e que só na nossa galáxia há de 100.000 milhões a 400.000 milhões de estrelas, então, em todo esse universo observável devem de existir pelo menos 400 triliões (400 milhões de biliões) de estrelas. Se considerarmos a possibilidade de existir um planeta potencialmente habitável como a Terra, orbitando à volta de pelo menos 1% do total das estrelas do universo, teremos um total de 100 milhões de biliões de planetas parecidos com a Terra. É como se por cada grão de areia das praias deste mundo existissem 100 planetas análogos à Terra!
Se, depois de milhões e milhões de anos de existência, 1% desses planetas parecidos com a Terra (cada grão de areia) pudessem ter desenvolvido vida com idêntico nível de inteligência, então teríamos 10.000 biliões de civilizações inteligentes no universo observável! Só na nossa galáxia (já vimos que 100.000 milhões é o cálculo conservador do número de estrelas da Via Láctea) tal significaria a existência de mil milhões de planetas análogos à Terra e 100.000 civilizações inteligentes!

Com base nestes cálculos, especulativos mas conservadores, a conclusão a que Fermi chegou foi que a probabilidade de nos depararmos com uma outra civilização extraterrestre era de dez por cento, contrariando assim a baixa probabilidade avançada por Teller. Por isso, Fermi sustentava a ideia que a Terra deveria já ter sido visitada há muito tempo e por várias vezes por outros seres extraterrestres. Daí a sua grande perplexidade: De facto, onde é que eles se meteram?


É o célebre paradoxo de Fermi: O tamanho e a idade do universo sugerem a possibilidade da existência de imensas civilizações extraterrestres tecnologicamente avançadas, mas contudo esta hipótese não é consistente com a evidente ausência de resultados sobre o conhecimento dessas civilizações.


Há algumas respostas que poderão justificar esta “ausência de resultados”. Pode ser que afinal haja muito menos civilizações inteligentes que as consideradas como prováveis. Pode ser que elas existam, só que nós não nos apercebemos da sua existência, devido a elas estarem muito mais longe do que suposto, devido a ser muito dispendiosa a colonização da galáxia, devido aos sinais emitidos só o terem sido feitos por períodos muito curtos, devido a ser perigoso comunicar. Pode ser ainda que o período de duração da existência das civilizações inteligentes seja muito curto, talvez devido ao facto das civilizações tecnológicas terem tendência para desaparecerem rapidamente, em virtude da sua natureza que as leva a destruírem-se a elas próprias e a outras civilizações.
Outra das hipóteses aventadas que poderia impedir o reconhecimento de outras civilizações tem a ver com o muito diferente grau de desenvolvimento em que cada uma se encontre, impossibilitando a comunicação e entendimento entre elas. Por exemplo, sendo a Terra um planeta jovem (4.540 milhões de anos) como comparar o seu grau de desenvolvimento relativamente ao verificado num grande número de planetas com muitos mais milhões de anos de civilização?


O astrónomo russo Nikolai Kardashev propôs em 1964 uma escala universal para medir os níveis de civilização com base na quantidade de energia usada pelas civilizações, a chamada escala de Kardashev. Segundo ele existiam três níveis de civilização. A civilização de Tipo I que usava e consumia todos os recursos do seu planeta (nós ainda não chegámos completamente a esta fase). A civilização Tipo II que usava e consumia toda a energia da sua estrela (no nosso caso seria o Sol). A civilização Tipo III que usava e consumia toda a energia da sua galáxia (no nosso caso, da Via Láctea).
Especulemos então: se apenas só 1% da vida inteligente sobrevivesse o tempo suficiente para ser uma civilização Tipo III colonizadora de galáxias, na nossa galáxia teríamos 1.000 dessas civilizações. Seriam certamente bastante visíveis os seus efeitos, e contudo, já estamos como Fermi: Onde é que elas se meteram?


Em 1996, o economista Robin Hanson propôs aquilo que ficou conhecido como a hipótese do Grande Filtro. Segundo ele, uma vez que apesar do grande número de estrelas existentes não se tinha ainda observado qualquer sinal de vida extraterrestre, talvez tal se ficasse a dever ao facto de existir como que um filtro que impediria ou reduziria esse desenvolvimento da vida. Esse Grande Filtro apenas facilitaria a passagem a uma ocorrência de tal maneira anómala só possível de acontecer em muito mais de um milhão de ocorrências totalmente anormais. Seria assim como que uma monumental barreira de probabilidades.
Este filtro poderá estar colocado atrás de nós (no nosso passado distante), ou à nossa frente (no nosso futuro).No caso do Grande Filtro estar no nosso passado, isso significaria que já o teríamos passado, e o facto de não termos qualquer contacto com outras civilizações significa que tal acontece por ser extremamente raro o aparecimento de vida inteligente. Ou seja, o aparecimento de vida seria uma daquelas ocorrências anómalas que passaria pelo Grande Filtro. Devemos portanto ser a única civilização na nossa galáxia ou mesmo no universo.
No caso do Grande Filtro se encontrar no nosso futuro, tal sugerirá que a vida evolui periodicamente até onde nos encontramos, mas que vai ter de avançar muito mais até atingir uma inteligência superior de Tipo II e III. O problema é que um Grande Filtro no futuro poderá ser um qualquer acontecimento natural catastrófico que ocorra periodicamente, quer seja devido à proliferação dos raios gama, quer seja pela autodestruição das civilizações ao atingirem um certo nível de tecnologia, quer por qualquer outra razão que nos é desconhecida.
Portanto, se viermos a encontrar vida complexa, fossilizada ou não, em Marte ou arredores, tal significará que afinal a vida poderia ter aparecido tanto na Terra como em Marte, o que torna o seu aparecimento relativamente comum. Assim sendo, o aparecimento da vida não poderá ser considerado como a tal rara anomalia capaz de ter dado origem à ultrapassagem do Grande Filtro. A conclusão a retirar é que neste caso o Grande Filtro só poderá estar à nossa frente, condenando-nos quase inevitavelmente a uma muito provável extinção.

Daí Bostrom dizer que tal “seria a pior notícia que poderíamos ler num jornal”. Dito de outra forma: “No news, good news”.


Lamento o espaço e tempo consumidos com este tipo de notícias, e de que aqui faço eco. Parecem-me no entanto importantes referi-las para que se possa ter a noção da monumental delapidação de recursos, mentais, materiais, humanos, individuais, envolvidos numa procura inútil e que conduzirá, no melhor dos casos, a uma militarização do espaço que nos cerca, numa reprodução mais descarada e controlada do tipo de sociedade em que vivemos.
Das dezenas de milhares de referências, estudos, documentários, séries de televisão, filmes, livros, brinquedos, todos eles assentam no fator comum de se considerar o desenvolvimento tecnológico como índice civilizacional. Se a grande maioria desses recursos tivessem sido aplicados a desenvolver as condições de habitabilidade da Terra, certamente a “nossa casa comum” estivesse hoje diferente.


Nesta coisa de viajar pelo espaço, apesar de tudo, prefiro a ingenuidade dos cristãos que punham as nossas almas a viajarem para um espaço espiritual, por isso sem localização possível no GPS, de onde regressariam (as que regressassem) de novo à Terra no dia do Juízo Final para se juntarem aos seus corpos para finalmente empreenderem uma definitiva jornada rumo a qualquer coisa desmaterializada e desespiritualizada. Não há aqui nada de tecnológico como definidor de avanço. Apenas a intenção de uma melhor vivência humanamente possível.


Também há outro tipo inteligente de viagens no espaço: Quando interrogada por um jornalista sobre o porquê de não fazer viagens, Marguerite Yourcenar, perante o espanto do jornalista respondeu-lhe que tal não era verdade. Ela viajava e muito, “exatamente à velocidade de rotação da Terra”.


Até mesmo quando Timothy Leary (o ‘pai’ da LSD) morreu, viajou para as portas do Céu à espera de vez para entrar. Os Moody Blues recordam esse momento no álbum In the search of the lost chord quando cantam nos versos da “Legend of a Mind”
Timothy Leary´s dead. No, no, no, no, no, he´s outside looking in”.


Apenas uma curta constatação final: a ser verdade que o universo está em expansão, o que é por todos os cientistas admitido, então não teremos nunca possibilidade de entrar em contacto com todos esses mundos novos que estão a serem criados, nem eles terão qualquer possibilidade de entrarem em contacto com os que ficaram para trás. Nem mesmo sendo uma civilização Tipo III. Esses já não poderão votar nas nossas eleições. Trata-se de uma irreversibilidade real. Está ali o Paulo Portas a fazer-me sinais!

 

P.S.: Este artigo foi escrito segundo um acordo ortográfico. As frases em língua estrangeira não impedem a compreensão, pois são em inglês e nem sempre tive o cuidado de evitar os ‘cês’ antes dos ´tês’, e repor os acentos para que a compreensão fosse possível. Quaisquer erros não devem ser imputados a ignorância, mas ao novo culpado público que é o computador.

 

UAU! Ao fim de nove anos, uma sonda terrestre fotografou Plutão a uma altitude de 12.000 metros! Segundo conta uma repórter da TV, os gregos reunidos na praça Sintagma festejaram entusiasticamente este feito.

 

 

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