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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Gilgamesh, o turista-mor

 A natureza feminina como matriz da cultura e da civilização.

A vida é feita de limiares sucessivos cuja superação é a própria essência do viver.

O ser humano é um turista que se passeia para que se continue a passear e a admirar e a “viver” o maravilhoso mundo novo.

 

 

Há 11 anos, Ray Kurzweil, escreveu A Singularidade Está Perto, Quando os Humanos Transcendem a Biologia (The Singularity Is Near, When Humans Transcend Biolog), obra em que nos explicava que, devido aos rápidos e impactantes avanços tecnológicos, acabaremos por chegar a um ponto (singularidade) a partir do qual a vida humana se verá irreversivelmente transformada em todos os seus aspetos, numa total simbiose com o computador.

Será o nascer de uma nova civilização que nos irá permitir transcender as nossas limitações biológicas e ampliar a nossa criatividade. Nesse novo mundo, não haverá uma distinção clara entre o que é humano e o que é máquina, entre realidade real e realidade virtual. Poderemos assumir diferentes corpos e ser a personagem que escolhermos.

Em termos práticos, o envelhecimento e a doença serão revertidos; a poluição acabará; a fome e a pobreza mundiais serão resolvidas, e possivelmente, até a morte terá uma solução.

Não se fala de valores, não se fala de sofrimento, não se fala de alegrias, de desemprego, de guerras, de refugiados, de reformados. O ser humano é um turista que se passeia para que se continue a passear e a admirar e a “viver” o maravilhoso mundo novo.

 

 

Há 4.000 anos aproximadamente, século XX ou XXI a. C., foram inscritos em placas de argila poemas épicos que narravam as aventuras do semideus Gilgamesh, rei da cidade de Uruk (antiga Suméria, sul da Mesopotâmia, atual Iraque).

Essas 12 placas, cada uma com o seu ciclo de aventuras, que foram mandadas reescrever por Assurbanipal e guardadas na sua Biblioteca, em Nínive, durante o século VII a. C., e que constituem uma das mais antigas obras da literatura (1.500 anos antes dos poemas de Homero), estiveram perdidas durante cerca de 2.500 anos, sendo redescobertas em meados do século XIX por um arqueólogo assírio de Mossul, Hormuzd Rassam.

São conhecidas como A Epopeia de Gilgamesh ou o Ciclo de Gilgamesh.

 

 

Breve descrição dos poemas

 

A introdução começa com o elogio de Gilgamesh, que por todo o lado andara e que tudo já vira, e da sua cidade, Uruk. Gilgamesh tinha sido criado pelos deuses, como ser superior a todos os outros, pois era dois terços deus e um terço homem. É apresentado como sendo um herói inquieto, que a tudo vai, que não suporta nenhum rival nem se sujeita a qualquer disciplina, e que oprime os súbditos. Tirânicas são as suas exigências para satisfazer os seus apetites sexuais: a “sua luxúria não poupa uma só virgem para seu amado, nem a filha do guerreiro, nem a mulher do nobre”.

Os habitantes de Uruk acabam por se queixarem aos deuses, pedindo-lhes que criem outro ser de igual força, para que eles se aniquilem entre si e deixem Uruk em paz. Então, Aruru, a deusa da criação, mergulhou as mãos na água e agarrando um pedaço de barro, deixou-o depois cair na selva, criando Enkidu. E assim foi vivendo entre os animais selvagens das planícies, mais animal que homem.

Quando um caçador o viu, atemorizou-se e foi contar a Gilgamesh sobre a força do estranho. Gilgamesh diz-lhe para levar uma meretriz, “uma filha do prazer”, e deixá-la nua junto ao poço. “Ao vê-la acenando, ele a tomará em seus braços e os animais da selva certamente passarão a repudia-lo.” E, assim aconteceu.

Durante seis dias e sete noites, Enkidu e a meretriz permaneceram enlaçados. Finalmente, Enkidu volta para os animais selvagens, mas não só eles começaram a fugir dele, como ele também já não os conseguia acompanhar. “Enkidu perdera a força, pois agora tinha o conhecimento dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam o seu coração.

Entretanto, a mulher ensina-o a vestir-se, a comer pão e a beber cerveja, ao mesmo tempo que lhe vai falando da grande cidade. Quando Enkidu ouve falar do hábito de Gilgamesh de se deitar com as noivas dos outros homens no dia do casamento, fica cheio de raiva e dirige-se para Uruk pronto para enfrentar Gilgamesh.

A meio do combate, bruscamente (por qualquer razão desconhecida) a cólera de Gilgamesh desaparece e os dois adversários beijam-se e abraçam-se. É o princípio de uma longa amizade entre os dois heróis.

Mas a vida alegre e sensual da cidade entristece e debilita Enkidu. Gilgamesh expõe-lhe então o plano de se dirigirem á longínqua floresta dos cedros para matarem o seu temível guardião, Humbaba, cortarem os cedros e expurgarem a terra de tudo o que ela tinha de mau. E, assim fazem.

Durante o regresso a Uruk, a deusa do amor e da luxúria, Ishtar, apaixona-se por Gilgamesh. Juntamente com a promessa da concessão de muitos grandes favores, diz-lhe: “Vem comigo e sê meu consorte; infunde-me a semente de teu corpo; deixa-me ser tua mulher e serás meu marido.” Mas Gilgamesh, sabendo que ela já tivera numerosos amantes e que a todos tinha sido infiel, ridiculariza as suas propostas e repele-a.

Ofendida, Ishtar, convence o seu pai deus do Céu, Anu, a enviar o Touro Celeste a Ukuk a fim de matar Gilgamesh e destruir a sua cidade. O Touro Celeste desce à Terra, devasta a cidade de Uruk e massacra centenas de guerreiros. Mas, Gilgamesh e Enkidu lutam contra o monstro e matam-no.

Então os deuses, receosos da enorme força que os dois juntos tinham, resolvem condenar á morte Enkidu, provocando-lhe uma doença fatal. Doze dias leva Enkidu a morrer, sempre debaixo dos olhos do seu amigo Gilgamesh, esmagado pelo desgosto e pelo sentimento da sua impotência.

Um sentimento amargo obceca o espírito de Gilgamesh: Enkidu morreu e mais tarde ou mais cedo ele próprio terá o mesmo destino. A fama e a glória que os seus feitos lhe tinham valido eram apenas uma fraca consolação. Ele desejava uma mais tangível imortalidade: a do corpo. Precisava procurar e encontrar o segredo da vida eterna.

No passado, apenas um único homem conseguira alcançar a imortalidade, Utnapishtim, o sábio e piedoso monarca da antiga Shuruppak, uma das cinco cidades capitais de reinos que existiam antes do Dilúvio. Gilgamesh decide dirigir-se ao muito distante lugar onde agora vivia Utnapishtim, para que este lhe revelasse o seu segredo.

Percorre montanhas e planícies, exposto aos ataques das feras e à fome. Atravessa por dentro as grandes montanhas com a altura das muralhas do céu, que guardam o nascer e o pôr do sol, continuamente vigiadas pelos homens-escorpião. Depois das doze léguas de intensa escuridão dentro das montanhas, finalmente começa a entrever a luz do sol, acabando por entrar num jardim de arbustos carregados de pedras preciosas.

Junto ao mar primordial que teria de atravessar, encontra uma jovem estalajadeira, Siduri, a quem conta ao que andava. Esta diz-lhe:

 

Jamais encontrarás a vida que procuras. Quando os deuses criaram o homem, eles lhe destinaram a morte, mas a vida eles mantiveram em seu próprio poder. Quanto a ti, enche a tua barriga de iguarias; dia e noite, noite e dia, dança e sê feliz, aproveita e deleita-te. Trata com carinho a criança que te tomar as mãos e faze tua mulher feliz com teu abraço; pois isto também é destino do homem.

 

Atravessadas as “águas da morte”, extenuado, cabelos crescidos e hirsutos, o corpo imundo coberto por peles de animais, o orgulhoso rei de Uruk chega finalmente à presença de Utnapishtim. Mas a conversa com Utnapishtim é dececionante.

Ele conta-lhe a história do pavoroso Dilúvio que os deuses enviaram à Terra para exterminarem todas as criaturas vivas (“O alvoroço dos humanos é intolerável, e o sono já não é mais possível por causa da balbúrdia”). Ele próprio e a mulher teriam também perecido se não tivessem podido abrigar-se no grande navio que o deus da sabedoria, Ea, o tinha aconselhado a construir.

Quanto à vida eterna, tinha sido um dom que os deuses lhe tinham querido dar por ser o único que se conseguira salvar. E pergunta a Gilgamesh:

Quanto a ti, quem irá reunir os deuses por tua causa, de maneira a poderes encontrar a vida que estás buscando?

Sugere-lhe uma alternativa: lutar contra o sono por seis dias e sete noites. Gilgamesh aceita, mas cansado, logo adormece. Finalmente acordado por Utnapishtim, desculpa-se dizendo que mal havia começado a dormir. Para o convencer de que tinha dormido todo o tempo, Utnapishtim tinha dito à mulher para fazer um pão todos os dias e colocá-lo ao lado de Gilgamesh, pois “todos os homens são impostores, até a ti te tentará enganar”.

Desesperado com a sua sorte, Gilgamesh está disposto a regressar a Uruk de mãos vazias. Utnapishtim, a pedido de sua mulher, diz-lhe então que ele poderá encontrar uma planta que cresce no fundo do mar, que tem um espinho que lhe irá ferir as mãos, mas que, uma vez comida, lhe dará a eterna juventude.

Gilgamesh mergulha até ao fundo das águas, consegue colher a planta, mas não a come, resolvendo voltar com ela para Uruk. A meio do caminho de regresso, Gilgamesh pára para tomar banho num poço de água fresca. Uma serpente que vivia no fundo do poço, sentindo o cheiro que emanava da flor, come-a e imediatamente rejuvenesce trocando de pele, voltando de imediato para o fundo do poço.

Gilgamesh fica inconsolável: “Foi para isto que esfolei as minhas mãos? Foi para isto que arranquei sangue do meu coração?”

Chegado a Uruk, recolhe-se à segurança das fortes muralhas que rodeavam a magnífica cidade, mandando gravar na pedra toda a sua história.

 

 

Comentário breve

 

A 3 de dezembro de 1862, o mundo ocidental foi surpreendido por uma comunicação do inglês George Smith, lida na Society of Biblical Archeology. Numa das placas de argila exumadas da biblioteca, há muito soterrada, do rei Assurbanipal, Smith descobrira e decifrara uma versão do mito do Dilúvio que tinha enormes semelhanças com a narrativa muito posterior do Dilúvio contada no Livro do Génesis.

Na continuação das suas pesquisas, deu-se conta que este mito era apenas uma pequena parte de um longo poema a que os próprios babilónios se referiam como Ciclo de Gilgamesh.

Poema que exerceu profunda influência nas diversas literaturas épicas da antiguidade, pois o seu valor dramático transcendia as limitações do tempo e espaço.

Contém temas, problemas e significados que são comuns aos homens de todos os tempos e de todos os países: a necessidade de amizade, o sentido de lealdade, a ânsia de celebridade e glória, o amor à aventura e altos feitos, a absorvente angústia da morte, o irresistível desejo de imortalidade.

 

Vejamos mais em pormenor, ainda que resumidamente, alguns desses temas que aparecem na Epopeia, e sua possível interpretação.

A força e vitalidade atribuídas a Gilgamesh, que tudo procura superar, submeter e possuir, são bem humanas, se entendermos esses extremos de ação como uma forma de lutar contra a possibilidade de cessação de vida.

De notar ainda, que ambos, Gilgamesh e Enkidu, são considerados como tendo sido criados a partir de uma intervenção divina. Contudo, a Gilgamesh é-lhe atribuído uma maior dignidade humana e divina por ter tido origem a partir do ventre de mulher, humana ou divina. Tal não aconteceu com Enkidu, o que o leva a comportar-se inicialmente como as bestas.

 

O processo de transformação de Enkidu em ser humano só se começa a realizar durante o encontro com a meretriz, que representa o ventre e o seio de mulher que lhe faltavam para ser humano, o que curiosamente significa que a sua humanidade não lhe é dada pelo divino, mas por outro ser humano.

Ou seja, a humanização faz-se através de contacto direto: para que haja humanidade tem de haver amplexo humano. O homem não é homem sem um contacto profundamente íntimo com outro humano. Neste caso, o poder civilizador é dado pelo contacto com a mulher. A natureza feminina aparece assim aqui como a matriz da cultura e da civilização. É na mulher que está simbolicamente a humanidade do homem, o que faz dela o reservatório da humanidade.

 

É quando come pão, bebe cerveja, mas principalmente quando contempla pela primeira vez o rosto da mulher, igual ao seu, embora diferente, que se apercebe da semelhança entre seres humanos. Depois, na sua luta com Gilgamesh, ambos acabam por se reconhecer como semelhantes, o humano reconhece o humano, nascendo daí uma primeira relação de verdadeira amizade.

Essa amizade vai potenciar a força de Gilgamesh. Ao reconhecer a humanidade não apenas em si, mas noutro que lhe é semelhante, ao querer o bem de outrem e ao ser também correspondido, estamos perante um novo ser formado pela comunhão de dois seres unidos pela consciência da sua essencial semelhança. E é isto que o torna superior a tudo o resto.

Gilgamesh quer experimentar essa nova força que reforça o seu poder, com novas expedições que acabam por fazer aumentar o temor dos deuses por este seu novo poder. Receosos, os deuses decidem acabar com o problema, eliminando o que está na sua base: a amizade. Segue-se a eliminação do que tem menos dignidade, Enkidu.

 

Gilgamesh vê-se então, pela primeira vez, confrontado com problemas que não tem qualquer possibilidade de resolver. Não só o da morte do amigo, mas também com a possibilidade da sua própria aniquilação, sem nada poder fazer. Abraçado ao amigo morto durante seis dias e sete noites, como que a imitar o ciclo de geração da cortesã, não consegue dar-lhe nova vida: não tem o poder matricial da mulher, não tem ventre que crie.

É o momento do total abandono à angústia, ao desespero, em que o ser humano percebe, pela primeira vez, que se for mesmo assim, então de nada serve viver, pois a vida não tem qualquer sentido, pois qualquer sentido será aniquilado pelo nada. Viver ou ir-se morrendo é o mesmo.

 

Mas, eis que uma memória o visita com a história de um homem que alcançou a imortalidade para si e para a sua mulher. Gilgamesh parte, de imediato, em sua busca. Para onde? Para o oriente, onde o sol, a vida, têm origem.

A travessia pelo interior escuro das montanhas pode equivaler à passagem pelo útero da vida, ou à prefiguração do reino dos mortos, ponto de passagem para a vida que tem de ser vencido e abandonado sob pena de não se ter vida. Do outro lado reaparece um mundo onde reina a luz.

Gilgamesh julga-se já em terreno divino. Engano seu: não passa de um novo limiar. Tal como a vida que é feita de limiares sucessivos cuja superação é a própria essência do viver, também aqui lhe aparece um novo ensinamento.

 

Após ouvir a sua história, a estalajadeira aconselha-o a desistir da do que tem sido a exuberância exterior da sua vida, passando antes a prestar mais atenção à vida no que ela tem de mais efémero, à vida enquanto festa quotidiana da vida, sem a qual não há vida. À importância que cada ação tem no transcurso da vida.

De certa maneira o que ela lhe diz é que “não dar à vida a atenção que a vida merece é incorrer na negação da própria vida, é voltar ao grau zero da vida que é a lama”. E, se for esse o caminho escolhido, o dilúvio se encarregará de levar de enxurrada toda a humanidade.

 

O mesmo conselho lhe é dado pelo imortal Utnapishtim: “Nada busques mais do que a Vida”. Foi assim que ele, Utnapishtim, sobreviveu ao dilúvio. “Deixar tudo o que não interessa”, o que é exatamente o mesmo que prestar atenção a tudo o que interessa. E prestar atenção a tudo o que interessa, é exatamente salvá-lo: para isso serve a “arca da vida”.

 

 

E quando finalmente Gilgamesh consegue colher a flor da juventude, não a come. Reserva-a. Deixa-a ao lado, para primeiro se lavar e aprimorar antes de entrar na cidade, mais preocupado com o seu aspeto exterior, convicto que mais tarde a poderia comer. Como se a vida tivesse depois. A vida não pode ser deixada para depois, ela é o presente. “A refeição do amanhã sonhado é a ilusão da realidade do porvir, o nada futuro da inação do presente.”

 

Gilgamesh, que diziam que tudo tinha visto, o grande conquistador, o senhor das muralhas e dos tijolos, tudo viu, mas não saboreou: o turista-mor.

Passa desconsolado pela vida, morrendo inconsolado. Paradigma de uma humanidade angustiada pela possível perda da possibilidade e em busca desesperada da realização dessa mesma possibilidade, reduzida a uma vontade de fama.

 

Aparentemente, Ray Kurzweil, deve considerar que tudo isto não são mais que limitações biológicas sem qualquer sentido, numa era em que o computador nos pode abrir novos caminhos infinitos de criatividade. Há 4.000 anos que a história de Gilgamesh nos mostra o que é o ser humano, o que deveria ser, porque deveria ser, e como e porque se perde.

Sempre que nos afastarmos deste padrão, estaremos a criar talvez outro ser, mas, certamente que não será o ser humano. Por outro lado, sempre que criarmos computadores que retenham todas, mas todas, essas propriedades humanas, poderemos estar certos que criámos novos seres humanos.

 

Mas, não é isso que Kurzweil nos propõe. Não são os seres humanos complexos, com angústias, medos, alegrias que nos propõe. Propõe-nos Gilgameshes, turistas sempre prontos para a aceitação e gozo de tudo o que de novidade nos quiserem impingir. Turistas que tudo viram, mas não saborearam.

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