Era uma vez na América?
Uma vez
A diminuição do espaço entre cadeiras dos aviões é uma das maiores preocupações dos passageiros, preocupações justificadas até porque esse espaço tem vindo a diminuir, passando das 35 polegadas em 1970 para as 31 polegadas atuais.
Esta é a transcrição de parte do debate que ocorreu no Congresso americano sobre uma emenda proposta com vista ao aumento do espaço entre as cadeiras dos aviões comercias e que foi chumbada.
Durante o debate, membros do Congresso contrários à proposta, divertiram-se até pelo fato de ela ter sido apresentada, rindo-se da ideia.
O Rep. Rodney Davis: “Até aqui nós temos diferentes tamanhos de assentos. Por exemplo, o Sr. Presidente tem um assento maior e será que querem que a Comissão da Administração deva agora estudar os tamanhos dos assentos?”
Ao que o proponente, Rep. Cohen respondeu: “Nós não estamos em aviões acidentados e com 180 pessoas a tentarem sair ao mesmo tempo para salvarem as suas vidas. Isto não é sobre os assentos desta Câmara, Sr. Davis … Isto não é um assunto divertido”.
E prosseguiu dizendo que o mercado não iria resolver o problema por falta de competição. “As companhias aéreas foram desregulamentadas. Existem hoje apenas quatro maiores companhias e elas fazem o que querem, porque podem … Condições de mercado? Já não existem condições de mercado, isto é uma indústria controlada.”
Réplica de Davis: “Já vimos qual é a raiz do problema. O seu problema é com a indústria de transportes aéreos como um todo e não com este estudo específico. Não me parece pois que se deva recomendar à FAA que gaste o dinheiro dos contribuintes naquilo que considero ser um estudo redundante.”
O próprio presidente da comissão, Rep. Bill Shuster, aconselhou os membros da comissão a votarem contra a emenda proposta, o que foi seguido por todos os membros do seu partido, com exceção do representante do Alasca.
As maiores companhias aéreas, a American, Alaskan, Continental, Delta, Hawaiian, JetBlue e a Southwest, estão entre as que mais contribuíram com donativos para a campanha (PAC – Political Action Comittee) da eleição de Bill Shuster, neste caso com 92.000 dólares. As mesmas companhias foram também as que contribuíram para a campanha de Rodney Davis com 40.000 dólares.
Uma vez
A “Future 45” é uma super PAC (comissão de angariação de donativos para a ação política) que tem como seus principais doadores gestores de fundos de cobertura altamente especulativos (hedge funds), nomeadamente Paul Singer, dono da Elliott Management, e Ken Griffin, dono da Citadel, onde cada um deles contribuiu com 250.000 dólares para a campanha de Marc Rubio, candidato pelo partido Republicano à nomeação para a Presidência.
A Future 45 é dirigida por Brian O. Walsh, um operacional do partido Republicano que já foi diretor político da Comissão do Congresso Nacional Republicano, e iniciou recentemente (já anteriormente o alvo fora o episódio líbio de Hillary Clinton) uma campanha de anúncios televisivos contra o salário mínimo nacional proposto por Bernie Sanders dizendo que isso iria fazer perigar as pequenas empresas e aumentar o desemprego, levando posteriormente a um aumento de impostos.
Tudo isto, porque Sanders tinha proposto que uma forma de acabar com as propinas nas universidades públicas seria a criação de um imposto de 0.5 por cento (meio por cento) sobre os fundos de cobertura especulativos, o que iria atingir diretamente os negócios de Singer e Griffin, entre outros.
Aliás, Sanders já tinha chamado a atenção para o fato de “os 25 maiores gestores de fundos de cobertura ganharem mais de 24 biliões de dólares, o que seria o suficiente para pagar o salário a 425.000 professores das escolas públicas”, acrescentando que “Este nível de desigualdade não é moral nem sustentável.”
Uma vez
Lloyd Blankfein, CEO do Goldman Sachs, quando perguntado no programa “60 Minutos” sobre o que pensava sobre as propostas de Bernie Sanders, atual candidato à nomeação pelo partido Democrata à Casa Branca, referentes à Segurança Social e aos Serviços de Saúde (Medicare), disse:
“Vai ter de se fazer qualquer coisa para se baixarem as expetativas criadas no povo, porque Segurança Social para todos e benefícios Médicos não são possíveis de suportar”. Advogou mesmo um aumento de idade a partir da qual se poderia aceder aos programas existentes, acompanhados de outros cortes. “Os direitos têm de ser atrasados e contidos”. Para ele, o que Sanders prometia, podia criar “um momento potencialmente perigoso”.
Falando no Senado, Sanders disse:
“Por vezes não há limites para a arrogância. […] Lloyd Blankfein é o CEO da Goldman Sachs […] Durante a crise financeira o Goldman Sachs recebeu um empréstimo da Reserva Federal no total de 814 biliões de dólares virtualmente com juros zero e ainda 10 biliões de ajuda do Departamento do Tesouro para evitar a falência […] E agora do cimo da sua imensa riqueza vem a Washington para dar lições ao povo americano sobre como se deve de cortar na Segurança Social, Medicare e Medicaid para dezenas de milhões de americanos que esbracejam para conseguirem manter a cabeça à tona d’água.”
A ameaça implícita está lá quando Blankfein alude ao potencial momento perigoso, que se entende perigoso não só para a Wall Street e para as pessoas que viriam a ser atingidas, mas acima de tudo para quem sugerir outra alternativa.
Explicitamente o recado é: Ninguém na Wall Street quer que algum candidato a presidente pergunte porque é que os Estados Unidos não conseguem suportar a Segurança Social mas podem suportar salvar da falência os maiores bancos.
O conceito simplista a reter que não provocará nenhum momento perigoso é certamente o veiculado por Marco Rubio, o candidato Republicano à nomeação para a Presidência, quando declara que para se tornarem ricos os pobres seria necessário tornar pobres os ricos, o que evidentemente não fazia qualquer sentido. A multidão aplaudiu.
Era uma vez a Europa
Como boa aluna que é, ou quer ser, a Europa rapidamente se tem apressado a seguir o modelo. Afinal, na maior parte dos casos, basta só mudar de polegadas para centímetros, e fica tudo com aquela patine cultural que é dela apanágio. Comer com garfo e faca ao mesmo tempo, é indubitavelmente mais requintado, mais civilizado. Só que tudo depende evidentemente das lentilhas que se põem no prato. A multidão aplaude.