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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

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Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Delirante Brasil?

“O Brasil é o país de amanhã. Mas amanhã é feriado”, provérbio carioca.

Se às escutas permanentemente feitas pela NSA às grandes companhias brasileiras juntarmos as normas de atuação previstas no manual GNC, não causará surpresa o aparecimento da operação “Lava jato” e da escolha de S. Paulo para epicentro das movimentações.

O Brasil é o país de amanhã. Mas amanhã não será dos brasileiros”.

 

Quando em 2013 Edward Snowden divulgou documentos que demonstravam à saciedade e à sociedade que as escutas feitas pela NSA não incidiam só sobre quase todos os cidadãos americanos, mas que também envolviam países ‘amigos’, as plataformas noticiosas preocuparam-se em divulgar os Chefes de Estado e governos escutados, perante uma indignação controlada pela chamada de embaixadores que prontamente tudo resolveu com uma mudança diária de telemóveis.

O problema escamoteado é que as escutas se estendiam prioritariamente a todo o tecido empresarial, incindindo particularmente sobre as grandes empresas. Por exemplo, no Brasil, empresas como a Petrobras e a Odebrecht foram consideradas como sendo alvos principais. Tudo isto levou o governo de Dilma Rousseff a decretar que todas as companhias estatais deveriam passar a usar para os seus serviços tecnológicos apenas empresas do estado, o que fez com que, só no espaço de dois anos, as companhias americanas perdessem cerca de 35 biliões de dólares, segundo o que publicou o grupo de pesquisa da Technology & Innovation Foundation.

Factos como o da possibilidade de um país como o Brasil poder construir um submarino nuclear, como a Odebrecht se ter guindado a empresa de construção a nível mundial, e como a Petrobras ter conseguido desenvolver tecnologia capaz de explorar depósitos pré-salinos, o que foi em si a maior descoberta sobre petróleo no século XXI, excluindo do processo todas as “Big Oil” americanas, levaram a que o Brasil passasse a ser considerado como nação “hostil”, se bem interpretarmos o Manual de das Forças Especiais de Guerra Não-Convencional de Novembro de 2010 (http://www.al-akhbar.com/sites/default/files/pdfs/Special_Forces_Report.pdf).

Segundo o Manual, a finalidade dessas Forças Especiais é a de “explorar as vulnerabilidades políticas, militares, económicas e psicológicas de uma potência hostil, através do desenvolvimento e sustentação de forças de resistência por forma a conseguirem concretizar os objetivos estratégicos dos EUA (…) No futuro próximo, as forças dos EUA empenhar-se-ão predominantemente em operações irregulares de guerra não-convencional.

Para ser considerado “hostil” não se torna necessário que um estado se envolva em ações ou ameaças militares para com Washington: basta que esse estado ouse desafiar qualquer aspeto do domínio global da ordem americana. Foi isso que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) fizeram quando forçaram que as trocas e o comércio entre eles fossem feitos nas suas próprias divisas, pondo de lado o dólar; quando criaram o seu próprio banco de desenvolvimento; quando desejaram uma maior integração com a Eurásia, simbolizada na convergência da China com a Rússia na constituição da União Económica da Eurásia e da ‘rota da seda’.

Segundo o referido manual, as características a ter em conta e a desenvolver num movimento de resistência são “a vontade de cooperar com os Estados Unidos”, a existência de “objetivos e ideologia compatíveis” e “capacidade de liderança”. Para se alcançarem objetivos e ideologia compatíveis, utilizam-se “técnicas e mensagens enfatizando o que os diversos grupos poderão ter em comum. Uma vez unidos, novas mensagens serão necessárias para aumentar a moral, reforçar a coesão organizativa, enfatizando os objetivos mútuos.” Torna-se ainda essencial para o sucesso da operação, a existência de uma grande “população média descomprometida”, pois será essa população que poderá vir a ser usada contra os seus líderes políticos. O processo a utilizar poderá ir desde o “apoio à rebelião” (Síria) até à criação de “grande descontentamento através de ações de propaganda, ações políticas e psicológicas, com vista a desacreditar o governo” (Brasil). E à medida que a insurreição aumentar, o mesmo se verificará com a “intensificação da propaganda e da preparação psicológica da população para a rebelião”.

Se às escutas permanentemente feitas pela NSA às grandes companhias brasileiras juntarmos as normas de atuação previstas no manual GNC, não causará surpresa o aparecimento da operação “Lava jato” e da escolha de S. Paulo para epicentro das movimentações.

A existência das escutas sistemáticas e prolongadas no tempo, são o elemento essencial para o desenvolver de um plano de atuação. Sem essas escutas, dificilmente se pode entender como é que um juiz regional, Sérgio Moro, com base numa denúncia de um corretor de divisas a operar no mercado paralelo, teve acesso à enorme documentação da Petrobras. Como é que todos esses documentos sobre uma “célula criminosa” a atuar dentro da Petrobras chegaram à posse do juiz?

O estado de S. Paulo é escolhido para epicentro da operação por ser o mais rico do Brasil, capital económica e financeira da América Latina, integralmente ligada à estrutura de poder nacional e internacional. Basicamente trata-se de mobilizar algumas das famílias ricas que atualmente mandam no país, comprar grande parte do Congresso já comprado, controlar os media mais importantes e legitimar uma tradição intelectual antiga, numa cruzada contra a corrupção e pela defesa da democracia. Isso seria o sinal para a mobilização da classe média.

Pululam vários “movimentos” financiados pelos inefáveis Koch Brothers, que invadem as redes sociais e os protestos de rua. Como é o caso do Movimento Brasil Livre de Kim Kataguiri, filiado na organização estrangeira Students for Liberty, e que pensa indicar cerca de 200 candidatos para as eleições, aliando-se a todos os partidos exceto o PT. Eis algumas das medidas defendidas: privatizações em massa, diminuição drástica de ministérios, cortes nos gastos públicos com programas sociais.

Mas mesmo assim necessitam ainda de uma figura a quem possam diabolizar, atribuírem todos os males: nada melhor que a figura do ex-Presidente Lula. Concretizada que seja a destituição de Dilma pelo imensamente corruto Congresso, aparecerá com muito maior nitidez o único objetivo: acabar com as leis que não permitem a exploração de petróleo pelas Big Oil americanas e acessoriamente com os gastos em programas sociais.

A editora Estúdios Cor publicou em 1965 um livro de Pierre Rondiere intitulado Delirante Brasil? que começava com a citação de um provérbio brasileiro:

“O Brasil é o país de amanhã. Mas amanhã é feriado”.

Estou quase certo que hoje Rondiere escolheria outra citação:

O Brasil é o país de amanhã. Mas amanhã não será dos brasileiros”.

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