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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

A vida é o preço que pagamos pela sobrevivência

A democracia é o pior regime possível, excetuando todos os outros”, W. Churchill

Porque não lutamos contra a carne e o sangue, mas contra os príncipes, contra as autoridades, contra os que governam este mundo de trevas e contra os espíritos do mal que estão nos céus”, S. Paulo in Efésios 6:12.

"A vida é o preço que, em geral, pagamos pela sobrevivência”, Arthur Feldmann.

 

Há uma frase dita por Winston Churchill que vale a pena revisitar: “A democracia é o pior regime possível, excetuando todos os outros”. Esta frase é pronunciada na altura em que era já latente o conflito que opunha as ‘democracias’ ocidentais às ‘democracias´ soviéticas. Tratava-se pois de acrescentar mais um argumento de peso, vindo de uma pessoa muito considerada, chamando a atenção e tentando convencer os mal-informados e indecisos, para o regime de ‘bondade’ em que, apesar de tudo, viviam.
Se reparamos bem no sistema político americano vemos que os dois principais partidos que sempre governaram se arrogam ambos do seu ‘liberalismo’. O ‘republicano’ pondo uma enfâse maior num liberalismo económico, no individualismo do mercado livre, na oposição a uma regulamentação forte por parte do Estado, e o ‘democrático’ pondo uma enfâse maior na igualdade, na solidariedade social, na permissividade. Estas são no entanto as duas faces opostas do mesmo ‘liberalismo’.
Este ‘liberalismo’ pretendeu sempre convencer-nos que era ‘uma política do mal menor’ que permitiria a construção de uma sociedade ‘o menos má possível’ face às ‘ditaduras e totalitarismos’ existentes. É aqui que se inscreve a frase proferida por Churchill.
Comecei por ela porque hoje em dia já ‘ninguém’ a recorda, muito menos sequer a discute. É tido por adquirido que ‘nada se dever querer para além do mal menor’ seja um princípio indiscutível que, não só ninguém se atreve agora a contestar, como acabou por se erigir como princípio da nova ordem global. Este mundo em que vivemos é o melhor de todos os mundos possíveis, tudo o resto não passaram de utopias.

Ou seja, rejeitando as utopias, este mundo acaba por nos impor a sua própria utopia do ‘mercado livre’ que, evidentemente, só se tornará realidade quando nos submetermos aos mecanismos do mercado e dos direitos humanos universais. Estamos lá quase.


Toda esta ‘construção’ assenta num princípio pessimista sobre a natureza humana. O homem é um ser egoísta e invejoso, pelo que se torna impossível arranjar um sistema político baseado na sua bondade e altruísmo. Todas as tentativas feitas nessa base conduziram a regimes de terror (evidentemente não se inclui o nazismo porque isso foi obra de um louco).


E contudo estes conceitos não são obra dos novos capitalistas e seus intelectuais. No século XIII, perante um feudalismo onde os ricos senhores governavam camponeses espoliados e miseráveis, como seria possível conciliar tal realidade com a igualdade pregada pelo cristianismo? Coube a S. Tomás de Aquino encontrar a resposta inteligente, elegante, abrangente que Churchill tão oportunisticamente sintetizou. Dizia então Aquino que muito embora um regime de propriedade comum fosse superior, tal regime só poderia resultar com seres humanos perfeitos. Como a maior parte dos seres humanos vive no pecado, a propriedade privada e a diferença de fortuna aparecem como naturais. Reclamar pois por um igualitarismo torna-se até pecaminoso porque tal significaria estarmos a reclamar para seres imperfeitos o que convém apenas à perfeição. E assim tem sido.


Da mesma Igreja surge S. Paulo que nos diz que aquele estado de coisas acontecia “porque não lutamos contra a carne e o sangue, mas contra os príncipes, contra as autoridades, contra os que governam este mundo de trevas e contra os espíritos do mal que estão nos céus”.


Nem sempre este combate se faz ao nível da exterioridade. Temos primeiro de nos aperceber que o “estado espontâneo das nossas vidas quotidianas é um estado de mentira vivida, e romper com ele requer uma luta constante”. Como o poema de Rilke dizia: “Não há lugar que não te veja. Tens de mudar a tua vida”.


Apesar dos senhores feudais terem desaparecido, substituídos por reis, príncipes, bispos, banqueiros, industriais, financeiros, filantropos, “a vida [continua a ser] é o preço que, em geral, pagamos pela sobrevivência”.

 

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