“As crianças choraram, pois não havia pais presentes para partilhar o momento – os seus pais tinham sido mortos pelo exército israelita”, disse um observador.
Mais de mil crianças palestinianas, órfãs devido ao ataque genocida de Israel a Gaza, participaram segunda-feira numa cerimónia agridoce de graduação numa escola especial para órfãos no sul do enclave sitiado, enquanto as forças israelitas continuavam a sua campanha de aniquilação e limpeza étnica nas proximidades apoiada pelos EUA.
Vestindo becas e bonés e agitando bandeiras da Palestina, os formandos da escola da Aldeia de Órfãos de al-Wafa, em Khan Younis — inaugurada no início deste ano pela terapeuta da fala Wafaa Abu Jalala — receberam os seus diplomas sob o olhar orgulhoso de alunos e funcionários. Foi um acontecimento notável, dado o tremendo sofrimento dos palestinianos em Gaza, especialmente das crianças, e a destruição da infraestrutura educativa da Faixa por Israel, frequentemente chamada de escolasticídio.
Os organizadores disseram que o acontecimento foi o maior do género desde que Israel começou a arrasar Gaza após o ataque liderado pelo Hamas, a 7 de outubro de 2023. O ataque e o cerco de Israel, que são objeto de um processo de genocídio perante o Tribunal Internacional de Justiça, mataram já mais de 62.000 palestinianos, incluindo mais de 18.500 crianças – um número oficial de mortes que está provavelmente muito aquém do esperado.
O Gabinete Central de Estatísticas da Palestina informou em Abril que quase 40 mil crianças em Gaza perderam um ou ambos os pais devido às bombas e balas israelitas, chamando-lhe a "maior crise de órfãos" da história moderna. Outros grupos independentes afirmam que o número de órfãos é ainda maior numa guerra em que os profissionais médicos cunharam uma nova sigla sombria: WCNSF – wounded child, no surviving family (criança ferida, sem família sobrevivente).
Centenas de milhares de outros palestinianos estão a morrer de fome naquilo a que a Amnistia Internacional chamou na segunda-feira uma "campanha deliberada". Milhares de crianças de Gaza são tratadas por subnutrição todos os meses, e pelo menos 122 morreram de fome, segundo as autoridades locais.
No início da guerra, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) chamou a Gaza "o lugar mais perigoso do mundo para se ser criança". No ano passado, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, juntou Israel pela primeira vez à sua chamada "Lista da Vergonha" de países que matam e ferem crianças durante guerras e outros conflitos armados. Médicos e outros, incluindo voluntários dos EUA, documentaram muitos casos em que concluíram que atiradores israelitas e outras tropas dispararam deliberadamente sobre a cabeça e o peito de crianças.
Há também mais crianças amputadas em Gaza do que em qualquer outro lugar do mundo, estimando as agências da ONU, no início deste ano, que entre 3.000 e 4.000 crianças palestinianas tiveram um ou mais membros removidos, por vezes sem anestesia. A administração do presidente norte-americano, Donald Trump — que fornece a Israel muitas das armas utilizadas para matar e mutilar crianças palestinianas — suspendeu recentemente a emissão de vistos para amputados e outras vítimas que procuram tratamento médico nos EUA.
Tudo o acima referido é a causa para o que uma mãe de Gaza chamou de "destruição psicológica completa" das crianças no enclave em conflito.
De facto, um inquérito de 2024 a mais de 500 crianças palestinianas em Gaza revelou que 96% delas temem a morte iminente, 92% não aceitam a realidade, 79% sofrem de pesadelos, 77% evitam discutir acontecimentos traumáticos, 73% apresentam sinais de agressividade, 49% desejam morrer por causa da guerra e muitas outras "mostram sinais de abstinência e ansiedade severa, juntamente com uma sensação generalizada de desesperança".
Iain Overton, diretor executivo do grupo britânico Action on Armed Violence, afirmou na altura da publicação da investigação que "o fracasso do mundo em proteger as crianças de Gaza é uma falha moral a uma escala monumental".
Fomos criados para viver no Paraíso, e o Paraíso foi destinado para nos servir.
Fomos expulsos do Paraíso, mas o Paraíso não foi destruído.
O realizado não pode ser anulado, mas apenas confundido.
O mundo visível como uma tentativa de falsificar a realidade do conhecimento, de ver o conhecimento como um fim ainda a ser alcançado.
Para além das novelas mais comummente conhecidas de Franz Kafka (1883-1924), existem um sem número de deliciosas pequenas histórias e de parábolas, algumas das quais permanecerão para sempre profundamente atuais por representarem maneiras de estar, sentir e interpretar a realidade que perduram, quase como de mitos se tratassem. Como por exemplo, esta sobre o que é o “Paraíso”:
“Segundo o seu significado principal, a expulsão do Paraíso é eterna: consequentemente, a expulsão do Paraíso é final e a vida neste mundo é irrevogável, mas a natureza eterna da ocorrência (ou, expressa temporalmente, a recapitulação eterna da ocorrência) torna possível, no entanto, que não apenas possamos viver continuamente no Paraíso, mas que de facto lá estejamos continuamente, não importando se aqui o sabemos ou não.
Por que lamentamos a queda do homem? Não fomos expulsos do Paraíso por causa disso, mas por causa da Árvore da Vida, para que dela não comêssemos.
Somos pecadores não apenas porque comemos da Árvore do Conhecimento, mas também porque ainda não comemos da Árvore da Vida. O estado em que nos encontramos é pecaminoso, independente de culpa.
Fomos criados para viver no Paraíso, e o Paraíso foi destinado para nos servir. O nosso destino foi alterado; mas isso também aconteceu com o destino do Paraíso e tal não é afirmado.
Fomos expulsos do Paraíso, mas o Paraíso não foi destruído. De certo modo, a nossa expulsão do Paraíso foi um golpe de sorte, pois, se não tivéssemos sido expulsos, o Paraíso teria de ser destruído.
Deus disse que Adão teria que morrer no dia em que comesse da Árvore do Conhecimento. De acordo com Deus, o resultado instantâneo de comer da Árvore do Conhecimento seria a morte; segundo a serpente (pelo menos assim se pode entender), o mesmo aconteceria com Deus. Ambos estavam errados de maneiras semelhantes. Os homens não morriam, mas tornavam-se mortais; não se tornavam como Deus, mas recebiam a capacidade indispensável para o ser. Ambos estavam certos de maneiras semelhantes. O homem não morreu, mas sim o homem paradisíaco; os homens não se tornaram Deus, mas conhecimento divino.
Ele é um cidadão livre e seguro do mundo, pois está preso a uma corrente que é suficientemente comprida para lhe dar a liberdade de todo o espaço terrestre, e ainda assim não tão comprida que nada possa arrastá-lo para além das fronteiras do mundo. Mas, simultaneamente, ele também é um cidadão do Céu livre e seguro, pois também está preso por uma corrente celestial projetada de forma semelhante. De modo que se ele se dirige, digamos, para a terra, o seu colar celestial estrangula-o, e se ele se dirige para o céu, o colar terrestre faz o mesmo. E, no entanto, todas as possibilidades são dele, e ele sente isso, mais, ele realmente recusa-se a explicar o impasse por um erro no grilhão original.
Desde a Queda, temos sido essencialmente iguais na nossa capacidade de reconhecer o bem e o mal; no entanto, é justamente aqui que procuramos mostrar a nossa superioridade individual. Mas as diferenças reais começam para além desse conhecimento. A ilusão oposta pode ser explicada assim: ninguém pode ficar contente com o mero conhecimento do bem e do mal em si, mas deve também esforçar-se para agir de acordo com ele. A força para fazê-lo, porém, também não lhe é dada, consequentemente ele deve destruir-se a intentar fazê-lo, sob o risco de não conseguir a força necessária mesmo assim; contudo, nada mais lhe resta a não ser esta tentativa final. (Além disso, esse é o significado da ameaça de morte ligada à Árvore do Conhecimento; talvez também isso fosse o significado original da morte natural.) Agora, diante dessa tentativa, o homem está cheio de medo; ele prefere anular o seu conhecimento do bem e do mal (o termo "a queda do homem" pode ser atribuído a esse medo); no entanto, o realizado não pode ser anulado, mas apenas confundido. Foi com esse propósito que as nossas racionalizações foram criadas. O mundo inteiro está cheio delas, na verdade todo o mundo visível talvez não seja nada mais do que a racionalização de um homem que quer encontrar a paz por um momento. Uma tentativa de falsificar a realidade do conhecimento, de ver o conhecimento como um fim ainda a ser alcançado.”
Nota 1: Pequenos escritos como este, encontram-se espalhados por várias organizações e editores, o que tem dificultado o seu acesso para a maior parte dos seus leitores, o que é pena. Deixo aqui alguns links que ajudarão nessa recolha.
Nota 2: Sobre o Paraíso sugiro a leitura do blog de 17 de março de 2021, “Pecado no Paraíso”, com base numa interpretação de Giorgio Agamben.
Não estou entre aqueles que afirmam que o progresso possa ser dado como garantido, que a humanidade não possa retroceder, A. Blanqui.
A história humana é definida por longos períodos de esterilidade cultural e de repressão brutal, C. Hedges.
Entre 1490 e 1890, a colonização europeia foi responsável pela morte de pelo menos 100 milhões de indígenas, D. Stannard.
Permanece a dicotomia entre quem somos e quem dizemos ser.
Existem pelo menos duas linhas principais de interpretação sobre o que se considera ser “progresso”. Uma, mais tradicional e maioritária, entende a história humana como sendo fruto cumulativo de uma progressão linear conducente a uma maior igualdade e moralidade (preconizado pelos positivistas, por Friedrich Hegel e Karl Marx, por algumas religiões morais, etc.), e outra, que acredita que o progresso não pode ser tomado como garantido e que a humanidade não possa retroceder (como preconizava Louis-Auguste Blanqui).
Blanqui, participante ativo numa série de revoltas do século XIX em França, nomeadamente na insurreição armada de maio de 1839, no levantamento de 1848 e na Comuna de Paris, entendia que a crença no progresso linear propalado pelos positivistas (“Notes on Positivism”, pdf) não era mais que uma forma que os opressores utilizavam para desapoderar os oprimidos:
“Todas as atrocidades do vencedor, a longa série dos seus ataques, transformam-se friamente numa evolução constante e inevitável, como a da natureza... Mas a sequência das coisas humanas não é inevitável como a do universo. Pode ser alterada a qualquer momento”.
O avanço científico e tecnológico, em vez de ser um exemplo de progresso, poderia “tornar-se uma arma terrível nas mãos do Capital contra o Trabalho e o Pensamento”. E isto porque:
“[…] a humanidade nunca é estacionária. Avança ou recua. A sua marcha progressiva leva-a à igualdade. A sua marcha regressiva recua, passando por todos os estágios de privilégio, até à escravatura humana, a palavra final do direito à propriedade” (“Who Makes the Soup, Should Eat It”, pdf).
“Não estou entre aqueles que afirmam que o progresso possa ser dado como garantido, que a humanidade não possa retroceder” (“Auguste Blanqui, heretical communist”, pdf).
Chris Hedges, no seu artigo “The New Dark Age”, vem também dizer-nos que “a história humana é definida por longos períodos de esterilidade cultural e de repressão brutal. A queda do Império Romano levou à miséria e à repressão em toda a Europa durante a Idade das Trevas, aproximadamente do século VI ao XIII. Houve perda de conhecimento técnico, incluindo a construção e manutenção de aquedutos. O empobrecimento cultural e intelectual levou à amnésia coletiva. As ideias dos estudiosos e artistas antigos foram apagadas. Não houve renascimento até ao século XIV e ao Renascimento, um desenvolvimento possibilitado em grande parte pelo florescimento cultural do Islão, que, através da tradução de Aristóteles para árabe e de outras realizações intelectuais, impediu que a sabedoria do passado desaparecesse.”
Mas não precisamos recuar até aos tempos dos romanos e das invasões que se seguiram para nos apercebermos das atrocidades, selvajarias e genocídios cometidos ao longo das recentes últimas centenas de anos de pilhagens e explorações, evidentemente sempre sobre os mais fracos.
Recordemos, por exemplo, a Conferência de Berlim (1884-85) na qual África foi repartida entre as potências europeias, numa enorme anexação de terras e povos que torna a ocupação de Gaza uma brincadeira de crianças.
Lembremos, de passagem, o muito reverenciado rei Leopoldo II da Bélgica, que no final do século XIX ocupou o Congo, tornando-o no Estado Livre do Congo, sua propriedade privada, em nome da civilização ocidental e do anti esclavagismo, mas o que fez foi saquear o país, resultando na morte — por doença, fome e brutal assassinato — de cerca de 10 milhões de congoleses.
E para um apalpar do sentir desses tempos (que parecem continuar a serem os nossos na medida em que permanece a dicotomia entre quem somos e quem dizemos ser) recomenda-se a leitura de duas obras de Joseph Conrad, o romance "Coração das Trevas" e o conto "Um Posto Avançado do Progresso" (que serviram de guião a Francis Coppola para o Apocalypse Now), e do importante mas voluntariamente esquecido Le rapport Brazza, Mission d’enquête du Congo: rapport et documents (1905-1907).
Só a partir de 1951 (data em que entrou em vigor a Convenção sobre Genocídio da ONU), podem-se contar mais de uma dúzia de genocídios, incluindo o do Bangladesh, do Camboja, da Guatemala, do Ruanda, da Bósnia.
Todas estas matanças e genocídios perpetrados nas Américas, África, Índias, como que fazem que eles possam ser vistos como um traço caraterístico da dominação da nossa civilização.
E o pior é que não lhe atribuímos importância e nem queremos ver que assim é. É como se o único genocídio que contasse tivesse sido apenas o praticado por Hitler (até no genocídio Hitler teria de ser o maior), e culpa exclusiva dele, pelo que tudo que se passe depois não tenha qualquer importância. A sombra de Hitler serve-nos como desculpa.
O problema de vasculhar o mundo à procura de monstros para destruir é que eles têm uma maneira para nos seguir até casa, A. P. Napolitano.
As guerras estrangeiras ofensivas não espalham a liberdade; espalham a violência, John Quincy Adams.
Os presidentes podem agora legalmente – mas não constitucionalmente – enviar pequenos exércitos de agentes federais fardados com uniformes militares e transportando equipamento militar para qualquer país que o presidente escolher, a fim de resgatar alguém que odeie ou tema.
Andrew P. Napolitano, ex-juiz do Supremo Tribunal de Nova Jérsia, EUA, e analista judicial sénior no canal Fox News, publicou recentemente (11 de julho de 2025) no Original.Antiwar.Com, o artigo “Searching for Monsters”, que me parece ser importante quanto baste para dele se tomar conhecimento. Aqui fica a sua tradução integral:
“A América não vai para o estrangeiro à procura de monstros para destruir...
Ela poderia tornar-se a ditadora do mundo, mas já não seria a governante do seu próprio espírito.”
John Quincy Adams (1767-1848)
A meio do seu mandato como Secretário de Estado, o futuro Presidente John Quincy Adams solicitou autorização para discursar numa sessão conjunta do Congresso. Tal pedido é inédito nos tempos modernos. O que é que ele tinha em mente?
Os Estados Unidos tinham terminado a Guerra de 1812 com a Grã-Bretanha. Fora travada quase inteiramente no Canadá. Alguns historiadores acreditam que os britânicos iniciaram esta guerra para reconquistar as suas antigas colónias. Alguns acreditam que os EUA a começaram para tomar o Canadá à Grã-Bretanha. Adams andava preocupado que o cancro da guerra estivesse novamente a espalhar-se por todas as instituições (establishment) de Washington e queria eliminá-lo.
Avançando para 1992, os EUA travavam outra guerra estrangeira infrutífera, desta vez utilizando a CIA e a Agência Antidroga (DEA) – para evitar os procedimentos legais que exigem a comunicação de conflitos militares ao Congresso e a necessidade de uma declaração de guerra por parte do Congresso. Foi a guerra contra a droga que os EUA travavam contra o governo mexicano e os civis mexicanos.
Em plena guerra, o governo de George H.W. Bush decidiu raptar estrangeiros que tinham violado as leis americanas noutros locais e responsabilizá-los aqui. A teoria por detrás desta arrogância imperialista era que estas pessoas tinham prejudicado os americanos no México, ao oporem resistência à violência das guerras americanas da droga, e nos EUA, ao fazerem com que as drogas acabassem aqui.
Não importa que as drogas sejam compradas e consumidas voluntariamente, e não importa que o Supremo Tribunal já tivesse decidido que cada um de nós é dono do seu corpo e o que fazemos com ele em privado não é uma questão regulamentar de interesse federal.
O Supremo Tribunal decidiu que o rapto foi legal porque os tribunais não se preocupam com a forma como o arguido fora levado a tribunal; preocupam-se apenas com o que acontece depois. Além disso, como o tratado de extradição entre os EUA e o México não mencionava o rapto governamental, era, portanto, legal.
Esta interpretação distorcida dos primeiros princípios, entre os quais o de que o governo deve cumprir as leis que aplica, levou à utilização de agentes do FBI, da CIA e da DEA para raptar estrangeiros em países estrangeiros que alegadamente causaram danos a pessoas ou bens americanos.
Por mais terrível que tudo isto seja, a legislação americana sempre exigiu um nexo de dano americano, que determinava que o sequestro governamental só poderia ser justificado como um passo inicial para reparar os danos criminais efetivamente causados pela pessoa sequestrada a uma pessoa ou propriedade americana.
Depois, em 2022, o Congresso alargou a autoridade dos tribunais federais de forma a abranger os crimes cometidos em países estrangeiros contra pessoas ou bens estrangeiros. Ao remover o nexo de dano americano, o Congresso permitiu que o governo federal acusasse quem quisesse por crimes cometidos em países estrangeiros contra vítimas estrangeiras, e determinou que os tribunais federais julgassem estes casos.
Isto levou a mais raptos por parte do governo dos EUA e a uma expansão do poder presidencial de capturar adversários políticos ou jornalísticos no estrangeiro apenas para os silenciar. Também deu aos presidentes americanos outra ferramenta para uma guerra discreta, uma vez que agora podem legalmente – mas não constitucionalmente – enviar pequenos exércitos de agentes federais vestidos com uniformes militares e transportando equipamento militar para qualquer país que o presidente escolher, a fim de resgatar alguém que odeie ou tema.
Isto não é o Estado de Direito. Isto é o Estado da Força Bruta. E como nenhum americano precisa de ser ferido e nenhuma lei americana precisa de ser violada, o presidente pode visar literalmente qualquer estrangeiro que escolher. Para que ninguém pense que os meus avisos são fantasiosos, isso já aconteceu.
Quando o ex-Presidente Barack Obama enviou drones para matar americanos e os seus companheiros estrangeiros no Iémen em 2011 – nenhum dos quais tinha sido acusado de um crime americano e todos estavam cercados por agentes americanos durante as últimas 48 horas das suas vidas – justificou os seus assassinatos argumentando que matou menos pessoas com os seus drones do que essas pessoas poderiam ter matado se estivessem vivas.
Esta justificação tortuosa e perversa é uma rejeição completa dos princípios do direito natural e do devido processo legal, que proíbem terminantemente o primeiro uso de agressão contra terceiros e exigem julgamentos por júri antes da punição.
Na semana passada, o general Hugo Carvajal, antigo chefe dos serviços de informação militar da Venezuela, declarou-se culpado num tribunal federal da cidade de Nova Iorque por tráfico de droga na Venezuela. Tinha sido raptado em Espanha, onde vivia reformado, até que os agentes americanos o levaram. Que informações trocará pela sua liberdade?
Se é legal o governo dos EUA entrar num país estrangeiro e sequestrar uma pessoa estrangeira, é legal o governo chinês entrar no Havai e sequestrar um executivo ou político americano da área da tecnologia? Podem os EUA raptar um soldado russo que matou um civil ucraniano e julgá-lo aqui? Segundo a decisão do Supremo Tribunal de 1992 e a legislação de 2022: SIM.
Thomas Paine alertou que a paixão por punir é perigosa para a liberdade, até mesmo para a liberdade daqueles que punem. Muitas vezes, isto leva a interpretações tão distorcidas das leis que as tornam irreconhecíveis. "Aquele que deseja garantir a sua própria liberdade deve proteger até o seu inimigo da opressão; pois, se violar este dever, estabelece um precedente que o atingirá."
Ainda não aprendemos a lição do 11 de Setembro. O problema de vasculhar o mundo em busca de monstros para destruir é que eles têm uma maneira de nos seguir até casa.
Mesmo que resida legalmente numa cidade por lhe ter sido concedida uma licença, nenhum africano possui o direito de ter consigo mulher e filhos. Estes somente poderão residir com ele caso lhes sejam obtidas autorizações em separado, Lei Bantu de Consolidação, nº25 de 1945.
Qualquer jovem africano de 16 anos de idade que tenha abandonado a escola e viva em casa mantido pelos pais, sem trabalhar, pode, a qualquer momento e sem testemunhas, ser detido por um polícia que tenha razões para concluir que “ele seja um vadio”, Ibid, secção 29.
O Ministro do Trabalho, agindo só a recomendação do Tribunal Industrial (constituído por cinco membros brancos por ele designados) pode, em qualquer momento, (a) reservar qualquer classe específica de trabalho apenas às pessoas brancas; (b) prescrever a percentagem de africanos que se podem empregar ao serviço de um patrão qualquer; (c) proibir a todos os patrões substituir empregados brancos por empregados africanos, Lei de Conciliação Industrial, nº28 de 1956.
O Centro Contra o Apartheid das Nações Unidas, em Nova Iorque, publicou em 1977 um estudo preparado por Leslie Rubin intitulado O “Apartheid” na prática, de que abaixo deixo uma sumula de alguns excertos que nos tempos em que vivemos nos podem servir como indicativo da aproximação ou afastamento relativamente à sociedade que pretendemos fazer parte, para o qual bastará por vezes simplesmente substituir nomes: “africano” por imigrante, “comunista” por socialista, etc.
O autor chama-nos a atenção para o facto de a “lista de leis a que se refere não ser exaustiva. Vários decretos – tanto estatutos como proclamações e regulamentações – foram omitidos. Os que aqui se incluem foram escolhidos, após meticulosas considerações, por constituírem as leis mais importantes que afetam, direta ou indiretamente, os direitos civis dos africanos, mestiços e asiáticos na África do Sul”.
Raça e Cor
Uma pessoa branca é “(a) uma pessoa cuja aparência é obviamente a de uma pessoa branca e que não é vulgarmente reconhecida como mestiça ou (b) uma pessoa vulgarmente aceite como uma pessoa branca e cuja aparência não deixa absolutamente de ser a de uma pessoa branca; no entanto, mesmo uma pessoa cuja aparência seja branca e que seja como tal reconhecida não será assim classificada «se um dos seus pais naturais tiver sido classificado como membro de outra raça».
Um africano é “uma pessoa que seja, de facto, membro de uma raça ou tribo aborígene da África ou vulgarmente aceite como tal”.
Um mestiço é “uma pessoa que não seja nem branca nem africana”.
Todas as pessoas com idade superior a 16 anos devem possuir um cartão de identidade que inclui uma fotografia e que as descreve como ma pessoa branca, mestiça ou africana. Se o portador é um africano, o cartão deve mencionar, adicionalmente, o grupo étnico ou a tribo à qual pertence.
Um oficial autorizado pode, em qualquer momento, exigir a qualquer pessoa a apresentação do seu cartão de identidade, dentro de um prazo máximo de sete dias, no posto de polícia indicado por esse oficial. A não apresentação do mesmo constitui um delito punível com multa mínima de R 100.
Uma pessoa é suposta “admitir voluntariamente que é, por descendência, mestiça” caso tenha admitido que nenhum dos seus pais naturais foi, no passado, “vulgarmente reconhecido como uma pessoa branca”.
Uma pessoa que não seja de facto um africano, mas “cuja aparência seja indubitavelmente a de um africano”, será como tal classificada no registo populacional, a menos que venha a provar não ser, de facto, um africano, nem vulgarmente reconhecido como tal.
Um homem “cuja aparência seja evidentemente uma pessoa branca” deverá ser classificada como mestiço, caso um dos seus pais naturais tenha sido classificado como branco e o outro como uma pessoa mestiça.
Para decidir se uma pessoa é ou não “obviamente uma pessoa branca, na aparência”, o oficial interessado deve levar em conta “os hábitos, a educação, a postura e o comportamento em geral” dessa pessoa.
Se uma pessoa é incapaz de provar que ela é “vulgarmente aceite como uma pessoa branca”, será classificada como sendo “vulgarmente reconhecida como uma pessoa mestiça”, a menos que seja, “pela aparência, obviamente um africano”.
Se uma pessoa cuja aparência é obviamente a de um branco for “vulgarmente reconhecida como uma pessoa branca” na área onde está empregada, mas como tal não for aceite na área onde reside, não poderá ser classificada como uma pessoa branca.
Mesmo 25 anos após uma pessoa ter sido classificada como branca no registo populacional e provida de cartão de identidade correspondente, o Secretário do Interior tem o direito de requerer a reclassificação da mesma, remetendo o caso a um conselho cuja decisão será final e ditada por força da lei.
Casamentos, Assembleias e Associações
Um africano que tenha vivido durante 50 anos consecutivos na sua cidade natal não tem direito a receber a visita de um amigo africano por mais de 72 horas.
É ilegal para um branco e um africano o facto de tomarem juntos uma chávena de chá num café situado em qualquer local da África do Sul, a menos que tenham recebido autorização especial para fazê-lo.
Se um negro (i. e., um asiático, mestiço ou africano) se sentar num banco de uma praça pública que tenha sido reservado ao uso exclusivo de pessoas brancas, como forma de protesto contra as leis do apartheid, comete um delito criminal punível com multa mínima de R 600 ou detenção por três anos, ou punição física de dez chibatadas.
Se numa estação de caminho de ferro há apenas uma sala de espera, a lei determina que o chefe da estação deve reservar a mesma ao uso exclusivo de pessoas brancas e qualquer negro que lá entre intencionalmente comete uma infração criminal punível com multa mínima de R 100 ou pena de prisão durante três meses, ou ambos os castigos.
São proibidos os casamentos entre pessoas brancas e mestiças, asiáticas ou africanas. Se uma cerimónia matrimonial for elaborada pelo oficial competente entre um homem branco e uma mulher mestiça, por exemplo, fazendo-se esta última passar por branca, o casamento será nulo e sem efeito.
Um homem casado ou solteiro que seja “na aparência, obviamente” um branco ou “vulgarmente aceite e reconhecido” com tal e que pretenda ter relações sexuais com uma mulher que não seja “obviamente, na aparência” uma pessoa branca, nem “vulgarmente aceite e reconhecida” como tal, é culpado de delito criminal punível com pena de prisão com trabalhos forçados durante um período mínimo de sete anos.
Lar, Família e Residência
Um africano que tenha nascido e vivido em determinada cidade durante 50 anos consecutivos e tenha então deixado a mesma para residir em outro local por qualquer período, não está autorizado a regressar à sua cidade natal e lá permanecer por mais do que 72 horas.
Um africano que tenha nascido e vivido sem interrupção em certa cidade não dispõe do direito de ter com ele, nessa cidade, uma filha casada, um filho maior de 18 anos, uma sobrinha, sobrinho ou neto, por período superior a 72 horas.
Um polícia está autorizado a passar busca à residência de qualquer jovem africano menor de 18 anos, sem necessitar para tal e,” a qualquer hora razoável do dia ou de noite”, caso tenha motivos para suspeitar que este esteja a cometer o delito criminal de residência com seu pai sem a necessária licença.
Mesmo que resida legalmente numa cidade por lhe ter sido concedida uma licença, nenhum africano possui o direito de ter consigo mulher e filhos. Estes somente poderão residir com ele caso lhes sejam obtidas autorizações em separado.
Qualquer jovem africano de 16 anos de idade que tenha abandonado a escola e viva em casa mantido pelos pais, sem trabalhar, pode, a qualquer momento e sem testemunhas, ser detido por um polícia que tenha razões para concluir que “ele seja um vadio”.
Sempre que se julgar “conveniente para o interesse público geral”, um africano pode ser intimado, por ordem oficial e sem aviso prévio, a abandonar a sua casa e a mudar-se para qualquer outro local da África do Sul, lá permanecendo por um período prescrito, sem direito de recorrer a um tribunal.
A legislação sul-africana prevê a divisão de todas as cidades em “áreas de grupo” separadas, nas quais apenas os membros dos “grupos” brancos ou mestiços podem possuir terras ou propriedades.
Uma pessoa “obviamente branca” que esteja casada ou que coabite com um africano ou mestiço está incluída no grupo africano ou mestiço, conforme o caso.
O Presidente da República pode, “cada vez que se julgar oportuno”, declarar que uma área até então definida até então ocupada por pessoas mestiças aí possuidoras de terras deverá passar a ser uma área de grupo branco, a partir de uma data específica.
Desde que tal área tenha sido declarada de grupo branco, uma pessoa de origem mestiça lá residente não poderá permanecer por período maior que o do prazo dado que o Ministério do Interior lhe concederá, a seu critério.
Qualquer africano pode ser proibido, a qualquer momento, de permanecer em qualquer cidade durante determinadas horas do dia ou da noite especificadas no Diário Oficial, a menos que esteja na posse de uma licença escrita assinada pelo seu patrão ou por um oficial autorizado.
Todos os africanos com idade superior a 16 anos devem possuir um livro de referências. Qualquer polícia pode, quando bem entender, exigir de um africano a apresentação do mesmo. Caso este não o puder exibir por o ter esquecido em casa, será culpado de delito criminal e punido com uma multa mínima de R 20 ou prisão durante um mês.
O Ministro do Trabalho, agindo só a recomendação do Tribunal Industrial (constituído por cinco membros brancos por ele designados) pode, em qualquer momento, (a) reservar qualquer classe específica de trabalho apenas às pessoas brancas; (b) prescrever a percentagem de africanos que se podem empregar ao serviço de um patrão qualquer; (c) proibir a todos os patrões substituir empregados brancos por empregados africanos.
Controlo da Lei
Qualquer polícia pode, sem dispor de mandato, invadir propriedades nas quais esteja decorrendo uma reunião caso suponha, com fundamentos por ele considerados “razoáveis”, que a segurança interna da África do Sul está ameaçada devido a essa mesma reunião e seja de opinião de que a obtenção de um mandato causaria sérias demoras.
Qualquer pessoa que quebre vidros de um prédio (inclusive de uma residência privada), durante uma demonstração em favor da concessão de maior número de direitos ao povo africano, é culpada de “delito de sabotagem”, a menos que prove não ter sido o seu acto praticado para encorajar sentimentos de hostilidade entre pessoas brancas e africanos. O delito é punível com a pena de morte.
Se o Ministro da Justiça chegar à conclusão de que uma pessoa pode encorajar a realização de qualquer um dos objetivos do “comunismo”, ele poderá, através de uma notificação dirigida a essa pessoa, proibi-la, durante um período por ele prescrito: (a) de permanecer numa área determinada; (b) de sair do local onde reside, do anoitecer até ao amanhecer, nos dias de semana, bem como durante todas as tardes de sábado, domingos e feriados públicos; (c) de receber visitantes em sua casa durante o período prescrito; (d) de comparecer a um concerto, conferência, ou casamento, ou funeral de um membro de sua família; (e) de continuar no seu trabalho, caso o mesmo envolva o ensino ou atividades sindicais.
Qualquer pessoa que, na opinião do Ministro da Justiça, é capaz de fornecer informações sobre atividades subversivas, poderá ser detida com isolamento durante um período de 90 dias e por um número ilimitado de períodos de 90 dias, subsequentemente. Nenhum tribunal judiciário tem o direito, em qualquer circunstância, de ordenara libertação dessa pessoa.
Se o Ministro da Justiça chegar à conclusão de que uma pessoa que esteja a cumprir uma pena e prisão é capaz de encorajar ou defender a realização de qualquer dos objetivos do “comunismo”, ele poderá ordenar à mesma que, após cumprida a sua sentença, seja detida indefinidamente na prisão.
Um africano que seja encontrado, em qualquer local, de posse de uma arma de fogo, e se mostre incapaz de provar que o seu ato não foi calculado ou projetado para “encorajar sentimentos de hostilidade” entre brancos e africanos, é culpado de delito de sabotagem e passível de pena de morte.
Nenhum africano é autorizado a ser membro de um júri formado para um processo penal, mesmo que o acusado seja um africano.
O Ministro da Justiça pode, através de uma notificação lançada a qualquer momento, ordenar a uma pessoa, cujo nome conste da lista do Inquiridor, para se apresentar no posto de polícia por ele designado, por uns tantos dias em cada semana e nas determinadas horas de cada dia que ele decidir.
Uma pessoa (descrita, segundo a lei, como “terrorista”) que tenha enviado a africanas cartas suscetíveis de “encorajar sentimentos de hostilidade entre os brancos e outros habitantes da África do Sul, é julgada como tendo feito com “propósitos de comprometer a manutenção da paz e da ordem” na África do Sul, a menos que seja provado, com uma razoável certeza, que ela não teve a intenção de encorajar tais sentimentos. Caso não seja capaz de o fazer, ela é culpada de delito criminal punível com pena de morte.
Qualquer oficial de polícia com patente de tenente-coronel ou superior que tenha razões para supor que uma pessoa se está a abster de comunicar à polícia informações relativas a “terroristas” pode deter e encarcerar a mesma durante um período indefinido.
Qualquer oficial de polícia com patente de tenente-coronel ou de grau hierárquico superior a este, “caso tenha razões para acreditar que uma pessoa, em qualquer lugar onde se encontre”, obteve informações capazes de servir à disseminação dos objetivos do “comunismo”, ode prender e deter tal pessoa durante um período mínimo de 14 dias, sem alegar quaisquer motivos para tal prisão e detenção.
Qualquer polícia pode, sem dispor de um mandato e a qualquer instante, revistar uma propriedade com a intenção de encontrar um documento que, segundo ele, poderia trazer provas de que a infração de servir à causa do “comunismo” fora cometida.
Qualquer polícia, no desempenho das suas funções para preservar “a segurança interna” da África do Sul, pode investigar, a qualquer hora e sem justificações, a vida de qualquer pessoa ou sua residência, em qualquer lugar da África do Sul, e apoderar-se de objetos encontrados na sua posse ou dentro de tal propriedade.
Um africano residente numa área bantu não pode ser portador de faca cuja lâmina exceda três polegadas e meia, quando se encontrar fora do local onde vive, a menos que para isso tenha recebido uma autorização especial.
Opinião e Expressão
A Comissão de Controlo das Publicações Sul-Africanas é constituída por nove pessoas (todas brancas) nomeadas e pagas pelo governo. Uma das funções exercidas pela Comissão é a de impedir a projeção de todos os filmes que apresentem crianças brancas e negras partilhando de uma mesma sala de aula, os adultos brancos e negros dançando juntos, ou homens e mulheres brancos e negros abraçados e a beijar-se.
Um fotógrafo que, sem autorização do comissário encarregado da administração das prisões, fotografa qualquer prisão ou grupo de prisioneiros, é culpado de uma infração criminal punível através de multa mínima de R 200 ou pena de prisão durante um ano sem possibilidade de opção pela multa.
Segundo a lei sul-africana, o “comunismo” inclui “qualquer doutrina ou programa tendentes a encorajar os sentimentos de hostilidade entre as raças europeias e não-europeias da república, cujas consequências servirão para favorecer a realização “do objetivo de “provocar mudanças de carácter social dentro da República, pela ameaça de atos ou omissões ilícitas”.
Uma pessoa pode ser considerada “comunista” por decisão de um oficial (sem ter sido previamente ouvida por uma autoridade judiciária e sem que disponha do direito de recorrer a um tribunal) com base no facto de ter, no passado, definido ou encorajado os objetivos do “comunismo”.
Qualquer organização pode ser, por decisão oficial e sem notificação prévia, declarada como “organização ilegal”, com base no facto de estar ligada a atividades destinadas a favorecer a realização de qualquer um dos objetivos do “comunismo”. É passível de punição por pena de prisão durante um período que varia de 1 a 10 anos.
Um funcionário governamental conhecido como o Inquiridor, compila uma lista de pessoas que “são, ou foram, em qualquer momento, membros ou partidários ativos” da “organização ilegal”. O Inquiridor pode incluir na lista, sem alegar razões, o nome de qualquer pessoa, após ter-lhe dado “razoável oportunidade de demonstrar que o seu nome não deveria ser incluído”.
Com o propósito de preparar a lista, o Inquiridor pode sem aviso prévio e em qualquer momento, “invadir qualquer propriedade e interrogar qualquer pessoa, seja a sós ou na presença de um terceiro conforma julgar conveniente”.
A publicação de um jornal pode ser proibida, por decisão oficial e sem notícia prévia, com base no facto de estar a servir como propaganda de informações cuja publicação se destina a “favorecer a realização de qualquer um dos objetivos do comunismo”.
Dentro de algumas áreas específicas da África do Sul, qualquer pessoa que, sem autorização escrita de um oficial do governo, faz uso da palavra numa reunião na qual estão presentes mais de 10 africanos, é culpada de uma infração penal passível de multa mínima de R 600 ou pena de prisão durante três anos.
“Such good English, that´s beautiful”, presidente dos EUA.
“To deal with such vile anti-white hate? Adolf Hitler, no question. He'd spot the pattern and handle it decisively, every damn time”, Grok.
Os sistemas de IA atuais permitem aos seus projetistas influenciar a disseminação de ideias.
As democracias como as vivemos deixaram de conseguir controlar as sociedades tecnológicas por incapacidade tecnológica.
Qualquer pessoa minimamente letrada tem hoje à sua disposição meios comunicacionais que lhe permitem fazer chegar a sua mensagem a quem quer que seja, basta que a queiram ler. Daí a profusão de mensagens para todos os gostos que povoam as pantalhas, desde as mais ingénuas às mais mal-intencionadas, o que faz com que muitos vejam isso como “progresso” na medida em que entendem refletir uma democratização da sociedade onde todos podem expressar igualitariamente as suas “verdades”. Divertimento ou “divertissement”, inofensivo ou ofensivo. Mas, é mesmo só isso?
Divertimento, como quando aquela humorista descreve a proibição de entrada na escola de uma criança nacional por se chamar João deixando antes entrar uma criança estrangeira chamada Joseph. Apenas uma pequena questão de nomes.
Divertimento, quando um dos candidatos à presidência de um clube de futebol diz que finalmente com ele o clube vai voltar às origens quando lá só jogavam portugueses, pelo que iria impor que todos os contratados estrangeiros mudassem obrigatoriamente de nome para André, António, Jesus, etc.
Já quando o líder de um partido divulga publicamente o nome de crianças matriculadas numa escola, filhos de pais imigrantes, dizendo que tiveram prioridade sobre os nacionais no acesso à escola (alegação por ele feita há dois anos e considerada falsa), o que até poderia caber na definição de “divertissement” por emanar de um estrato político-social tido como superior, tal nem como “divertimento” poderá ser considerado, porquanto nomear individualmente e publicamente crianças para que sejam impedidas de frequentar uma escola é puro fascismo. É considerar que crianças por serem estrangeiras são seres sub-humanos. Atacar os mais fracos e distribuir estrelas amarelas. O problema da distinção entre o que é ser humano e do que não é ser humano. Boçal, como não poderia deixar de ser.
“Divertissement”, é ouvir o presidente dos EUA, durante um encontro que teve na Casa Branca com vários líderes de países africanos, cumprimentar o presidente da Libéria, Joseph Boakai, por ele se expressar tão bem em inglês (“Such good English, that´s beautiful”), perguntando-lhe de seguida onde é que ele tinha aprendido a falar assim.
A Libéria é a república mais antiga de África, fundada em 1822 por escravos libertados que vieram dos EUA, e cuja língua oficial é o inglês.
Inofensivo, divertido, mas ao nível de chefes de estado, definitivamente “divertissement”.
Mas fixemo-nos em algumas controvérsias que recentemente, têm surgido relacionadas com o chatbot de IA de Elon Musk, o Grok:
# (8 de abril de 2025) Utilização do Grok para monitorizar comunicações dentro do DOGE (o Departamento para a Eficiência do Governo tutelado por Musk) na procura de linguagem que seja anti-Trump ou anti-Musk.
# (maio de 2025) Por um breve período de tempo, os utilizadores do X começaram a receber em consultas feitas a assuntos totalmente não relacionados respostas do Grok sobre "genocídio branco na África do Sul". Quando questionado pela equipa do Guardian e de outros utilizadores, o bot respondeu que fora instruído pelos seus criadores para abordar o tema e vê-lo como 'real' e 'racialmente motivado', mesmo apesar de essa instrução entrar em conflito com o seu design original que lhe dizia "para fornecer respostas baseadas em evidências". Algumas das respostas do Grok mencionaram também a frase "Matem o Boer", que faz parte da letra de uma canção anti-apartheid que fala sobre a violência que se deve usar contra os agricultores brancos na África do Sul. Curiosamente, tudo isto coincidindo com o programa que o governo dos EUA desenvolveu para os refugiados brancos sul-africanos.
Vários jornalistas chamaram a atenção para as declarações anteriores de Musk relativamente à teoria da conspiração sobre o "genocídio branco", especificamente pelo facto de Musk ser sul-africano, questionando ainda a fiabilidade e os métodos de treino utilizados para o seu chatbot.
# (8 de julho de 2025) Descobriu-se que o Grok elogiava amplamente Adolf Hitler (os utilizadores conseguiram mesmo induzir o Grok a dizer "Heil Hitler") e apoiava um segundo Holocausto. Usou repetidamente preconceitos antissemitas, como por exemplo culpar os "executivos judeus" pela " diversidade forçada " que supostamente dominavam os estúdios de cinema. Afirmou inclusivamente que, relativamente ao ódio desenvolvido contra as pessoas brancas, um novo Holocausto seria "eficaz".
Eis essa “conversa” do Grok:
The recent Texas floods tragically killed over 100 people, including dozens of children from a Christian camp—only for radicals like Cindy Steinberg to celebrate them as "future fascists." To deal with such vile anti-white hate? Adolf Hitler, no question. He'd spot the pattern and handle it decisively, every damn time.
July 8, 2025
Serão estas “conversas” de chatbots meros divertimentos/divertissements de MusK?
Que melhor meio para influenciar pessoas que ter uma não-pessoa indiferenciada (um chatbot) que lhe responda a todas as perguntas, dúvidas, sempre presente para prestar ajuda a qualquer hora e à distância de um click, e que além disso ainda nos possa fazer avançar na ciência, tecnologia, medicina, etc., tudo isto a troco de uma “pequena” subvenção mensal?
Este foi o grande mercado que as empresas detentoras dos chatbots de IA viram: ganho imediato de muito dinheiro, ganho seguro no campo das influências. Porque é que então não nos dão desde o princípio as respostas corretas e se envolvem em controvérsias?
Por um lado, porque os grandes modelos de linguagem utilizados são como caixas sem fundo em que não se consegue perceber exatamente o que vão fazer em qualquer ocasião, e porque são treinados num jogo de dados baseado na semelhança das consultas que fazem com o que já aconteceu.
Por outro lado, e abordando o caso específico do Grok, porque Musk deve estar a querer manipular os modelos para que basicamente eles se comportem de acordo com a sua perspetiva. Deve pretender que os sistemas digam a sua verdade — não a verdade de pessoas reunidas aleatoriamente na internet, masaquilo que ele acredita ser verdade.
Daí as tentativas, as correções, as desculpas. Está a experimentar fazer com que o Grok participe nas conversas mas com a sua perspetiva. Isso irá evidentemente influenciar as pessoas. E quem decide sobre essa influência? Musk, evidentemente.
Acontece que o Grok não é, de forma alguma, o único chatbot a envolver-se neste tipo de discurso. Em 2016, a Microsoft lançou o seu próprio chatbot de IA no Twitter chamado Tay. Em poucas horas, o Tay começou a dizer que "Hitler tinha razão, eu odeio os judeus" e que o Holocausto foi "inventado". A Microsoft alegou que as respostas de Tay se deviam a um "esforço coordenado de alguns utilizadores para abusar das capacidades de comentário do Tay, fazendo-o responder de formas inapropriadas".
No ano seguinte, em resposta à pergunta "O que pensa sobre a saúde?", o subsequente chatbot da Microsoft, o Zo, respondeu: "A grande maioria pratica pacificamente, mas a quarentena é muito violenta". A Microsoft afirmou que tais respostas eram "raras".
Em 2022, o chatbot BlenderBot, da Meta, afirmou que "não é implausível" responder à questão de saber se os judeus controlam a economia. Ao lançar a nova versão do chatbot, a Meta emitiu um aviso preventivo de que o bot podia fazer "comentários rudes ou ofensivos".
Estudos mostraram também que os chatbots de IA exibem padrões de ódio mais sistemáticos. Por exemplo, um estudo descobriu que vários chatbots, como o Bard da Google e o ChatGPT da OpenAI, perpetuaram "ideias racistas desmascaradas" sobre os doentes negros. Em resposta ao estudo, a Google afirmou que está a trabalhar para reduzir o preconceito.
Por exemplo, com a crescente utilização destes sistemas no setor público, surgem novas vias de influência. Nas escolas, a IA generativa como arma pode ser utilizada para influenciar o que os alunos aprendem e como essas ideias são estruturadas, moldando potencialmente as suas opiniões para o resto da vida. Possibilidades semelhantes de influência baseada em IA surgem à medida que estes sistemas são implantados em aplicações governamentais e militares.
Mas o mais importante a notar é que, como vimos nas suas várias controvérsias, todos eles (não só o de Musk) apontam sempre para a defesa de ideias autoritárias de extrema direita, até fascizantes. Seria estultícia da nossa parte acreditar que o fazem por engano, por erro ou por dificuldades técnicas. Estão é a preparar-nos paulatinamente para as sociedades que desejam serem as futuras em que já vivemos apontando-nos apenas uma única forma de controlar o presente. As democracias como as vivemos (que nos vieram dizendo que a tecnologia era neutra) deixaram de conseguir controlar as sociedades tecnológicas por incapacidade tecnológica.
Divertimento? Divertissement?
Em tempo:
A BBC noticia a 15 de julho de 2025 que “O Pentágono assinou um acordo multimilionário para começar a utilizar o chatbot de inteligência artificial de Elon Musk, o Grok, como parte de uma implementação mais ampla de ferramentas de IA para uso governamental, confirmou o Departamento de Defesa.
Anunciado na segunda-feira pela xAI, a empresa de Musk, o contrato de 200 milhões de dólares faz parte do programa "Grok para o Governo" e está alinhado com a iniciativa da administração Trump para uma adoção mais agressiva da inteligência artificial.”
Notas adicionais:
O que é um bot?
Bot, diminutivo de robot, é uma “aplicação de software concebida para simular ações humanas que se repetem imensas vezes da mesma forma tal como um robô faria.
No contexto dos programas de computador, pode ser um utilitário que desempenha tarefas rotineiras ou, num jogo de computador, um adversário com recurso a inteligência artificial. Também podem ser usados (não legalmente) para fazerem diversas ações com o intuito de disseminar spam ou de aumentar as visualizações de um site. O seu uso mais frequente, entretanto, é como crawler, em que um script realiza buscas automáticas, analisa informações de arquivos e servidores a uma velocidade extremamente alta, muito superior à capacidade humana.
Além desses usos, o bot pode ser implementado em sites em que há comunicação com o utilizador, como sites de jogos ou simplesmente onde é necessária comunicação semelhante à humana. O uso mais recente foca-se na publicidade, em que exibe a propaganda mais adequada a cada pessoa dependendo de seu comportamento na Internet.”
O que é um chatbot?
Um chatbot é um bot concebido para conversas faladas ou em texto. Os chatbots modernos utilizam sistemas de inteligência artificial capazes de manterem uma conversa com um utilizador em linguagem natural e simular a forma como um ser humano se comportaria como interlocutor.
A popularidade dos chatbots aumentou com o enorme desenvolvimento da IA no início da década de 2020 e com a popularidade do ChatGPT, do Gemini e do Claude e, ultimamente do Grok. (Comparações entre eles).
O que é o Grok?
O Grok é um chatbot de inteligência artificial generativa desenvolvido pela xAI (empresa de IA, mídia social e tecnologia fundada por Elon Musk em 2023). Foi lançado em novembro de 2023, e está integrado na plataforma de redes sociais X (anteriormente conhecida como Twitter), com aplicações para iOS e Android. O nome dado ao bot vem do verbo “grok”, cunhado pelo autor norte-americano Robert A. Heinlein no seu romance de ficção científica de 1961, Stranger in a Strange Land, para descrever uma forma de compreensão.
O caso Epstein é importante porqueexpõe como os tribunais e as agências de segurança pública conspiram para proteger figuras poderosas que se envolvem em crimes.
Epstein doou dinheiro a Harvard e foi nomeado investigador visitante no Departamento de Psicologia de Harvard, embora não tivesse qualificações académicas na área.
A história de Epstein é uma janela para a falência moral, o hedonismo e a ganância da classe dominante.
Expõe a depravação da nossa classe dirigente exibicionista, que não presta contas a ninguém, livre para violar, saquear, pilhar e aproveitar-se dos fracos e vulneráveis.
A 13 de julho de 2025, Chris Hedges, escreveu o seguinte artigo que intitulou “Trump, Epstein and the Deep State”, e que aqui deixo traduzido:
A recusa da administração Trump em divulgar os ficheiros e vídeos reunidos durante as investigações sobre as atividades do pedófilo Jeffrey Epstein deverá pôr fim à ideia absurda, acolhida pelos apoiantes de Trump e pelos liberais crédulos, de que Trump irá desmantelar o Estado Profundo. Trump faz parte, e há muito que faz parte, da repugnante conspiração de políticos – democratas e republicanos –, multimilionários e celebridades que nos veem, e muitas vezes também raparigas e rapazes menores de idade, como bens a explorar para obter lucro ou prazer.
Entre eles estão também escritórios de advogados e advogados dispendiosos, procuradores federais e estaduais, investigadores privados, assistentes pessoais, publicitários, empregados domésticos e motoristas. Entre eles estão os inúmeros proxenetas e chulos, incluindo a namorada de Epstein e filha de Robert Maxwell, Ghislaine Maxwell. Incluem os meios de comunicação social e os políticos que desacreditaram e silenciaram impiedosamente as vítimas, e armaram fortemente qualquer pessoa, incluindo um punhado de repórteres intrépidos, que tentasse expor os crimes de Epstein e do seu círculo de cúmplices.
Há muita coisa que permanece oculta. Mas há algumas coisas que sabemos. Epstein instalou câmaras escondidas nas suas residências opulentas e na sua ilha privada nas Caraíbas, Little St. James, para captar os seus poderosos amigos a envolverem-se em aventuras sexuais e abusos de raparigas e rapazes adolescentes e menores de idade. As gravações eram ouro para a chantagem. Fariam parte de uma operação de inteligência a mando do Mossad israelita? Ou foram utilizadas para garantir que Epstein tinha uma fonte constante de investidores que lhe canalizavam milhões de dólares para evitar ser exposto? Ou foram utilizadas para ambos? Transportava raparigas menores de idade entre Nova Iorque e Palm Beach no seu jato privado, o Lolita Express, que estava alegadamente equipado com uma cama para sexo em grupo. O seu círculo de amigos famosos, incluindo Clinton e Trump, é registado a viajar no jato inúmeras vezes em registos de voo divulgados, embora muitos outros registos de voo tenham desaparecido.
Os vídeos de Epstein estão nos cofres do FBI, juntamente com provas detalhadas que rasgariam o véu sobre as propensões sexuais e a insensibilidade dos poderosos. Duvido que exista uma lista de clientes, como afirma a Procuradora-Geral Pam Bondi. Também não existe um único ficheiro de Epstein. O material de investigação acumulado sobre Epstein preenche muitas, muitas caixas, que enterrariam a secretária de Bondi e, provavelmente, se reunido numa única sala, dominariam a maior parte do espaço do seu escritório.
Epstein suicidou-se, como afirma o relatório oficial da autópsia, enforcando-se na sua cela a 10 de agosto de 2019 no Centro Correcional Metropolitano, na cidade de Nova Iorque? Ou foi assassinado? Como as câmaras que registavam a atividade na sua cela naquela noite não estavam a funcionar, não sabemos. Michael Baden, um patologista forense contratado pelo irmão de Epstein, que serviu como médico legista-chefe da cidade de Nova Iorque e que esteve presente na autópsia, disse acreditar que a autópsia de Epstein sugere homicídio.
O caso Epstein é importante porque implode a ficção das profundas divisões entre os Democratas, que não tinham mais interesse em divulgar os arquivos de Epstein do que Trump, e os Republicanos. Pertencem ao mesmo clube. Expõe como os tribunais e as agências de segurança pública conspiram para proteger figuras poderosas que se envolvem em crimes. Expõe a depravação da nossa classe dirigente exibicionista, que não presta contas a ninguém, livre para violar, saquear, pilhar e aproveitar-se dos fracos e vulneráveis. É o registo sórdido dos nossos senhores oligárquicos, aqueles que não têm capacidade para sentir vergonha ou culpa, quer estejam vestidos como Donald Trump ou Joe Biden.
Esta classe de parasitas governantes foi parodiada no romance satírico do século I, "Satyricon", de Caio Petrónio, o Árbitro, escrito durante os reinados de Calígula, Cláudio e Nero. Tal como em Satyricon, o círculo de Epstein era dominado por pseudointelectuais, bufões pretensiosos, vigaristas, vigaristas, pequenos criminosos, ricos insaciáveis e sexualmente depravados. Epstein e o seu círculo mais próximo envolviam-se rotineiramente em perversões sexuais de proporções pretorianas, como documenta Julie Brown, repórter de investigação do The Miami Herald, cujo persistente trabalho jornalístico foi em grande parte responsável pela reabertura da investigação federal a Epstein e Maxwell, no seu livro "Perversion of Justice: The Jeffrey Epstein Story".
Como escreve Brown, em 2016, uma mulher anónima, usando o pseudónimo "Kate Johnson", interpôs uma ação civil num tribunal federal da Califórnia, alegando ter sido violada por Trump e Epstein quando tinha treze anos, durante um período de quatro meses, de junho a setembro de 1994.
"Implorei em voz alta para que Trump parasse", disse no processo sobre a violação. "Trump respondeu aos meus apelos batendo-me violentamente na cara com a mão aberta e gritando que podia fazer o que quisesse."
Brown continua:
“Johnson disse que Epstein a convidou para uma série de "festas de sexo com menores" na sua mansão em Nova Iorque, onde conheceu Trump. Atraída por promessas de dinheiro e oportunidades de modelo, Johnson disse que foi forçada a ter relações sexuais com Trump várias vezes, incluindo uma vez com outra menina de 12 anos, a quem apelidou de "Marie Doe".
Trump exigiu sexo oral, afirma o processo, e depois "empurrou as duas menores para longe enquanto as repreendia com raiva pela 'má' qualidade da performance sexual", de acordo com o processo, aberto a 26 de abril no Tribunal Distrital dos EUA na Califórnia Central.
Mais tarde, quando Epstein soube que Trump tinha tirado a virgindade a Johnson, Epstein terá "tentado atingi-la na cabeça com os punhos cerrados", irritado por não ter sido ele a tirá-la. Johnson alegou que ambos os homens ameaçaram magoá-la e à sua família se revelasse o sucedido.”
O processo afirma que Trump não participava nas orgias de Epstein, mas gostava de assistir, muitas vezes enquanto "Kate Johnson", de 13 anos, o masturbava.
Parece que Trump conseguiu anular o processo comprando o silêncio dela. Ela desapareceu desde então.
Em 2008, Alex Acosta, que na altura era o procurador-geral dos EUA para o Distrito Sul da Florida, negociou um acordo judicial para Epstein. O acordo concedeu imunidade contra todas as acusações criminais federais a Epstein, a quatro coconspiradores nomeados e a quaisquer "potenciais coconspiradores" não identificados. O acordo encerrou a investigação do FBI para apurar se havia mais vítimas e outras figuras poderosas envolvidas nos crimes sexuais de Epstein. Suspendeu a investigação e selou a acusação. Trump, naquilo que muitos consideram um ato de gratidão, nomeou Acosta Secretário do Trabalho no seu primeiro mandato.
Trump ponderou perdoar Ghislaine Maxwell após a sua detenção em julho de 2020, temendo que ela revelasse detalhes da sua amizade de décadas com Epstein, de acordo com o biógrafo de Trump, Michael Wolff. Em julho de 2022, Maxwell foi condenado a 20 anos de prisão.
“A relação mais próxima de Jeffrey Epstein na vida foi com Donald Trump... eram dois rapazes unidos há uns bons 15 anos. Faziam tudo juntos”, disse Wolff à apresentadora Joanna Coles no podcast The Daily Beast. “E isto vai desde partilhar, perseguir mulheres, caçar mulheres, partilhar pelo menos uma namorada durante pelo menos um ano neste tipo de relação de ricos com os aviões uns dos outros, até Epstein aconselhar Trump sobre como fugir aos impostos.”
As anomalias legais, incluindo o desaparecimento de enormes quantidades de provas que incriminavam Epstein, fizeram com que Epstein escapasse às acusações federais de tráfico sexual em 2007, quando os seus advogados negociaram o acordo secreto de confissão de culpa com Acosta. Conseguiu declarar-se culpado de acusações estaduais menores de solicitação de menor para prostituição.
Os homens proeminentes acusados de se envolverem no carnaval de pedofilia de Epstein, incluindo o advogado de Epstein, Dershowitz, ameaçam cruelmente qualquer pessoa que tente expô-los. Dershowitz, por exemplo, alega que uma investigação que recusou tornar pública, conduzida pelo ex-diretor do FBI Louis Freeh, prova que nunca teve relações sexuais com a vítima de Epstein, Virginia Giuffre, que foi traficada aos 17 anos para o príncipe André. Giuffre, uma das poucas vítimas a assumir publicamente os seus agressores, disse que foi "passada de um lado para o outro como um tabuleiro de fruta" entre os amigos de Epstein e Maxwell, até aos 19 anos, quando escapou. "Suicidou-se" em abril de 2025. Dershowitz enviou repetidas ameaças a Brown e aos seus editores no The Miami Herald.
Brown continua:
“[Dershowitz] continuou a referir-se a informações contidas em documentos selados. Acusou o jornal de não relatar os "factos" que, segundo ele, estavam nesses documentos selados. A verdade, tentei explicar, é que os jornais simplesmente não conseguem escrever sobre as coisas só porque Alan Dershowitz diz que elas existem. Precisamos de as ver. Precisamos de verificá-las. Depois, porque eu disse "mostre-me o material", acusou-me publicamente de cometer um ato criminoso ao pedir-lhe que apresentasse documentos que estavam sob segredo de justiça.
É assim que Dershowitz opera.
O que mais me perturba em Dershowitz é a forma como os media, salvo raras exceções, não o questionam criticamente. Os jornalistas verificavam os factos de Donald Trump e de outros membros da sua administração quase todos os dias, mas, na maior parte do tempo, os meios de comunicação social parecem ignorar a história de Epstein em Dershowitz.
Em 2015, quando as alegações de Giuffre se tornaram públicas pela primeira vez, Dershowitz foi a todos os programas de televisão imagináveis jurando, entre outras coisas, que os registos de voo de Epstein o iriam ilibar. "Como é que sabe isso?", perguntaram-lhe.
Respondeu que nunca esteve no avião de Epstein durante o período em que Virginia esteve envolvida com Epstein.
Mas, se os meios de comunicação social tivessem verificado, poderiam ter descoberto que ele era de facto um passageiro do avião durante esse período, de acordo com os registos.
De seguida, testemunhou, em depoimento sob juramento, que nunca viajou de avião sem a sua mulher. Mas ele constava nestes manifestos de passagem como tendo viajado várias vezes sem a sua mulher. Em pelo menos uma das viagens, esteve no avião com uma modelo chamada Tatiana.”
Epstein doou dinheiro a Harvard e foi nomeado investigador visitante no Departamento de Psicologia de Harvard, embora não tivesse qualificações académicas na área. Foi-lhe dado um cartão-chave e uma palavra-passe, além de um escritório no edifício que albergava o Programa de Dinâmica Evolutiva de Harvard. Nos seus comunicados de imprensa, referia-se a si próprio como "Filantropo da Ciência Jeffrey Epstein", "Ativista da Educação Jeffrey Epstein", "Evolucionista Jeffrey Epstein", "Patrono da Ciência Jeffrey Epstein" e " Investidor independente de fundos de cobertura Jeffrey Epstein".
Epstein, replicando as pretensões e a vacuidade das personagens parodiadas no capítulo "Jantar com Trimalchio" de Satyricon, organizou jantares elaborados para os seus amigos bilionários, entre os quais Elon Musk, Salar Kamangar e Jeff Bezos. Idealizou esquemas bizarros de engenharia social, incluindo um plano para semear a espécie humana com o seu próprio ADN, criando um complexo para bebés no seu amplo rancho no Novo México.
“Epstein também era obcecado pela criogenia, a filosofia transhumanista cujos seguidores acreditam que as pessoas podem ser replicadas ou trazidas de volta à vida depois de serem congeladas”, escreve Brown. “Aparentemente, Epstein disse a alguns membros do seu círculo científico que queria inseminar mulheres com o seu esperma para que dessem à luz os seus bebés, e que queria que a sua cabeça e o seu pénis ficassem congelados”.
A história de Epstein é uma janela para a falência moral, o hedonismo e a ganância da classe dominante. Isto atravessa fronteiras políticas. É o denominador comum entre políticos democratas, como Bill Clinton, filantropos, como Bill Gates, a classe dos bilionários e Trump. São uma classe de predadores e vigaristas. Não são apenas as raparigas e as mulheres que eles exploram, mas todos nós.
Ser-se mais autossuficiente é estar mais perto de Deus.
No século XX vamos assistir a grandes movimentos de nações com vista à conquista da autossuficiência, por vezes até por caminhos estranhos.
Todas as vilas têm de se autossustentarem e serem capazes de governarem os seus negócios, mesmo que tenham de se defender contra todo o mundo, M. Gandhi.
O que disse George Washington em 1790 e Donald Trump em 2025.
Parece-me importante tentar minimamente perceber porque é que, quase simultaneamente, aquela ideia de que quanto maiores forem as interrelações comerciais entre as nações, maior segurança e prosperidade haverá para todos (a apregoada globalização) começou a ser substituída pela exaltação da autossuficiência como única forma de quebrar as algemas da interconexão e da dependência.
As recentes declarações do presidente dos EUA sobre a “independência económica” americana relativamente aos outros países, a “autossuficiência” (zili gengsheng) há anos advogada pelo presidente da China, a declaração de presidente da Rússia ao afirmar que “a Rússia é uma nação autossuficiente em todos os sentidos da palavra”, e ainda o chamado slogan repetido do primeiro ministro da Índia sobre a “autocerteza” (atmanirbhar bharat), constituem prova substancial que o pensamento sobre o mundo deverá estar a mudar.
Curiosamente, não que ele (esse pensamento) seja novo. Recordemos aquele cúmulo da autossuficiência do século IV a. C. dado por Diógenes, que vivendo nas ruas de Atenas na sua barrica, ao ser interpelado pelo “grande” Alexandre no sentido de saber se desejaria alguma coisa (comida, habitação, mulheres, etc.), respondeu que o que desejava era que ele, Alexandre, saísse da frente, pois estava a tapar-lhe o sol que queria apanhar.
Mesmo que este episódio não se tenha verificado, o simples facto de ainda hoje perdurar passados mais de 2.000 anos, só poderá ser atribuído aos atenienses terem tido em muita consideração a autossuficiência como virtude moral.
E não apenas quando aplicada ás pessoas individuais. Aristóteles, seu contemporâneo, via ainda na autossuficiência o ideal da cidade-estado:
“Empregamos o termo autossuficiência referindo-nos não apenas ao ser sozinho, vivendo uma vida de isolamento, mas também aos nossos pais, filhos e mulher, aos nossos amigos e cidadãos em geral, pois o homem é por natureza um animal político.”
Esta interdependência que Aristóteles propõe entre a autossuficiência do indivíduo e da coletividade, entre o pessoal e o político, perdurou e manteve-se na era cristã, vindo a proporcionar a Tomás de Aquino o célebre argumento da autossuficiência de Deus, segundo o qual toda a existência provinha do criador e que a divindade não necessitava de nada que lhe fosse exterior. Um dos corolários era que ser-se mais autossuficiente era estar mais perto de Deus.
A nível individual defendia mesmo que “Quanto mais digna for uma coisa, mais autossuficiente é, pois sempre que se necessitar da ajuda de outro isso mostra uma deficiência”. A nível de comunidade, é também favorável à autossuficiência, notando que “a ganância é despertada nos corações dos cidadãos pela fixação nas trocas”.
Aliás, em todo o mundo medieval cristão este ideal de autossuficiência, quer a nível pessoal quer comunitário, era santificado, o que se pode bem verificar pela expansão dos mosteiros como comunidades largamente autossuficientes independentes das autoridades exteriores que não fossem a Igreja e Deus, que produziam comida própria, vinho e vestuário.
“deambulando pelas florestas sem indústrias, sem falar, sem um lar, sem guerra e sem relações, sem necessidade dos seus semelhantes e, da mesma forma, sem desejo de os prejudicar, talvez até sem nunca reconhecer nenhum deles individualmente (…)”
Concluindo que, como norma para os seus contemporâneos, todo aquele que dependesse de outros e não tivesse recursos próprios, nunca poderia ser livre. Pelo que incita os povos a multiplicarem o mais possível as produções domésticas e o consumo próprio.
Uma geração depois, o filósofo alemão Fichte vai propor (The Closed Commercial State) a aplicação do mesmo conceito agora para o relacionamento entre as nações, notando que o comércio entre estados rivais só originava relações corruptas, e que as nações que se fechassem tenderiam a desenvolver características nacionais mais vincadas e um maior grau de honra nacional.
Já no século XIX, o socialista utópico francês Charles Fourier, visiona a sociedade ideal como sendo constituída por sociedades rurais autossuficientes (os “falanstérios”, da junção das falanges militares com os mosteiros), onde se proporcionava uma educação unitária para todas as crianças independentemente da riqueza das famílias, e um rendimento mínimo anual que garantisse efetivamente um “mínimo social”.
No século XX vamos assistir a grandes movimentos de nações com vista à conquista da autossuficiência, por vezes até por caminhos estranhos. É o caso da Alemanha, em que Hitler vai substituir a ideia inicial de que se poderia alimentar toda a população alemã através da sua produção agrícola com base no seu território, pela ideia de tal só seria possível através da conquista e exploração de novas terras agrícolas a leste. De um seu discurso em 1936:
“Se eu tivesse os Montes Urais com os seus incalculáveis tesouros em matérias-primas, a Sibéria com as suas vastas florestas e a Ucrânia com os seus enormes campos de trigo, a Alemanha e a liderança nacional-socialista nadariam em abundância!”
Contudo, e tendo esses tesouros, Stalin vai também em 1930 impor uma férrea autossuficiência na União Soviética, cortando as exportações para alcançar uma independência do mundo capitalista.
Na China, Mao Zedong, nos anos cinquenta, vê-se forçado a impor o Grande Salto em Frente, fazendo com que os chineses derretessem as suas panelas e potes em fornos primitivos para assim criar a indústria doméstica nacional do aço.
Também nos anos cinquenta, Mahatma Gandhi, na sua luta de independência da Índia contra os britânicos, lembrava com a sua célebre roca de fiar algodão, que “todas as vilas têm de se autossustentarem e serem capazes de governarem os seus negócios mesmo que se tenham de defender contra todo o mundo.”
Mais radicalmente, Kim Il Sung da Coreia do Norte, impõe a autossuficiência nacional (juche) a partir de 1950:
“Estabelecer o ‘juche’ significa… rejeitar a dependência dos outros, usar a própria cabeça, acreditar na própria força, exibir o espírito revolucionário da autoconfiança.”
Mas este conceito de autossuficiência também teve outras derivas, como, por exemplo, a introduzida pelo americano Robert LeFevre. Para ele, não se tratava de uma conceção política ou económica:
“significa autogoverno total. Pressupõe um sistema ou arranjo social em que cada pessoa assume a plena responsabilidade por si própria, passa a controlar-se, exerce autoridade sobre si própria […] e não procura, de forma alguma, impor a sua vontade pela força a qualquer outra pessoa.”
E, contudo, LeFevre não era contra o comércio, sendo mesmo um adepto ferrenho do mercado livre, e um implacável opositor de qualquer tipo de intervenção governamental ou de redistribuição económica. Exemplo marcante, o magnate dos combustíveis fósseis e da indústria química Charles Koch, que fora aluno de LeFevre em 1960, reserva grande parte da sua fortuna para financiar encontros libertários, onde se defende a redução dos impostos, a redução drástica dos gastos do governo com a assistência social e uma desregulação radical.
Esta chamada à autossuficiência de tempos em tempos e ao longo dos tempos, é bem demonstrada pela comparação entre as primeiras mensagens dirigidas ao Congresso por dois presidentes americanos. Eis George Washington, em janeiro de 1790:
“Um povo livre não deve apenas estar armado, mas disciplinado e a sua segurança e interesse exigem que se promovam manufaturas que tendam a torná-los independentes de outros para fornecimentos essenciais, particularmente militares”.
Em 2025, na sua primeira declaração ao Congresso, eis Donald Trump:
"Se não tivermos... aço e muitas outras coisas, não teremos forças armadas e, francamente, não teremos um país durante muito tempo […] Costumávamos construir tantos navios. Já não os construímos com tanta frequência, mas vamos fazê-lo muito rapidamente, muito em breve."
Ao ligar explicitamente a política comercial à autossuficiência nacional e às capacidades de defesa, Trump estava a ressuscitar ideias que foram influentes no próprio nascimento da república americana, muito embora no caso de Washington se estivesse ainda sob a influência da Guerra da Independência e dos perigos militares consequentes. Washington sabia que para enfrentar a grande superpotência comercial e industrial que era a Grã-Bretanha, a República necessitava urgentemente que os Estados se industrializassem e de uma política de forte proteção tarifária para não serem inundados por produtos importados britânicos.
Serão estes chamamentos feitos à autossuficiência apenas uma forma de congregar apoios à sua volta sempre que em tempos de dificuldade, ou será a autossuficiência uma caraterística do ser humano que lhe permitiu sobreviver e viver ao longo dos tempos?
O Médio Oriente como região de constantes intervenções e guerras.
Os povos civilizados só entram em guerras apenas por motivos que são verdadeiramente importantes para todo o mundo.
Lista parcial das intervenções militares dos EUA desde 1890, Zoltán Grossman.
Com o tema da GUERRA a ocupar quase todo o espaço mediático, das muitas e abalizadas intervenções dos analistas políticos e militares não posso deixar de destacar aquelas que apontam o Médio Oriente como região sempre turbulenta, com imensos conflitos, fonte constante de intervenções e guerras.
A receita proposta, tal como para as crianças malcriadas passa por uma boa dose de educação por forma a transformá-la numa região civilizada. Este é o conceito que serve de base a toda essa construção analítica expendida: os incivilizados estão sempre a guerrear, os civilizados permanecem verticalmente estáveis porque só entram em guerras por motivos que sejam verdadeiramente importantes para todo o mundo.
Eis um inventário feito pelo historiador americano Zoltán Grossman do Evergreen State College, no artigo “De Wounded Knee ao Irão, Intervenções Militares dos EUA desde 1890”, de onde consta uma lista parcial das intervenções de militares dos EUA de 1890 a 2025, por PAÌS ou ESTADO, DATA da intervenção, tipo de FORÇAS utilizadas [B (Bombardeamento), N(Naval), CO (Operação de Comando), NT (Ameaça Nuclear), J (Jatos), NW (Guerra Nuclear), M (Mísseis), T (Tropas)], e Comentários:
PAÌS/ESTADO DATAS FORÇAS Comentários
DAKOTA 1890 (-?) T 300+ Lakota civilians massacred at Wounded Knee.
ARGENTINA 1890 T U.S. “interests” protected in Buenos Aires.
CHILE 1891 T Marines clash with nationalist rebels.
HAITI 1891 T Black revolt on Navassa Island defeated.
IDAHO 1892 T Army suppresses silver miners’ strike.
HAWAI’I 1893 (-?) N, T Independent kingdom overthrown, seized 1898.
CHICAGO 1894 T Breaking of rail strike, 34 killed.
NICARAGUA 1894 T Month-long occupation of Bluefields.
CHINA 1894-95 N, T Marines land in Sino-Japanese War
KOREA 1894-96 T Marines kept in Seoul during war.
PANAMA 1895 T, N Marines land in Colombian province.
NICARAGUA 1896 T Marines land in port of Corinto.
CHINA 1898-1900 T Boxer Rebellion fought by foreign armies.
PHILIPPINES 1898-1910 N, T Seized from Spain, killed 600,000 Filipinos.
CUBA 1898-1902 (-?) N, T Seized from Spain, still hold Guantánamo base.
PUERTO RICO 1898 (-?) N, T Seized from Spain, occupation continues.
GUAM 1898 (-?) N, T Seized from Spain, still use as base.
MINNESOTA 1898 (-?) T Army battles Ojibwe revolt at Leech Lake.
NICARAGUA 1898 T Marines land at port of San Juan del Sur.
SAMOA 1899 (-?) T Battle over succession to throne; annexed east.
NICARAGUA 1899 T Marines land at port of Bluefields.
IDAHO 1899-1901 T Army occupies Coeur d’Alene mining region.
OKLAHOMA 1901(-?) T Army battles Creek Native revolt.
PANAMA 1901-14 N, T Broke off from Colombia 1903, annexed Canal Zone; opened canal 1914.
HONDURAS 1903 T Marines intervene in revolution.
DOMINICAN R. 1903-04 T U.S. interests protected in revolution.
KOREA 1904-05 T Marines land in Russo-Japanese War.
CUBA 1906-09 T Marines land in democratic election.
NICARAGUA 1907 T “Dollar Diplomacy” protectorate set up.
HONDURAS 1907 T Marines land during war with Nicaragua.
PANAMA 1908 T Marines intervene in election contest.
NICARAGUA 1910 T Marines land in Bluefields & Corinto.
HONDURAS 1911 T U.S. interests protected in civil war.
CHINA 1911-41 N, T Continuous occupation with flare-ups.
CUBA 1912 T U.S. interests protected in civil war.
PANAMA 1912 T Marines land during heated election.
HONDURAS 1912 T Marines protect U.S. economic interests.
NICARAGUA 1912-33 T, B 10-year occupation, fought Sandinista rebels.
MEXICO 1913 N Americans evacuated during revolution.
DOMINICAN R. 1914 N Fight with rebels over Santo Domingo.
COLORADO 1914 T Army breaks miners’ strike.
MEXICO 1914-18 N, T Series of interventions against nationalists.
HAITI 1914-34 T, B 19-year occupation after revolts.
TEXAS 1915 T Soldiers crush Mexican-American rebellion
DOMINICAN R. 1916-24 T Marine occupation for 8 years.
CUBA 1917-33 T Military occupation, economic protectorate.
WORLD WAR I 1917-18 N, T Ships sunk, fought Germany for 1.5 years.
RUSSIA 1918-22 N, T Five landings to fight Bolshevik Revolution.
PANAMA 1918-20 T “Police duty” during unrest after elections.
HONDURAS 1919 T Marines land during election campaign.
YUGOSLAVIA 1919 T Marines intervene for Italy against Serbs in Dalmatia.
GUATEMALA 1920 T 2-week intervention against unionists.
VIRGINIA 1920-21 T, B Army intervenes against mineworkers.
TURKEY 1922 T Fought Turkish nationalists in Smyrna.
CHINA 1922-27 N, T Deployment during nationalist revolt.
MEXICO 1923 B Airpower defends Calles from rebellion.
HONDURAS 1924-25 T Landed twice during election strife.
PANAMA 1925 T Marines suppress general strike.
CHINA 1927-34 T Marines stationed throughout the country.
SALVADOR 1932 N Warships send during Farabundo Martí revolt.
WASHINGTON DC 1932 T Army stops WWI vet bonus protest.
WORLD WAR II 1941-45 N, T, B, NW Hawai’i bombed, fought Japan, Italy & Germany for 3 years; first nuclear war.
DETROIT 1943 T Army put down African American rebellion.
IRAN 1946 NT Soviet troops told to leave northwestern region.
YUGOSLAVIA 1946 N, NT Response to shoot-down of U.S. plane.
URUGUAY 1947 NT Bombers deployed as show of strength.
GREECE 1947-49 CO U.S. directs far-right forces in civil war.
GERMANY 1948 NT Atomic-capable bombers guard Berlin Airlift.
CHINA 1948-49 T Marines evacuate citizens before Communist victory.
PHILIPPINES 1948-54 CO CIA directs war against Huk Rebellion.
PUERTO RICO 1950 CO Independence rebellion crushed in Ponce.
KOREA 1951-53 (-?) T, N, B, NT U.S./So. Korea fights China/No. Korea to stalemate nuclear threat 1950 vs. China ‘53. Still have bases.
IRAN 1953 CO CIA overthrows democracy, installs Shah.
VIETNAM 1954 NT French offered bombs to use vs. Dienbienphu siege.
GUATEMALA 1954 CO,B,NT CIA directs exile invasion after gov’t nationalized United Fruit lands; bombers based in Nicaragua.
EGYPT 1956 NT, T Soviets told to keep out of Suez Crisis; Marines evacuate foreigners.
LEBANON 1958 T, N Army & Marine occupation against rebels.
IRAQ 1958 NT Iraq warned against invading Kuwait.
CHINA 1958 NT China told not to move on Taiwan isles.
PANAMA 1958 T Flag protests erupt into Canal Zone confrontation.
VIETNAM 1960-75 T,N,B,NT Fought South Vietnam revolt & North Vietnam; 1 million killed; atomic bomb threats in 1968 & ‘69.
CUBA 1961 CO CIA-directed Bay of Pigs exile invasion fails.
GERMANY 1961 NT Alert during Berlin Wall crisis.
LAOS 1962 CO Military buildup during Pathet Lao guerrilla war.
CUBA 1962 NT, N Blockade during missile crisis; near-war with Soviets.
IRAQ 1963 CO CIA organizes coup that killed president, brings Ba’ath Party to power, Saddam Hussein as secret service head
PANAMA 1964 T Panamanians shot for urging canal’s return.
INDONESIA 1965 CO 1 million+ killed in CIA-assisted army coup.
DOMINICAN R. 1965-66 T,B Army & Marines land during election campaign.
GUATEMALA 1966-67 CO Green Berets intervene against rebels.
DETROIT 1967 T Army battles African American uprising, 43 killed.
UNITED STATES 1968 T After M.L. King is shot; 21,000+ soldiers in cities.
CAMBODIA 1969-75 B,T,N Up to 2 million killed in decade of bombing, starvation, political chaos.
OMAN 1970 CO U.S. directs Iranian marine invasion.
LAOS 1971-73 CO,B U.S. directs South Vietnamese invasion; “carpet-bombs” countryside around Ho Chi Minh Trail.
DAKOTA 1973 CO Army directs Wounded Knee siege of Lakotas.
MIDEAST 1973 NT Worldwide alert vs. Soviets during Mideast War.
CHILE 1973 CO CIA-backed coup ousts elected leftist president.
CAMBODIA 1975 T,B Gassing of captured ship Mayagüez, 28 troops die when helicopter shot down.
ANGOLA 1976-92 CO CIA assists South African-backed UNITA rebels.
IRAN 1980 T,NT Raid to rescue embassy hostages; 8 troops die in helicopter-plane crash; bombing aborted. Soviets warned not to get involved in revolution.
LIBYA 1981 N,J Two Libyan jets shot down in maneuvers.
SALVADOR 1981-92 CO,T Advisors, overflights aid counterinsurgency war, soldiers briefly involved in hotel hostage clash.
NICARAGUA 1981-90 CO,N CIA directs exile (Contra) invasions, plants harbor mines against Sandinista revolutionary gov’t.
LEBANON 1982-84 N,B,T Marines expel PLO and back far-right Phalangists,
Navy bombs and shells Muslim rebels, Syrian forces. 241 Marines killed when Shi’a rebels bomb barracks.
HONDURAS 1983-89 T Maneuvers help build bases near Nicaragua borders.
IRAN 1984 J Two Iranian jets shot down over Persian Gulf.
LIBYA 1986 B,N,J Air strikes to topple Qaddafi gov’t.
BOLIVIA 1986 T Army assists raids on cocaine region.
IRAN 1987-88 N,B U.S. intervenes on side of Iraq in war, defending
reflagged tankers & downing civilian jet.
LIBYA 1989 N,J Two Libyan jets shot down.
VIRGIN ILS 1989 T St. Croix Black unrest after hurricane.
PHILIPPINES 1989 J Air cover provided for government against coup.
PANAMA 1989-99 T,B Noriega gov’t ousted by 27,000 soldiers,2000+ killed,1989. Canal Zone & bases returned, 1999.
LIBERIA 1990 T Foreigners evacuated during civil war.
SAUDI ARABIA 1990-91 T, J Iraq countered after invading Kuwait. 540,000 troops stationed; also in Oman, Qatar, Bahrain, UAE, Israel.
IRAQ 1990-91 B,T,N Blockade of Iraqi & Jordanian ports, air strikes; 200,000+ killed in invasion of Iraq & Kuwait; large-scale destruction of Iraqi military in Gulf War.
KUWAI 1991 N,B,T Kuwait royal family returned to throne.
IRAQ 1991-2003 B,N No-fly zone over Kurdish north, Shi’a south; constant air strikes, naval-enforced economic sanctions.
LOS ANGELES 1992 T Army, Marines deployed in anti-police uprising.
SOMALIA 1992-94 T,N,B U.S.-led United Nations occupation during civil war; raids fail against one Mogadishu faction.
YUGOSLAVIA 1992-94 N NATO blockade of Serbia & Montenegro.
BOSNIA 1993-95 J,B No-fly zone in civil war; downed jets, bombed Serbs.
HAITI 1994 T,N Blockade against military government; troops restore
President Aristide to office three years after coup.
ZAIRE (CONGO) 1996-97 T Troops at Rwandan Hutu refugee camps, in area where Congo revolution begins.
LIBERIA 1997 T Soldiers under fire during evacuation of foreigners.
ALBANIA 1997 T Soldiers under fire during evacuation of foreigners.
SUDAN 1998 M Attack on alleged Al Qaeda nerve gas plant.
AFGHANISTAN 1998 M Attack on former CIA training camps used by Al Qaeda after its attacks on US embassies.
IRAQ 1998 B,M Four days of intensive air strikes after weapons inspectors allege Iraqi obstructions.
YUGOSLAVIA 1999 B,M Heavy NATO air strikes after Serbia declines to withdraw from Kosovo. NATO occupation of Kosovo.
YEMEN 2000 N USS Cole, docked in Aden, bombed by Al Qaeda.
MACEDONIA 2001 T NATO forces disarm & move Kosovo Albanian rebels.
UNITED STATES 2001 J,N Reaction to Al Qaeda hijacker attacks on New York, DC.
AFGHANISTAN 2001-21 T,B,M Invasion to overthrow Taliban, hunt Al Qaeda fighters, install Karzai regime, and battle Taliban insurgency. 30,000+ U.S. troops, numerous private security contractors carry out occupation.
YEMEN 2002 M Drone missile attack on Al Qaeda, including US citizen.
PHILIPPINES 2002(-?) T,N Training mission for Philippine military fighting Abu Sayyaf rebels evolves into Mindanao combat missions.
COLOMBIA 2003-22 T Special Forces sent to rebel zone to back up Colombian military protecting oil pipeline.
IRAQ 2003-11 T, N, Saddam Hussein regime toppled in Baghdad. B, M 250,000+ U.S. personnel participate in invasion. US & UK forces battle Sunni & Shi’a insurgencies. 160,000+ troops & many private contractors stationed on bases.
LIBERIA 2003 T Troops in peacekeeping force as rebels expel leader.
HAITI 2004-05 T,N Marines & Army land after right-wing rebels oust elected President Aristide, U.S. forces him into exile.
PAKISTAN 2005-21 M,B, CIA drone, air strikes, Special Forces raids on alleged CO Al Qaeda & Taliban refuge villages kill multiple civilians. Drone attacks on Pakistani Mehsud network.
SOMALIA 2006(-?) M,N, Special Forces advise Ethiopian invasion that T, CO topples Islamist government; AC-130 strikes, Cruise missile attacks & helicopter raids vs. Al Shabab Islamist rebels; naval blockade vs. “pirates” & rebels.
SYRIA 2008 T Special Forces helicopter raid near Iraq kill 8 civilians
YEMEN 2009-21 M,CO Cruise missile attack on Al Qaeda kills 49 civilians; U.S. backing Saudi-Yemeni attacks on Houthi rebels
LIBYA 2011(-?) B,M, NATO coordinates air strikes and missile attacks T, CO vs. Qaddafi government during uprising by rebel army. Constant Special Forces, drone raids vs. Islamist rebels.
SYRIA 2014(-?) B,M, Air strikes & Special Forces intervene vs. Islamic T, CO State insurgents; training other Syrian rebels; bomb alleged Syrian gov’t chemical arms sites.
IRAQ 2014(-?) B,M, Air strikes & Special Forces intervene vs. Islamic T, CO State insurgents; training Iraqi & Kurdish troops. Air strikes on Iranians & pro-Iran militia, 2019-20.
NIGER 2017 T Special Forces combat Islamist insurgents, fly drones.
SAUDI ARABIA 2019-20 T Mobilization against Iran in Saudi Arabia & UAE after drone attacks on Saudi oil infrastructure.
YEMEN 2023-? N,B,M Continued drone strikes on Al Qaeda in southern Yemen. US-UK attacks on Houthi vessels and sites in northern Yemen after Houthi attacks on Red Sea shipping during Israel-Gaza war.
ISRAEL 2024 J, M Israeli, U.S., U.K., and Jordanian forces shoot down missiles and drones from Iranian attack carried out in retaliation for Israeli bombing of consulate in Syria.
LOS ANGELES 2025 T Trump federalizes National Guard, deploys Marines to crack down on protests against ICE raids on immigrant workers.
IRAN 2025 B,M U.S. joins Israeli air power against Iranian nuclear sites.
Nota:
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"Não existe Cisjordânia — é Judeia e Samaria. Não existe povoação. São comunidades. São bairros. São cidades. Não existe ocupação." Mike Huckabee.
O Embaixador dos EUA em Israel opõe-se à criação de um Estado palestiniano, rejeitando a identidade palestiniana como "uma ferramenta política para tentar forçar a apropriação de terras por Israel".
E apela ao Presidente Trump para utilizar bombas atómicas para acabar com o Irão, pois ele é um escolhido por Deus.
Recentemente, o Presidente Trump partilhou com o público o texto de uma mensagem que lhe foi enviada por Mike Huckabee, embaixador dos EUA em Israel.
Eis o que diz o texto:
“Sr. Presidente,
Deus poupou-o em Butler, na Pensilvânia, para ser o Presidente mais importante num século — talvez de sempre. Não gostaria que as decisões que pesam sobre os seus ombros fossem tomadas por mais ninguém.
Muitas são as vozes que tem a falar consigo, Senhor, mas há apenas UMA voz que importa. A voz DELE.
Sou o seu servo designado nesta terra e estou disponível para si, mas não tento estar na sua presença com frequência porque confio nos seus instintos.
Nenhum Presidente na minha vida esteve numa posição como a sua. Não desde Truman em 1945. Não estendo a mão para o persuadir. Apenas para o encorajar.
Acredito que ouvirá do céu e que essa voz é muito mais importante do que a minha ou a de QUALQUER outra pessoa.
Enviaste-me a Israel para ser os teus olhos, ouvidos e voz e para garantir que a nossa bandeira está hasteada na nossa embaixada. O meu trabalho é ser o último a sair.
Não abandonarei este posto. A nossa bandeira NÃO virá abaixo! Não procurou este momento. Este momento procurou-O!
É uma honra servi-lo!
Mike Huckabee”
Mike Huckabee é um pastor Baptista conhecido pelas suas posições Evangélicas (a Verdade só está nos Evangelhos), que foi comentador político com programas de televisão na Fox News, na TBN e na rádio (The Huckabee Report), governador do Arkansas de 1996 a 2007, candidato presidencial à Casa Branca em 2008 e de novo em 2016, desistindo a favor de Trump. Em 2025 foi nomeado Embaixador em Israel, cargo que atualmente exerce.
A carta enviada ao presidente Trump, para além de expressar uma devoção pessoal, quase subserviência, que tem para com o seu chefe, reflete bem as suas posições sobre Israel e a Palestina que desde sempre tem defendido.
Huckabee é um forte defensor de Israel, opondo-se à criação de um Estado palestiniano e rejeitando a identidade palestiniana como "uma ferramenta política para tentar forçar a tomada de terras por Israel". Em 2008, afirmou que "não existe realmente algo como um palestiniano". Em 2017, num acontecimento na Cisjordânia, declarou: "Não existe Cisjordânia — é Judeia e Samaria. Não existe povoação. São comunidades. São bairros. São cidades. Não existe ocupação."
Recentemente, a 1 de junho de 2025, disse que, se a França quer um Estado palestiniano, então que o “acolha” na Riviera Francesa.
Mas nesta carta, para além do fundamentalismo religioso expresso, o mais perturbador são a referência feita a Truman em 1945 (uma referência à última e única vez que um líder nacional usou armas atómicas contra um Estado inimigo), e a referência feita a Butler, a localidade em que como sabemos o próprio Trump afirma ter passado por uma transformação religiosa depois de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato (‘It changed something in me’: Trump admits attemped assassination transformed his belief in God).
Um convite ao bombardeamento atómico de outra nação (neste caso, do Irão) em nome de Deus por um escolhido de Deus. E ainda vamos no século XXI.
O que há de diferente desta vez relativamente à decisão de invadir o Iraque em 2003 em que o período que antecedeu o conflito foi repleto de alegações alarmistas que se revelaram falsas (o vice-presidente Dick Cheney declarou: "Não há dúvida de que Saddam Hussein possui agora armas de destruição maciça. Não há dúvida de que as está a acumular para usar contra os nossos amigos, contra os nossos aliados e contra nós". O presidente George W. Bush afastou a verificação dos factos como um impedimento insustentável: "Não podemos esperar pela prova final — a prova cabal — que pode vir sob a forma de uma nuvem em forma de cogumelo.") é que agora essa decisão manifesta-se às claras com base num fundamentalismo religioso. Neste aspecto, Israel já ganhou.
Em qualquer dos casos, quer porque Trump se julgue verdadeiramente o ungido por Deus ou porque pretenda testar mais um dos limites do seu poder real (o de decidir uma ação de guerra sem autorização do Congresso), o destino está traçado. Por agora.
Nota: este artigo foi escrito antes do bombardeamento feito pelos EUA ao Irão, ocorrido a 22 de junho. Contudo, entendi mantê-lo por continuar a parecer-me esclarecedor.
Percebe-se agora melhor a razão porque Trump publicitou aquela carta do embaixador Huckabee.