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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

(508) Destruição como progresso

Tempo estimado de leitura: 5 minutos.

 

Tornou-se necessário destruir a cidade para a salvar.

 

Nunca saberemos ao certo o número de civis que morreram.

 

É necessário destruir o Partido Republicano para o salvar.

 

A Ucrânia deve reduzir a idade de mobilização dos atuais 25 anos para os 18 anos, para aumentar o número de homens em idade de combater.

 

 

 

 

BEN TRE

 

Durante a guerra do Vietname, a 7 de fevereiro de 1968, bombas, foguetes e napalm destruíram grande parte da cidade sul-vietnamita de Ben Tre, matando centenas de civis que ali viviam.

Nessa mesma quarta-feira, um oficial norte-americano, o Major Peter Booris, explicou ao repórter da Associated Press, Peter Arnett, porque se tomou a decisão de destruir a cidade, o que levou Arnett a usar essa explicação como abertura para o artigo que veio publicado nos principais jornais americanos a 8 de fevereiro de 1968:

 

 “Tornou-se necessário destruir a cidade para a salvar”.

 

O que se estava a dizer era que para impedir que esta cidade do Delta do Mekong de 35.000 habitantes, 72 quilómetros a sudoeste de Saigão, fosse tomada pelas tropas comunistas vietcongues, os comandantes americanos decidiram que, independentemente das baixas civis, a cidade deveria ser bombardeada.

 

Depois de a história de Arnett ter sido publicada nos jornais na manhã seguinte, 8 de fevereiro de 1968, a explicação do então major anónimo tornou-se uma das citações mais famosas relacionadas com a guerra na história moderna.

Oficialmente, a razão pela qual “se tornou necessário destruir a cidade” é que esta tinha sido infiltrada por milhares de vietcongues.

Assim, segundo esse raciocínio, tentar expulsar os VC em combates ao nível do solo, de rua em rua, teria provocado um elevado número de baixas americanas e ainda de mais baixas civis.

 

Eis a descrição de Arnett sobre o acontecimento:

 

Conselheiros norte-americanos disseram que o pesado poder de fogo aliado lançado sobre a cidade para expulsar os vietcongues provavelmente contribuiu em grande parte para a morte de pelo menos 500 civis e possivelmente de 1.000. As autoridades sul-vietnamitas dizem que os inimigos mortos totalizaram 451. Cerca de 50 soldados vietnamitas morreram, juntamente com mais de 20 americanos… O coronel James Dare, de Chicago, comandante da Equipa Consultiva 93 dos EUA, afirmou “nunca saberemos ao certo o número de civis que morreram…”

 

 

UM MÊS DEPOIS:

 

A revista Life, 8 de março de 1968, mostra-nos fotografias do que foi a cidade de Hué, Vietname, depois de as bombas americanas terem reduzido grande parte a escombros, num esforço para retomar o controlo da cidade dos Vietcong.

Numa das legendas das fotos, pode ler-se:

 

Em jardins esventrados que antes cresciam verdes, sobre os escombros onde antes existia uma graciosa torre, os fuzileiros navais dos EUA avançam debaixo de fogo. Eis um paradoxo da guerra: a única forma de vencer Hué seria destruindo-a.

 

 

DRESREN

 

O bombardeamento de cidades foi extensivamente utilizado na Segunda Guerra, com argumentos idênticos. Os que deram maior brado foram os de Dresden, não pelo número de mortos nem pela totalidade de bombas lançadas (Colónia, Essen, Hamburgo, Munique, Berlim, Leipzig), mas pela utilização de bombas incendiárias que devido a condições locais conduziram à inceneração de milhares de habitantes.

 À época, a primeira grande “experiência”, foi o bombardeamento nazi (a pedido de Franco) sobre a indefesa Guernica (26 de abril de 1937).

 

 

HIROSHIMA, NAGASAQUI

 

A 6 e 9 de agosto de 1945 foram lançadas as primeiras bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui que, para além das destruições quase totais, levaram à morte de 150.000 a 246.000 pessoas, na sua grande maioria civis.

A justificação oficial para o uso das bombas atómicas sobre cidades foi, e é, que a sua utilização permitiu terminar com a guerra o mais cedo possível com um mínimo de casualidades, quer de parte dos civis quer de parte dos militares americanos.

 

 

ATUALIDADE NOS EUA

 

Scott Galupo, escritor freelancer e comentador político americano, no artigo de opinião publicado na revista The Week, novembro de 2017:

 

É necessário destruir o Partido Republicano para o salvar. Aquilo a que chamamos “Trumpismo” – a política demagógica do identitarismo branco – existe agora independentemente do Presidente Trump. O que não nos deve surpreender, uma vez que Trump não inventou o trumpismo; apenas aproveitou o seu potencial eleitoral de uma forma que nenhum candidato presidencial tinha feito antes.... Tenho uma solução radical: abandonar este Partido Republicano e começar a construir uma nova coligação. O partido que temos agora é como a cidade vietnamita de Ben Tre: está infestada de guerrilheiros trumpistas.”

 

 

ATUALIDADE NA UCRÂNIA

 

Segundo a Associated Press (Washington), a administração do Presidente Joe Biden insta a Ucrânia a aumentar rapidamente o tamanho das suas forças armadas, recrutando mais tropas e renovando as suas leis de mobilização para permitir o recrutamento de jovens com apenas 18 anos.

 

 Um alto funcionário do governo de Biden, que falou sob anonimato para discutir as consultas privadas, disse na quarta-feira que o governo democrata cessante deseja que a Ucrânia reduza a idade de mobilização dos atuais 25 anos para os 18 anos, para aumentar o número de homens em idade de combater.

 O responsável disse que segundo “a matemática pura” da situação atual da Ucrânia, esta precisa de mais tropas no combate.

 

 Acontece que dificilmente resta um número significativo de jovens entre os 18 e os 25 anos de idade na Ucrânia. Se esta coorte diminuir ainda mais devido a mortes sem sentido, o futuro da Ucrânia será ainda mais sombrio do que é agora.

Segundo os dados da “Demografia da Ucrânia” na Wikipédia, a Ucrânia tem uma população de cerca de 40 milhões. Mas o número real da população nas áreas sob controlo do governo ucraniano é atualmente de apenas cerca de 20 milhões, metade dos quais são pessoas em idade de reforma. A convocação dos poucos homens com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos não ajudará a vencer a guerra, mas irá, com o tempo, despovoar ainda mais a Ucrânia.

Mesmo sem sacrificar a sua juventude, as perspetivas demográficas da Ucrânia são já más:

 A taxa de fertilidade total da Ucrânia – o número médio de bebés por mulher em idade fértil – é atualmente de 0,7, a mais baixa do mundo. A demografia do país foi ainda mais afetada por um êxodo em massa para o Ocidente e por baixas significativas no campo de batalha, ao ponto de a própria sobrevivência da nação estar em causa, segundo um think tank financiado pelo governo ao The Times no início deste ano.

 

 “A esperança de vida masculina diminuiu de 66-67 anos antes da guerra para 57-58”, disse Ella Libanova, chefe do Instituto de Demografia e Estudos Sociais da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia. Apenas quatro países africanos – Chade, Nigéria, Lesoto e República Centro-Africana – têm esperanças de vida mais baixas.

 

Ou seja, a seguir-se a "matemática pura" ordenada por Washington, tal acabará por garantir que não haverá mais futuros ucranianos por quem lutar.

 

 

WELTHAUPTSTADT GERMANIA

 

A Nova Berlim, Germania Capital do Mundo, que seria a cidade capital do Grande Reich Alemão depois da vitória na Segunda Guerra, começou a ser construída em 1938 para estar pronta em 1950.

A sua construção inicial, de acordo com o “Plano Compreensivo de Construção para a capital do Reich” a cargo de Albert Speer, implicou grande demolição de bairros de Berlim, começando evidentemente pelos bairros judeus.

Eis o que diz o decreto assinado por Hitler:

 

No mais curto espaço de tempo possível, Berlim deve ser reconstruída e adquirir a forma que lhe é devida através da grandeza da nossa vitória como capital de um novo e poderoso império. Na conclusão daquela que é hoje a tarefa arquitetónica mais importante do país, vejo o contributo mais significativo para a nossa vitória final. Espero que esteja concluído até ao ano de 1950”. [sublinhado no original]

 

Após a invasão falhada da União Soviética que Hitler antevira como sendo uma “guerra relâmpago” (blitzkrieg), a construção da “Germania” foi definitivamente suspensa em março de 1943.

 

 

GAZA

 

Os planos israelitas para as novas construções “à beira-mar” para estarem prontos em 2035 (https://www.dezeen.com/2024/05/28/gaza-2035-redevelopment-benjamin-netanyahu/).

A destruição criativa.

 

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