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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

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(415) A hegemonia americana não aconteceu

Tempo estimado de leitura: 11 minutos.

 

O Plano Estratégico dos EUA implica assegurar que os rivais não se desenvolvam, The New York Times, 8 de março de 1992.

 

Esse Plano Estratégico defende um mundo dominado por uma superpotência cuja posição pode ser perpetuada por comportamento construtivo e poderio militar suficiente para impedir qualquer nação ou grupo de nações de desafiar a primazia americana.

 

Everything south of the Mexican border is America’s front yard, Presidente Biden.

 

 

 

 

Há duas curtas citações que me parecem importantes para início do tema. Uma de Harold Pinter, a propósito de se viver num tempo em que a mentira é a norma e em que os interesses políticos e económicos se disfarçam por baixo das causas mais nobres e inocentes:

 

 “Nunca aconteceu nada. Mesmo quando estava a acontecer, não estava a acontecer. Não tinha importância. Não tinha interesse …” (1)

 

Outra, do  filósofo italiano Antonio Negri (1933 -), um dos primeiros a definir e identificar o conceito de Império (2000) como uma nova forma de soberania, distinta do imperialismo, pelo facto de não estabelecer nenhum centro de poder e por não se sustentar em fronteiras ou barreiras fixas, o que faz com que o seu domínio não tenha limites, e ainda por se apresentar como um regime histórico que não se origina pela conquista.

Tem ainda características como a de dominar e operar em todos os registos da ordem social, penetrando até ao mais profundo do mundo social. Não só regula as interações humanas, como ainda procura governar diretamente toda a natureza humana:

 

 “O império não só governa um território e uma população, com também cria o mundo que habita.” (2)

 

Adiante:

Uma das coisas interessantes sobre o filme de Orson Welles de 1941, Citizen Kane, foi o título que lhe foi dado em português: “O Mundo a Seus Pés”. Como sabem, o filme, para além daquelas inovações técnico-estéticas que os nossos amigos cinéfilos muito gostam de apreciar-comentar, relatava a história de um magnata da comunicação social que quase chegou a ser dono de tudo exceto do amor que sempre lhe escapou.

Bem sei que a tradução literal como “Cidadão Kane”, seria incompreensível na altura, e mesmo com um salto de dezenas de anos para a atualidade não teria o efeito desejado, pois provavelmente alguém ainda pensaria tratar-se de um filme sobre o jogador de futebol do Tottenham. “Dono disto tudo” talvez fosse jornalística e politicamente mais compatível. Creio, contudo, que nestes tempos atuais de gerações “as mais bem preparadas” (o que isto quer dizer é outra história), não duvido que o título original, Citizen Kane, seria hoje o mais aceite e compreendido. E isto foi a primeira lição em hegemonia.

 

Quando Pôncio Pilatos resolveu lavar as mãos sobre o pedido das forças políticas-religiosas- endinheiradas da região da Judeia para que julgasse Cristo, mais não fez do que afirmar o que era a hegemonia de Roma sobre uma insignificante colónia que só lhe interessava para o recebimento de impostos, o que efetivamente não era aquele caso do possível aparecimento de mais uma religião de que o tão império romano tinha em abundância e que ainda por cima até proclamava que se devia dar “a César o que é de César”. Lavar as mãos como símbolo da hegemonia sobre um povo, um território, uma religião. Lição segunda.

 

Quando a Igreja Católica resolveu suspender a realização da missa em latim, estava simultaneamente a dar uma indicação de perca de hegemonia (as suas leituras não eram já possíveis de serem apreciadas-impostas) e de permanência hegemónica de Roma, não da Igreja, mas do Império (ao reverter para as línguas romanas locais). Lição terceira.

 

Quando o Reino Unido dominava o mundo através do seu Império Britânico e das suas Companhias, e os seus súbditos se passeavam intocáveis (eles sim os verdadeiros intocáveis que não os indianos) porque a qualquer interferência ou pequeno revés a Marinha britânica era convocada para obrigar à vassalagem quem quer que fosse e em qualquer lugar, isso sim era verdadeira hegemonia como até hoje nunca os americanos conseguiram. Hegemonia perdida já há uns tempos, não sei se esses súbditos notaram, mas que atinge hoje a conclusão final quando o Rei Carlos convida para a sua cerimónia de coroação artistas seus súditos (Elton, Adele e Harry Styles, Ed Sheeran, Robbie Williams e Spice Girls) e estes publicamente recusam. Lição quarta.

 

Quanto aos americanos, também desde muito cedo têm os seus governos sempre intentado conseguir a hegemonia mundial, como se pode esquematicamente  ver através das várias atitudes e declarações feitas ao longo do tempo.

Começando logo em 1823 com a célebre “Doutrina Monroe segundo a qual se pretendeu opor ao colonialismo europeu no hemisfério ocidental (o problema de Espanha no México), sua ampliação posterior para cobrir a anexação do Havai (nenhuma nação europeia deveria interferir com a expansão americana), o “Corolário Roosevelt” de 1904 assegurando o direito dos EUA intervirem militarmente em todos os casos da América Latina (“polícias do hemisfério”), a posterior “Doutrina Monroe Global” de Woodrow Wilson que em 1918 estendeu a supremacia americana a todo o mundo (talvez o começo do imperialismo americano),  John F. Kennedy que em agosto de 1962 dizia numa conferência:

 

A Doutrina Monroe significa o que significa desde que o Presidente Monroe e John Quincy Adams a enunciaram, e que diz que nós nos devemos opor a qualquer potência estrangeira que queira estender o seu poder para o Hemisfério Ocidental […]”

 

E em março de 2019, o assessor para a Segurança Nacional, John Bolton, expressava que “nesta administração [de Trump], não temos medo de usar a palavra Doutrina Monroe […] É objetivo dos presidentes americanos desde Ronald Reagan o terem um hemisfério completamente democrático”.

 

Tudo isto se baseia em planos estratégicos que os governos dos EUA vêm periodicamente elaborando e atualizando, definindo obviamente as suas opções, que se vão, ou não concretizando.

A 08 de março de 1992, o The New York Times publicou um artigo de Patrick Tyler intitulado “O Plano Estratégico dos EUA implica assegurar que os rivais não se desenvolvam”, contendo  a Orientação para o Planeamento de Defesa para os anos pós-guerra fria, ou seja, como os EUA viam e queriam atuar no mundo para continuarem a ser a potência hegemónica.

Cito aqui partes desse artigo que começa assim:

 

“Numa ampla e nova declaração de política que está em fase final de redação, o Departamento de Defesa afirma que a missão política e militar dos Estados Unidos na era pós-guerra fria será a de garantir que a nenhuma superpotência rival seja permitida emergir na Europa Ocidental, Ásia ou no território da antiga União Soviética.

Um documento de 46 páginas que circula há semanas nos mais altos escalões do Pentágono e que o secretário de Defesa, Dick Cheney, espera divulgar ainda este mês, afirma que parte da missão americana será "convencer potenciais concorrentes de que não precisam aspirar a desempenhar um papel maior ou adotar uma postura mais agressiva para proteger os seus legítimos interesses."

O documento confidencial defende um mundo dominado por uma superpotência cuja posição pode ser perpetuada por comportamento construtivo e poderio militar suficiente para impedir qualquer nação ou grupo de nações de desafiar a primazia americana.

Rejeitando a Abordagem Coletiva

Para perpetuar esse papel, os Estados Unidos "devem ter uma suficiente consideração para com os interesses das nações industrializadas avançadas por forma a desencorajá-las de desafiar a nossa liderança ou tentar derrubar a ordem política e económica estabelecida", afirma o documento.

 

Com foco nesse conceito de dominação benevolente de uma potência, o documento do Pentágono articula a mais clara rejeição feita até hoje do internacionalismo coletivo, estratégia que emergiu da Segunda Guerra Mundial quando as cinco potências vitoriosas procuraram formar uma Organização das Nações Unidas que pudesse mediar disputas e surtos de violência política. […]

Juntamente com seus anexos nos níveis de força necessários para assegurar o papel predominante da América, o rascunho da política é uma justificativa detalhada para a proposta de "força de base" do governo Bush de criar um exército de 1,6 milhão de efetivos nos próximos cinco anos, a um custo de cerca de US$ 1,2 triliões. Muitos democratas no Congresso criticaram a proposta como desnecessariamente cara. […]

 

No seu parágrafo de abertura, o documento de política anuncia a vitória "menos visível" no fim da Guerra Fria, que define como "a integração da Alemanha e do Japão num sistema de segurança coletiva liderado pelos Estados Unidos e a criação de um sistema democrático ‘zona de paz.' "

A continuação desse objetivo estratégico explica a forte ênfase noutras partes do documento e noutros planos do Pentágono sobre o uso da força militar, se necessário, para impedir a proliferação de armas nucleares e outras armas de destruição em massa em países como Coreia do Norte, Iraque, alguns das repúblicas sucessoras da União Soviética e na Europa. […]

Ignorada a ação da ONU.

O documento é visivelmente desprovido de referências à ação coletiva por meio das Nações Unidas, que garantiu o mandato para o ataque aliado às forças iraquianas no Kuwait e que em breve poderá ser solicitado a fornecer um novo mandato para forçar o presidente Sadam Hussein a cumprir com as suas obrigações de cessar-fogo.

O rascunho observa que as coligações "têm uma promessa a considerar para promover a ação coletiva", como na guerra do Golfo Pérsico, mas que "devemos esperar que as coligações futuras sejam assembleias ad hoc, muitas vezes não durando para além da crise enfrentada e, em muitos casos, portadoras apenas do acordo geral sobre os objetivos a serem alcançados”.

 

O que é mais importante, diz ele, é "a sensação de que a ordem mundial é, em última análise, apoiada pelos EUA" e "os Estados Unidos devem estar posicionados para agirem de forma independente quando a ação coletiva não puder ser orquestrada" ou numa crise que exija uma resposta rápida.

Funcionários do governo Bush vêm dizendo publicamente há algum tempo que estão dispostos a trabalhar no âmbito das Nações Unidas, mas que se reservam a opção de agir unilateralmente ou por meio de coligações seletivas, se necessário, para proteger os interesses americanos vitais. […]

Em contraste, o novo rascunho esboça um mundo em que há uma potência militar dominante cujos líderes “devem manter os mecanismos para dissuadir concorrentes potenciais de aspirar a um papel regional ou global mais amplo”.

Enviar para Administradores

O documento é conhecido na linguagem do Pentágono como Orientação de Planeamento de Defesa, […] será emitido ainda este mês pelo Secretário de Defesa Cheney. De acordo com um memorando de 18 de fevereiro do vice do Sr. Wolfowitz, Dale A. Vesser, a orientação política será emitida com um conjunto de cenários "ilustrativos" para possíveis futuros conflitos estrangeiros que possam atrair as forças militares dos Estados Unidos para combate.

Esses cenários, emitidos separadamente para os serviços militares a 4 de fevereiro, foram detalhados num artigo do New York Times no mês passado. Eles postularam guerras regionais contra o Iraque e a Coreia do Norte, bem como um ataque russo à Lituânia e contingências militares menores que as forças dos Estados Unidos poderiam enfrentar no futuro. […]

Medos da Proliferação

Ao avaliar as ameaças futuras, o documento coloca grande ênfase em como "o uso real de armas de destruição em massa, mesmo em conflitos que de outra forma não envolveriam diretamente os interesses dos EUA, poderia estimular uma maior proliferação que, por sua vez, ameaçaria a ordem mundial".

“Os EUA podem-se deparar com a questão de tomar medidas militares para impedir o desenvolvimento ou uso de armas de destruição em massa”, afirma, observando que essas medidas podem incluir a prevenção de um ataque iminente com armas nucleares, químicas ou biológicas. "ou punir os agressores ou ameaçar punir os agressores por vários meios", incluindo ataques às fábricas que fabricam tais armas.[…]

 

Pela primeira vez desde que o processo de “Orientação do Planeamento de Defesa” foi iniciado para moldar a política de segurança nacional, o novo rascunho afirma que a fragmentação do antigo estabelecimento militar soviético eliminou a capacidade de qualquer potência sucessora travar uma guerra convencional global.

Mas o documento qualifica a sua avaliação, dizendo: "não descartamos os riscos para a estabilidade na Europa de uma reação nacionalista na Rússia ou esforço para reincorporar à Rússia as recém-independentes repúblicas da Ucrânia, Bielorrússia e possivelmente outras".

 

Diz ainda que, embora os planos de alvos nucleares dos EUA tenham mudado "para dar conta dos desenvolvimentos bem-vindos nos estados da ex-União Soviética", as armas nucleares estratégicas dos EUA continuarão a visar aspetos vitais do antigo estabelecimento militar soviético. A justificativa para a continuação dessa política de direcionamento é que os Estados Unidos "devem continuar a colocar em risco os ativos e capacidades que os atuais - e futuros - líderes russos ou outros adversários nucleares mais valorizam" porque a Rússia continuará a ser "a única potência no mundo com a capacidade de destruir os Estados Unidos."[…]

Plano para a Europa

Na Europa, o documento do Pentágono afirma que "uma presença americana substancial na Europa e a coesão contínua dentro da aliança ocidental permanecem vitais", mas para evitar o desenvolvimento de uma relação competitiva, "devemos procurar impedir o surgimento de acordos de segurança apenas europeus que prejudicaria a OTAN."

 

O rascunho afirma que, com a eliminação das armas nucleares de curto alcance dos Estados Unidos na Europa e de armas similares no mar, os Estados Unidos não devem contemplar a retirada de suas aeronaves de ataque nuclear baseadas na Europa e, no caso de uma ameaça ressurgente de Rússia, "devemos planejar a defesa contra tal ameaça" mais adiante nos territórios da Europa Oriental "caso haja uma decisão da Aliança para fazê-lo."

Esta declaração oferece um compromisso explícito de defender as antigas nações do Pacto de Varsóvia da Rússia. Isso sugere que os Estados Unidos também poderiam considerar estender aos países da Europa Oriental e Central compromissos de segurança semelhantes aos estendidos à Arábia Saudita, Kuwait e outros estados árabes ao longo do Golfo Pérsico. E para ajudar a estabilizar as economias e o desenvolvimento democrático na Europa Oriental, o projeto apela à Comunidade Europeia para oferecer a adesão aos países da Europa Oriental o mais rápido possível.

 

No Leste Asiático, diz o relatório, os Estados Unidos podem reduzir ainda mais suas forças, mas "devemos manter o nosso estatuto de potência militar de primeira grandeza na área. Isso permitirá que os Estados Unidos continuem a contribuir para a segurança e a estabilidade regionais, atuando como uma força de equilíbrio e evitando o surgimento de um vácuo ou de uma hegemonia regional." […]

Caso as negociações de paz entre as duas Coreias sejam bem-sucedidas, o rascunho recomenda que os Estados Unidos "devem procurar manter uma relação de aliança com uma Coreia democrática unificada".

 

 

E até onde vão atualmente os interesses da América que não possam ser violados e que impliquem uma retaliação? Ou melhor, o que são atualmente para a América as suas fronteiras? São muito diferentes das que até aqui têm sido consideradas?

 

Para sul, eis uma declaração recente do Presidente Biden em que considera que tudo para sul a partir do México (inclusive) é o “quintal da frente da América” (“Everything south of the Mexican border is America’s front yard”).

E para leste, eis uma declaração da Secretária da imprensa Jen Psaki de 24 de janeiro de 2022 do seu  briefing à imprensa em que considera que a Ucrânia faz parte do que são as fronteiras americanas a leste.

E na região do Indo-Pacífico, eis o que o embaixador na China, Nicholas Burns, afirma, com base no documento da Casa Branca sobre a estratégia para essa região de fevereiro de 2022:

 

Os Estados Unidos são uma potência do Indo-Pacífico. A região, que se estende desde a costa do Pacífico até ao Oceano Índico, abriga mais da metade da população mundial, quase dois terços da economia mundial e sete das maiores forças armadas do mundo. Nesta região, estão baseados mais militares das forças armadas dos EUA do que em qualquer outra região fora dos Estados Unidos. Ela comporta mais de três milhões de empregos americanos e é a fonte de quase US$ 900 biliões em investimento estrangeiro direto nos Estados Unidos. Nos próximos anos, à medida que a região se tornar responsável por até dois terços do crescimento económico global, a sua influência só aumentará — assim como a sua importância para os Estados Unidos […]

 

Num cenário estratégico em rápida mudança, reconhecemos que os interesses americanos só podem ser promovidos se ancorarmos firmemente os Estados Unidos no Indo-Pacífico e fortalecermos a própria região, ao lado dos nossos aliados e parceiros mais próximos.

 

Essa intensificação do foco americano deve-se em parte ao facto de o Indo-Pacífico enfrentar desafios crescentes, principalmente da República Popular da China (RPC). A RPC está a tentar combinar o seu poderio económico, diplomático, militar e tecnológico enquanto procura uma esfera de influência no Indo-Pacífico, procurando tornar-se a potência mais influente do mundo. A coerção e agressão da RPC abrange todo o globo, mas é mais aguda no Indo-Pacífico. Da coerção económica à Austrália ao conflito ao longo da Linha de Controle Real com a Índia, à pressão crescente sobre Taiwan e à intimidação de vizinhos nos mares do leste e do sul da China, os nossos aliados e parceiros na região arcam com grande parte do custo do comportamento prejudicial da RPC. No processo, a RPC está também a subverter os direitos humanos e o direito internacional, incluindo a liberdade de navegação, bem como outros princípios que trouxeram estabilidade e prosperidade ao Indo-Pacífico.

 

Os nossos esforços coletivos ao longo da próxima década, determinarão se a RPC conseguirá transformar as regras e normas que beneficiaram o Indo-Pacífico e o mundo. Da nossa parte, os Estados Unidos estão a investir nas fundações da nossa força interna, alinhando a nossa abordagem com a dos nossos aliados e parceiros no exterior e competindo com a RPC para defender os interesses e a visão de futuro que compartilhamos com outros. Vamos fortalecer o sistema internacional, mantê-lo com base em valores compartilhados e atualizá-lo para enfrentar os desafios do século XXI. O nosso objetivo não é mudar a RPC, mas moldar o ambiente estratégico em que ela opera, construindo um equilíbrio de influência no mundo que seja o mais favorável possível aos Estados Unidos, aos nossos aliados e parceiros e aos interesses e valores que compartilhamos.”

 

É desta forma que os Estados Unidos como potência hegemónica dominante, para o qual tem vindo a trabalhar e sacrificar, pretende manter essa posição. Os dados estão lançados.

E todos os outros o sabem. O objetivo é obter a supremacia do capitalismo global americano ao impedir o aparecimento de qualquer outra superpotência que potencialmente possa competir.

Atente-se no comentário de 3.900 palavras que o Ministro dos Negócios Estrangeiros da China fez em fevereiro de 2023 para condenar os quase 80 anos da hegemonia americana política, militar, económica, tecnológica e cultural, e que aqui se reproduz. Ninguém é ingénuo.

 

 

Há duas curtas citações que me parecem importantes para fim de tema. Uma, do  filósofo italiano Antonio Negri (1933 -), um dos primeiros a definir e identificar o conceito de Império (2000) como uma nova forma de soberania, distinta do imperialismo, pelo facto de não estabelecer nenhum centro de poder e por não se sustentar em fronteiras ou barreiras fixas, o que faz com que o seu domínio não tenha limites, e ainda por se apresentar como um regime histórico que não se origina pela conquista.

Tem ainda características como a de dominar e operar em todos os registos da ordem social, penetrando até ao mais profundo do mundo social. Não só regula as interações humanas, como ainda procura governar diretamente toda a natureza humana:

 

 “O império não só governa um território e uma população, com também cria o mundo que habita.”

 

Outra, de Harold Pinter, a propósito de se viver num tempo em que a mentira é a norma e em que os interesses políticos e económicos se disfarçam por baixo das causas mais nobres e inocentes:

 

 “Nunca aconteceu nada. Mesmo quando estava a acontecer, não estava a acontecer. Não tinha importância. Não tinha interesse …

 

 

 

Notas:

 

1 Consta do blog de 22 de junho de 2016, “A mulher de César”,

https://otempoemquevivemosotempoemquevivemos.blogs.sapo.pt/a-mulher-de-cesar-17185). 

2 Consta do blog de 30 de novembro de 2016, “A captura da democracia”,

 https://otempoemquevivemosotempoemquevivemos.blogs.sapo.pt/a-captura-da-democracia-pelas-falsas-24001 ).

 

 

 

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