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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

(395) Gasoduto ao fundo!

Tempo estimado de leitura: 10 minutos.

 

Para os inquiridores de muitas e vastas coisas com o objetivo de tentar explicar o mundo.

 

A massa do aço do gasoduto é equivalente a quase 500 vezes o peso de aço da Torre Eiffel (que pesa cerca de 10.000 toneladas), correndo ao longo de uma distância 4.000 vezes a altura da Torre.

 

A era do gás barato na Europa está definitivamente encerrada após este ataque energético.

 

A competitividade chinesa será impulsionada por este gás que agora recusamos. No futuro seremos solicitados a compensar essa falta de competitividade reduzindo as nossas conquistas sociais.

 

 

 

 

 

Mesmo quando o termo Pré-socráticos apareceu no século XIX, numa tentativa para melhor se definir a separação entre aqueles pensadores da antiga Grécia que se preocupavam principalmente com a especulação cosmológica e física e os outros que apareceram depois de Sócrates (o que até nem era correto na medida em que alguns deles foram contemporâneos de Sócrates e de Platão) particularmente interessados com os problemas morais (o que também não era correto porque alguns deles se debruçaram sobre questões de ética e da melhor maneira de se viver a vida), talvez o mais importante do que essa diferenciação para efeitos de catalogação seja o que os une: inquiridores de muitas e vastas coisas com o objetivo de explicar o mundo.

Para tal, necessitavam todos eles de estarem imersos no mundo, para dele receberem o maior número de influências possível. Tal como hoje, para se tentar compreender o mundo, ter uma ideia sobre o que se passa nele, passa por quebrar as barreiras entre filosofia, política, economia, ciência.

Como escreveu Magalhães-Vilhena num comentário às Teses para Feurbach, “não é apenas o pensamento do homem, mas o homem inteiro, com o pensamento e todo o seu corpo material: com o cérebro e as mãos – pensa agindo e age pensando.”

É com essa intenção que aqui transcrevo um recente artigo de  Oliver Berruyer, “O atentado ao Nord Stream: vão as nossas economias resistir ao choque?” sobre um dos acontecimentos que maior impacto virá a ter nas nossas vidas.

 

Começa assim:

 

A 26 de setembro de 2022, a Europa assistiu ao pior atentado energético da sua história com uma indiferença quase geral, devido à cobertura insuficiente dos meios de comunicação social. Mais orientada para a procura dos culpados sem o menor elemento de prova, a imprensa esqueceu-se de explicar o essencial: o que este grande acontecimento vai fazer mudar concretamente para nós, o nosso abastecimento energético e a nossa sobrevivência económica. […]

 

 

Nord Stream: o equivalente a 500 Torres Eiffel submersas

 

Para entender a sequência dos acontecimentos, é preciso primeiro conhecerem-se as características deste gasoduto submarino. Ele é construído montando e soldando segmentos de aço de 12 metros de comprimento, com um pouco mais de 1 metro de diâmetro e 4 cm de espessura, cada um deles pesando 12 toneladas. São muito grossos e sólidos, para poderem suportar as pressões internas muito altas no gasoduto. Depois são recobertos com uma camada de betão de 8 cm de espessura, também pesando 12 toneladas, o que permite torná-los suficientemente pesados para que se afundem e permaneçam no fundo.

Esses segmentos têm cada um 12 metros de comprimento para poderem ser transportados por um meio-trailer.

Como o gasoduto tem 1.220 km de extensão, cada tubo é feito pela junção de aproximadamente 100.000 segmentos, pesando, portanto na totalidade, 2.400.000 toneladas.

Os 4 tubos que constituem o Nord Stream pesam assim, cerca de 10 milhões de toneladas no total, contando já com os 5 milhões de toneladas de aço. Esta única massa de aço é equivalente a quase 500 vezes o peso de aço da Torre Eiffel (que pesa cerca de 10.000 toneladas), correndo ao longo de uma distância igual a 4.000 vezes a altura da Torre.

 

Os segmentos são depois transportados para o barco de montagem especializado. Eles são soldados uns aos outros no barco e descarregados continuamente a uma velocidade de quase 3 km por dia (ou seja, 1 segmento colocado a cada 7 minutos) e vão descendo para o fundo do mar unicamente pela ação do seu peso. [Ver imagem HD aqui e vídeo aqui]

Se a água tiver menos de 14 metros de profundidade, o gasoduto é enterrado; para além disso, assenta simplesmente no fundo – o que obviamente o torna muito vulnerável em caso de sabotagem.

 

A sabotagem do Nord Stream

 

A 26 de setembro de 2022, foram detetadas por sismógrafos dinamarqueses e suecos às 2h03 e 19h03, duas explosões muito fortes, a priori duplas, de magnitude 2,3 e 2,1 na escala Richter.

Em seguida foram detetados nos tubos Nord Stream 3, e logo de seguida quatro grandes fugas de gás de 200 metros de largura. Parece que as quatro explosões afetaram apenas três dos quatro tubos: as linhas A e B do Nord Stream 1 e a linha A do Nord Stream 2, que, portanto, teriam sido atingidas duas vezes; a linha B deste último foi poupada. As primeiras estimativas falavam de 500 a 700 quilos de explosivos.

Nos dias seguintes o fluxo foi secando gradualmente, tendo a água invadido parcialmente os tubos substituindo o gás, sendo o fornecimento de gás cortado. Evaporaram-se milhões de metros cúbicos de gás.

 

Os gasodutos Nord Stream afetados estarão provavelmente perdidos para sempre

 

Muitas pessoas pensam que para consertar essas fugas será suficiente isolar as secções. Na verdade, é bastante mais complicado. Este gasoduto foi concebido para ser muito resistente e para durar pelo menos 50 anos sem qualquer intervenção, tendo em conta a probabilidade de acontecer 1 acidente por cada 100.000 anos. Mas tudo isso sem contar com ataques. Não foi, portanto, concebido qualquer dispositivo que permita isolar seções.

O grande problema é que um gasoduto é muito sensível à água do mar, por uma simples razão: a parede interna dos tubos é feita de aço cru, muito sensível à oxidação e à corrosão. Essas paredes nuas são necessárias para que seja possível realizar a soldagem dos tubos nos barcos especializados.

Após a soldagem, a superfície externa passa por um tratamento anticorrosivo e é isolada. Mas não a superfície interna, que permanece em aço cru, aço que não é inoxidável. Normalmente, isso não constitui um problema, a menos que a água salgada penetre no tubo. A corrosão seria então rápida, podendo ocasionar risco de rutura, dadas as altas pressões internas.

Além disso, o gasoduto serpenteia a profundidades entre os 20 e os 200 metros. O ataque ocorreu numa área pouco profunda, cerca de 70 metros de profundidade. Dependendo dos efeitos de sifão, a água infiltrar-se-á por dezenas (se não centenas) de quilómetros, danificando irreparavelmente as bordas de cada tubo.

No melhor dos casos, seria necessário agir muito rapidamente nas secções alagadas para secá-las, o que constitui um trabalho colossal dependendo da distância. Após algumas semanas de inundação, essas seções provavelmente teriam que ser removidas e essas partes do gasoduto reconstruídas. Para isso, seria então necessário ter duas coisas:

 

- em primeiro lugar, equipamentos pesados ​​e altamente especializados; ora como estes gasodutos estão sob sanções ocidentais, tal afugentou todos os industriais não-russos;

 

- em segundo lugar, enormes meios financeiros que só poderiam, portanto, serem russos. É evidente, porém, que a Rússia, encontrando-se atualmente em guerra, está numa situação que não é compatível para suportar um investimento de vários milhares de milhões em gasodutos que, aliás, certamente nunca obteriam as autorizações necessárias para funcionarem, e, ainda por cima, para o fornecimento de gás para um cliente que dentro de poucos de anos deixaria de o necessitar.

 

Em resumo, é, portanto, muito provável que, na sequência desta sabotagem, três das quatro linhas dos gasodutos Nord Stream se percam definitivamente, e com elas 82 Gm3 (se não 110) de capacidade de transporte. O fornecedor russo perdeu pelo menos 15 biliões de euros neste ataque, o que equivale, por exemplo, ao preço de cinco porta-aviões. A era do gás barato na Europa está, portanto, definitivamente encerrada após este ataque energético.

 

Após o ataque: o que está realmente a acontecer?

 

Atualmente, o nosso abastecimento a partir da Rússia tem vindo a cair acentuadamente desde março. As entregas pelos gasodutos estão atualmente a 15% do nível de janeiro. Com efeito:

- o gasoduto Yamal não transporta gás desde maio de 2022, tendo a Polónia colocado a Gazprom sob sanções em 26 de abril, o que levou a Gazprom a interromper as suas entregas;

- o gasoduto Brotherhood reduziu as suas entregas para a Europa, tendo a Ucrânia, após a invasão russa, bloqueado o trânsito num dos ramais;

- o gasoduto Nord Stream 1 não estava em operação desde o início de setembro. Os russos indicaram que uma fuga de óleo exigia intervenção na turbina. Surgiram então desacordos. Por um lado, a Rússia alegou que não poderia resolver o problema das turbinas devido a problemas técnicos e legais devido às sanções que afetam os equipamentos operacionais, e declarou-se pronta para fornecer gás após o fornecimento de uma nova turbina pelo Ocidente. Por outro lado, a Europa criticou a Rússia por não querer entregar o gás por motivos políticos e para pressionar os europeus.

 

Devido à crise, a União Europeia armazenou muito gás durante o verão (antecipando este inverno), mas será mais difícil alcançar os níveis necessários em 2023 para o inverno seguinte, porque a procura mundial de gás provavelmente excederá em muito a oferta...

A Europa terá, portanto, de recorrer à Noruega - membro da NATO que se recusa a vender-nos o seu gás a um preço moderado -, à Argélia e aos países exportadores de Gás Natural Liquefeito (GNL).

 

GNL americano: a nova dependência energética?

 

As exportações globais de GNL (gás natural liquefeito) têm aumentado acentuadamente desde 2015, em particular devido ao crescimento das exportações da Austrália e dos Estados Unidos. As exportações globais de GNL agora representam o mesmo volume que as exportações de gasodutos.

No entanto, os recursos de GNL estão longe de ser infinitos. Isso significa que haverá acirrada concorrência global para comprar gás, e que o seu preço permanecerá permanentemente alto, em benefício dos países produtores e em detrimento dos países consumidores.

 

Enquanto o gás vendido por gasoduto é geralmente objeto de contratos vinculantes de longo prazo, a um preço fixado por períodos largos, o GNL, por outro lado, especialmente o americano, é vendido ao preço de mercado, quase no dia a dia, o que torna os preços altamente voláteis e a concorrência ainda mais acirrada.

 

Esta concorrência irracional do GNL é perfeitamente ilustrada com o exemplo do navio transportador de GNL Hellas Diana. Partindo dos Estados Unidos no final de novembro de 2021 para vender o seu gás na Ásia, este transportador de GNL fez meia-volta em 20 de dezembro (perdendo, portanto, um milhão de dólares em pedágios ao ter de cruzar de novo o Canal do Panamá na direção oposta) para ir vender o seu gás … na Inglaterra, onde um novo comprador havia superado a oferta – efetivamente privando a Ásia desse gás.

 

Esta crise energética revelar-se-á, portanto, muito lucrativa para alguns países, a começar pelo Qatar, Reino Unido e sobretudo Estados Unidos, que vendem o seu gás à União Europeia a 4 vezes o preço que cobram às suas próprias indústrias.

 

Após os ataques, os americanos nem esconderam a alegria diante desse novo mercado que se abria:

 

    “[Esses ataques contra o Nord Stream] também são uma grande oportunidade. Esta é uma tremenda oportunidade para erradicar a dependência da energia russa de uma vez por todas e, assim, privar Vladimir Putin de utilizar a energia como arma de guerra como meio de promover os seus desígnios imperiais. Isso é muito importante e oferece uma tremenda oportunidade estratégica para os próximos anos.” [Anthony Blinken, Secretário de Estado, 30/09/2022]

 

De facto, se os ataques contra o Nord Stream permitem que a Europa ponha fim à sua dependência da energia russa, eles recriam imediatamente uma nova dependência para com o GNL americano ao mesmo tempo muito caro e não sem consequências ambientais. Mas está claro que nossos "amigos" americanos parecem mais interessados ​​na atração do lucro do que no sombrio futuro económico do nosso continente...

 

Consequências políticas e climáticas importantes

 

No mercado de gás, além da Europa, os Estados Unidos têm outros clientes para satisfazer. Atualmente, vendem metade de seu gás (desta vez por gasoduto) para o Canadá e México, representando a Europa menos de 20% de suas exportações.

 

Além disso, a curto prazo, a Rússia não tem meios físicos para exportar para outros lugares todo esse gás que a UE não pode e não quer mais receber. A Rússia ficará, portanto, temporariamente excluída da possibilidade de vender uma das suas principais riquezas.

Mas mais, além do preço, o gás suplementar que será entregue à Europa para compensar a perda de gás russo, pelos Estados Unidos ou outros países, irá necessariamente faltar em outros países, o que provavelmente lhes causará importantes problemas econômicos e políticos. Todas as previsões de trocas futuras estão, portanto, obsoletas, pelo que as cartas terão de ser dadas de novo.

 

Existirão, também, consequências climáticas. As quantidades em falta, quando não são substituídas por carvão, que está a passar por um renascimento dramático, serão substituídas por GNL, que é quase 3 vezes mais poluente do que o gás entregue por gasoduto. Obviamente, as questões ecológicas ficam em segundo plano para os belicistas...

 

China, a grande beneficiária da crise energética?

 

A médio e longo prazo, a Rússia já anunciou o seu plano: voltar-se cada vez mais para a China. Em maio de 2014, assinou um contrato de 30 anos com a China, no valor de 400 biliões de dólares, e construiu o seu primeiro gasoduto Força Siberiana ligando-a à China. Este gasoduto, inaugurado em 2019, entregará cerca de 40 Gm3 em 2023 e 60 Gm3 em 2025, mais que o Nord Stream 1.

Em julho de 2022, foi anunciado o lançamento do projeto “Força Siberiana 2” para ligar a Sibéria Ocidental à China. O histórico gasoduto “Yamal – Europa” será assim substituído pelo “Yamal – China”. Como os alemães indicaram em fevereiro que se recusavam a autorizar que o Nord Stream 2 ficasse operacional, os russos finalmente declararam que ele seria substituído pelo "Força Siberiana 2" para vender o seu gás para a China e não para a Europa.

Em 22 de setembro de 2022, a Rússia anunciou a iminente assinatura de um acordo com a China para a entrega de 50 Gm3 por ano por meio deste gasoduto, que será iniciado em 2024 e estará operacional em 2030.

 

Também deve ser lembrado que em 4 de fevereiro de 2022, a Rússia e a China assinaram um contrato de energia no valor de quase US$ 120 biliões ao longo de 25 anos. Desse montante, quase 40 biliões corresponderam à venda de 10 Gm3, a US$ 0,15 por m3 por 25 anos. Para colocar em perspetiva, 15 cêntimos é 2 a 3 vezes menos que o preço da compressão-transporte-descompressão do GNL. Este último vale mais de 2,5 euros por m3 (na Europa em 2022), ou seja, 15 vezes o preço negociado com a China. E mesmo que descesse para 1€, ainda seria 7 vezes mais caro que o preço chinês.

 

A competitividade chinesa será assim impulsionada por este gás que agora recusamos. Aposto que seremos solicitados, no futuro, a compensar essa falta de competitividade reduzindo as nossas conquistas sociais...

 

Tudo isso é em parte consequência da esquizofrenia diplomática europeia, como demonstram as palavras da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao declarar em 4 de fevereiro de 2022: “O nosso pensamento estratégico é o seguinte: queremos construir o mundo de amanhã como democracias com parceiros que pensam da mesma forma”. Poderia dizer da mesma forma sem um sorriso: “Muitos países mostram interesse numa boa cooperação de longo prazo com a Europa. Falamos em princípio com todos, começando com a Noruega […] mas também com o Qatar, o Azerbaijão e o Egito” – três democracias bem conhecidas de todos, e especialmente dos arménios invadidos…

 

Quais as consequências económicas para a França e para a Europa?

 

Ao contrário do problema da quantidade de gás – que, embora onipresente no meio dos mídia, não deve trazer problemas muito grandes – é de facto a questão do preço do gás que é muito preocupante, pelo impacto que terá nas nossas vidas.

Com efeito, este gás importado será muito caro, o que afetará diretamente não só os orçamentos das famílias europeias consumidoras de gás, mas também as finanças públicas de todos os países que procurarão limitar os aumentos, como a França, mas também a Alemanha, que acaba de anunciar um plano de 200 biliões de euros que está a destruir a UE. Os países afetados verão os seus défices aumentar substancialmente, o que terá um efeito cascata nas taxas de juro pagas pelo Estado. Portanto, o financiamento dos déficits públicos e da dívida pública pode-se tornar insustentável, como explicámos neste artigo.

 

Note-se também que as políticas neoliberais de desregulamentação levadas a cabo durante 15 anos levaram três quartos das habitações a abandonar os preços regulados do gás, a lançar-se nos braços do mercado livre supostamente mais interessante – exceto, por exemplo, em caso de uma crise…

A loucura da desregulamentação de Bruxelas também forçou a França a aprovar uma lei em 2019 abolindo os preços regulados do gás... a partir de 30 de junho de 2023!

 

Esta é de facto a última etapa da desregulamentação, após a destruição do campeão europeu francês de energia EDF-GDF, e o fim dos preços regulados do gás – uma decisão que, no entanto, coloca tantos problemas para as empresas francesas hoje…

Depois das famílias, esse aumento do preço do gás afetará muito mais fortemente (na ausência de um forte apoio público) as contas operacionais das empresas e a sua competitividade. Essa situação vai levá-los a:

- aumentar o seu preço, o que aumentará a inflação;

- reduzir as suas compras não essenciais e, portanto, penalizar o crescimento;

- reduzir a contratação de pessoal, ou mesmo a despedi-los, o que agravará o desemprego;

- falir na pior das hipóteses, especialmente se estiverem sujeitos a uma forte concorrência não europeia.

 

Estes efeitos serão transfronteiriços devido à forte interdependência do comércio europeu: as empresas francesas estão menos expostas do que as empresas alemãs, mas sendo a Alemanha o seu primeiro cliente estrangeiro, os problemas no Reno terão consequências em França.

 

Estas questões de preços não se limitam ao gás e ao petróleo. Irão também afetar o preço da eletricidade devido a um estúpido regulamento europeu que, de facto, liga o seu preço ao do gás. Como a simples observação do mix de eletricidade na Europa mostra, esta regulamentação é ainda mais inepta em França, uma vez que a grande maioria da nossa produção de eletricidade depende da energia nuclear, de barragens e de outras energias renováveis.

 

Nada, absolutamente nada, justifica aumentos significativos no preço da eletricidade, exceto a mortífera ideologia neoliberal. O funcionamento deste mercado é tão disfuncional que até o governo francês o considera agora “aberrante”.

 

Por último, todos estes problemas de preços irão obviamente reduzir a procura de gás e, provavelmente, de energia. No entanto, existe uma relação direta entre a produção económica (PIB) e o consumo de energia. Se a eficiência energética aumentou, é verdade que não sabemos produzir mais com menos energia...

Este problema será, portanto, somado aos outros e deverá desacelerar significativamente o crescimento do PIB, ou mesmo reduzi-lo.

 

Para concluir

 

Para concluir, o atentado energético que levou à destruição dos gasodutos Nord Stream marca tragicamente o culminar de um processo do afundamento pela Europa de uma das suas maiores vantagens competitivas, a energia a gás barata. Este afundamento tem vindo a ser realizado há vinte anos através da liberalização deste sector, tendo resultado num funcionamento aberrante.

Pela nossa parte, vamos pagar um alto preço, importando gás muito mais caro, mais poluente, sacrificando empregos e poder aquisitivo prejudicados pela inflação, sofrendo até talvez interrupções no fornecimento de gás e eletricidade.

Os nossos vizinhos alemães e italianos, que não sacrificaram a sua indústria, sofrerão ainda mais (porque são mais dependentes de energia produzida em seu solo), e os seus problemas espalhar-se-ão por contágio até nós, por causa da interdependência das nossas economias. Os próximos anos serão difíceis.

 

 

 

 



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