(358) Chamam-lhe o Novo Normal
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Progresso, era os filhos viverem melhor que os pais, não era?
Uma gravidez é um roubo de tempo produtivo disponível feito ao patrão.
O Novo Normal, não é Novo nem Normal.
O Novo Normal exige que façamos mais com menos, ou que morramos tentando. Esta última opção parece ser a favorita da classe que nos dirige, Helen Buyniski.
Independentemente da consideração sobre a perenidade ou eternidade dos valores, sobre a sua interioridade ou exterioridade, vivemos tempos em que os ataques aos valores, que até aqui têm sido geralmente aceites como normativos, se sucedem, muitas vezes até vindos donde menos se suspeitaria (no caso vertente, a origem é de uma grande organização de uma democracia avançada cristã), pondo em risco a própria estrutura da sociedade, e apresentados debaixo do eufemismo de “progresso” como única forma de sobrevivência da economia.
O percurso normal da pessoa é feito através da passagem da infância para a adolescência, e desta para o estado adulto, significando este na nossa sociedade o tempo dos primeiros namoros mais a sério, dos primeiros empregos, da compra de carro, do casamento, da compra de casa, filhos, enfim, o caminho que conhecemos.
Mas, se até agora este percurso era incentivado, propagandeado como sonho possível de realizar, começam a aparecer fortes sinais contrários que os meios de comunicação social, quais arautos da formatação e conformação do futuro próximo, não se cansam de reproduzir e repetir, e a que por isso mesmo devemos prestar especial atenção.
Neste caso é exemplar o artigo "Não, casar em sempre é financeiramente benéfico" (No, Getting Married Isn't Always Financially Beneficial), publicado pela muito americana Bloomberg, cuja boa intenção é a de "avisar/informar" a nova rapaziada trabalhadora, que isto de se criar uma família é muito complicado, perigoso, arriscado e prejudicial. Quer social, quer individualmente. Pelo que deve ser muito bem pensado.
Começa logo por lembrar que uma gravidez representa para o patrão um roubo de tempo produtivo disponível, chamando também a atenção para a absorção quase total que os filhos fazem do tempo disponível dos pais.
Vai ao pormenor de se preocupar com os reflexos que o ter filhos irá provocar na pegada de carbono na medida em que sendo os recursos da Terra limitados, a partir de certa altura (e parece que é agora), ter mais filhos irá aumentar a pegada de carbono, pelo que ter filhos é prejudicial para o clima.
O consequente aumento das despesas com a família vai ainda impedir a realização daquele sonho de independência e de bem estar que nos inculcaram que é a compra de casa, que deixará de poder ser realizado porquanto as grandes corporações imobiliárias disfarçadas de fundos de pensões, ao comprarem todos os imóveis para os arrendar, obrigam o preço das casas a subir, forçando ao recurso do aluguer até ao fim da vida precária.
Preocupa-se também com o problema de se terem filhos em tempo de pandemia (notando que várias outras se seguirão no futuro) porque tal é aumentar-lhes as probabilidades de sofrerem riscos psicológicos (nas raparigas adolescentes as tentativas de suicídio aumentaram 51 por cento, os sintomas de depressão aumentaram 25 por cento e os de ansiedade 20 por cento) e físicos (as máscaras para crianças adotadas pelos vários governos podem provocar lesões).
Por outro lado, existindo hoje uma enorme quantidade e diversidade de cuidados de saúde, de ensino e de divertimento, devendo o bem-estar dos filhos constituir a maior preocupação dos pais, a grande maioria deles não terá um rendimento que seja compatível com a possibilidade de propiciar todos esses melhores cuidados, que são altamente recomendados e propagandeados nos meios de comunicação social.
E passam a explicar: basta que a pequena minoria que constituem os ‘influenciadores’ da opinião que pululam diariamente nos mídia demonstrem e aconselhem a todas as horas, o que se deve comprar, o que se deve fazer, para os pais se sentirem na obrigação de o fazer. Como na grande maioria dos casos não o conseguem fazer, tal contribuirá para o aumento dos prejuízos que irão provocar no futuro dos filhos.
Os novos trabalhadores que, como já vimos, não têm condições para ter casa própria, pelo que, na melhor das hipóteses, serão sempre permanentemente inquilinos. E, se quiserem viver um pouco melhor e tentarem alcançar a vida que os pais lhes prometeram (afinal não era isso o progresso? Os filhos viverem melhor que os pais) verificarão que com o que ganham não o conseguem fazer sem caírem na armadilha da dívida bancária.
O encaminhamento social pretendido deste Novo Normal, debaixo da consideração que se preocupa com as pessoas, visa instilar nelas a convicção de que não reúnem as mínimas condições para constituir família e que só os bem instalados podem criar filhos como devem ser criados. Uma outra forma de dizer que “o Novo Normal exige que façamos mais com menos, ou que morramos tentando. Esta última opção parece ser a favorita da classe que nos dirige”, Helen Buyniski.
Uma bem-intencionada e caritativa eugenia psicológica, que fica sempre melhor nos tempos que correm que uma diminuição da população por outros meios coercivos.
Mas atenção: este Novo Normal, não é Novo nem Normal.
Esta ideia de progresso contínuo tão propagandeada e a que se propõe regressar, só apareceu a partir da Revolução Industrial. Até aí, pode-se dizer que, com exceção das elites que detinham a terra e o poder político, todos os outros viviam pobremente, quase miseravelmente, duma agricultura de subsistência, onde não se vislumbravam grandes diferenças entre as gerações que iam passando. Pais e filhos na mesma miséria.
Só o grande desenvolvimento que a Revolução Industrial possibilitou é que originou o aparecimento da ideia de “progresso contínuo”, permitindo criar uma descontinuidade entre as gerações, ao alimentar a ideia de que os filhos teriam uma melhor vida do que os pais. Isto é o que nos disseram que era “progresso”.
Não é certamente a este “progresso” que o Novo Normal se refere, pois ele já não o comporta. Já não o comportava antes. Pior, neste Novo Normal presente, os jovens trabalham com menos direitos, com mais precariedade, e recebem menos pelo mesmo trabalho, do que os trabalhadores mais velhos. E com mais incerteza sobre a segurança social que lhes caberá ter. É mais um Regresso ao Passado que a um Novo Normal. E veremos a que passado.