(303) Não ter nada e ser feliz
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As previsões do World Economic Forum confortam-nos quanto ao futuro, não o que aí venha, mas o que já esteja programado para nós.
No Reino Unido, 1,5 milhões de britânicos “não têm acesso a bens essenciais”, relatório de 2018 das Nações Unidas sobre a pobreza.
Enquanto os pobres têm sido inundados com religiões que glorificam a pobreza, a humildade e a obediência, os ricos têm feito circular entre eles as sua doutrinas privadas sobre o como está certo eles terem tanto enquanto todos os outros têm tão pouco. A cada um as suas religiões.
É apenas a habilidade dos mais poderosos na utilização do governo, os segredos corporativos e financeiros, a censura da internet e a propaganda dos média de comunicação no encobrimento e distorção da verdade que impede que isso aconteça, Caitlin Johnstone.
Foi Sir James Goldsmith (1933-1997), financeiro e bilionário de sucesso, um dos primeiros a chamar a atenção para os que aplaudiam a globalização desenfreada dos anos noventa, da forte possibilidade desse processo conduzir à criação de maior desemprego e pobreza no mundo industrial ao mesmo tempo que devastava o terceiro mundo.
Na tese que defendeu nos seus livros The Trap (1994) e The Response (1995), predizia que a capacidade das maiores empresas do mundo conseguirem operar em qualquer parte na procura de lucros aumentados, juntamente com a possibilidade para empregarem quem quisessem num enormemente expandido mercado de trabalho mundial, acabaria por ter um efeito negativo nos níveis de vida.
Foi desconsiderado e malvisto pelas elites financeiras que apresentaram contraditórios, como por exemplo, relatórios do Banco Mundial onde mostravam que o número de pessoas a viver em extrema pobreza diminuíra cerca de 25% entre 1981 e 2005.
Em 2004, o professor de economia neozelandês, Robert Hunter Wade, no seu estudo “Is Globalization Reducing Poverty and Inequality?” que começa por duvidar dos pressupostos teóricos da globalização em curso, vai em 2017 no “Global growth, inequality, and poverty: the globalization argument and the political science of economics”, demonstrar que na realidade, se não se contabilizasse o caso especial da China, o número dos que viviam em extrema pobreza aumentara.
É nesse mesmo estudo que vai apresentar a distinção entre o que considera terem sido as duas primeiras vagas da globalização, dos fins do século XIX e das décadas posteriores à Segunda Guerra do século XX até aos anos oitenta, e a terceira vaga que se lhes seguiu.
Para ele, as duas primeiras vagas que são caracterizadas pela “globalização do comércio” e pela “produção imóvel”, ajudaram a reduzir as desigualdades e a pobreza (em meados dos anos 70 a desigualdade alcançou valores historicamente baixos).
A terceira vaga, “globalização da produção”, caracterizada pela deslocalização da produção das grandes multinacionais para os países de baixos salários, fez com que as desigualdades, entre países e dentro deles, aumentassem rapidamente. Com a queda do contrapoder que constituía o bloco soviético, e com o desastre financeiro de 2008, assistiu-se à estagnação económica, à subida do custo de vida, aos cortes na segurança social e nos serviços públicos, à diminuição dos salários e rendimentos, ao aumento do desemprego, e à introdução das políticas de austeridade.
Como exemplo, podemos referir o relatório de 2018 das Nações Unidas sobre a pobreza onde consta que no Reino Unido, 1,5 milões de britânicos “não têm acesso a bens essenciais […] (e que) uma em cada duas crianças serem pobres no século XXI não é apenas uma desgraça, mas uma calamidade social e um desastre económico, de uma só vez.”
Foi a primeira vez em 70 anos que as crianças inglesas, a pedido do próprio governo, tiveram de ser ajudadas pela UNICEF na sua alimentação, segundo relata o Guardian na sua edição de 16 de dezembro de 2020. Estamos a falar do Reino Unido, o UK, um dos mais ricos faróis do sistema económico vigente.
A secretária-geral adjunta do Partido Trabalhista, comentou a propósito:
“[O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o seu ministro da Economia, Rishi Sunal] deveriam estar envergonhados por uma organização que opera em zonas de guerra e de desastres naturais ter de alimentar as nossas crianças”.
Mas não nos preocupemos. A solução está já engatilhada. Com o falso pretexto de combater o coronavírus, o Forum Económico Mundial, o World Economic Forum como melhor soa em português, uma organização suportada pelas corporações mais ricas do mundo e pelos indivíduos mais ricos do mundo, tem já um programa, The Great Reset/4IR (The Great Reset/Fourth Industrial Revolution), evidentemente não votado nem debatido, onde é afirmado que “a quarta revolução industrial conduzir-nos-á a uma fusão da nossa identidade física, digital e biológica”.
Para melhor nos convencerem, editou um vídeo que nos mostra como será o mundo em 2030, abrindo com a seguinte previsão:
“Você não vai possuir nada e vai ser feliz”.
A celebrada “sociedade sem dinheiro” em que quem não aderir ou não cumprir poderá ser desligado do sistema…
Seguem-se depois outras previsões para nos confortarem quanto ao futuro, não o que aí venha, mas o que já esteja programado para nós.
Para eles, as elites transnacionais que detêm o poder e que se encontram todos os anos em Davos, o programa também já está feito:
As pessoas mais ricas do planeta veem a sua riqueza aumentar 27,5% (segundo o Institute for Policy Studies, “a riqueza combinada de 647 bilionários norte-americanos aumentou em cerca de 960 biliões de dólares desde o início da pandemia …”)
Enquanto os pobres têm sido inundados com religiões que glorificam a pobreza, a humildade e a obediência, os ricos têm feito circular entre eles as sua doutrinas privadas sobre como está certo eles terem tanto enquanto todos os outros têm tão pouco. Cada um com as suas religiões ou, melhor, duas igrejas de uma religião.
Quem mais perdeu? Os que não vão possuir nada porque não precisam. Nós.
A mensagem é muito clara: nós não possuímos nada porque eles, as elites transnacionais que detêm o poder que se encontram todos os anos em Davos, possuem tudo. Mas isso não nos deve preocupar porque nós somos muito felizes. Herdamos o reino do Céu.
Verdades inconvenientes
A 11 de novembro de 2020, a jornalista americana Caitlin Johnstone, dizia num seu artigo o seguinte:
“Acredito que se o público tivesse uma imagem clara do que está a acontecer no nosso mundo e das forças oligárquicas assassinas que nos conduzem para a destruição, usaria naturalmente o poder do seu número para forçar alterações drásticas a esse estatuto suicida que pesa sobre a humanidade e a ecologia em busca de algo muitíssimo mais saudável. É apenas a habilidade dos mais poderosos na utilização do governo, os segredos corporativos e financeiros, a censura da internet e a propaganda dos média de comunicação no encobrimento e distorção da verdade que impede que isso aconteça. É por isso que nunca ninguém é tão demonizado e vilipendiado pelos propagandistas do sistema instituído que aqueles que revelem as verdades inconvenientes e que promovem narrativas não autorizadas”.