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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

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(261) A colonização sionista da Palestina

Tempo estimado de leitura: 10 minutos.

 

O conflito Israel-Palestino não é produto de ódios étnicos antigos. É o confronto trágico entre dois povos que reivindicam a mesma terra. É um conflito fabricado, resultado de uma ocupação colonial de 100 anos.

 

Israel, tornou-se no destino trágico dos palestinos, que não tendo tido nenhum papel nos pogroms europeus ou no Holocausto, acabaram por serem os sacrificados no altar do ódio.

 

As elites britânicas sempre acreditaram que os judeus nunca poderiam ser integrados na sociedade britânica e que o melhor para eles seria emigrar.

 

Após a Guerra, as potências europeias lidaram com a crise dos refugiados judeus enviando as vítimas do Holocausto para o Médio Oriente.

 

A maneira mais segura de erradicar o direito de um povo à sua terra é negar sua ligação histórica com ela.

 

 

 

 

 

Após a terceira eleição em menos de um ano, Benjamin Netanyahu continuou a não conseguir formar governo, pelo que o Presidente de Israel encarregou o seu opositor, Benny Gantz, de apresentar um novo governo. Continuando Netanyahu a estar oficialmente acusado de suspeitas de corrupção, e no caso de Gantz não conseguir formar governo, Israel poderá ter de realizar um quarto processo eleitoral. Sinais de instabilidade, sinais de crise, numa das regiões mais críticas do planeta.

 

Foi Judith Shklar (1928-92), filósofa e politóloga da Harvard University, que, após uma visita a Israel e à Palestina em 1987, lembrou aos seus colegas de universidade, Henry Kissinger e Zbigniew Brzezinski, que as suas políticas de puro maquiavelismo de apoio incondicional a Israel, não eram realistas, devendo antes focalizarem-se sobre o que poderia ser alcançado e defendido.

Segundo ela:

 

Os Judeus de Israel conseguiram alcançar um dos objetivos do Sionismo: eles não são diferentes, nem piores nem melhores, que o resto da humanidade. Eles não são mais espertos, nem mais virtuosos que todas as outras nações”.

 

Mais de trinta anos passaram, e vejamos o que nos diz Chris Hedges (1), sacerdote americano e prémio Pulitzer, no seu artigo, “A Colonização Sionista da Palestina” (The Zionist Colonization pf Palestine), publicado a 24 de fevereiro de 2020, e que, pela sua importância, passo a transcrever na íntegra:

 

 

“O conflito Israel-Palestino não é produto de ódios étnicos antigos. É o confronto trágico entre dois povos que reivindicam a mesma terra. É um conflito fabricado, resultado de uma ocupação colonial de 100 anos por sionistas (2) e mais tarde por Israel, apoiada pelos britânicos, pelos Estados Unidos e por outras grandes potências imperiais. É um projeto que visa a tomada contínua de terras palestinas pelos colonizadores.

 Trata-se de fazer dos palestinos não-pessoas, eliminando-os da narrativa histórica, como se eles nunca tivessem existido e negando-lhes direitos humanos básicos. No entanto, para contrariar estes fatos incontestáveis ​​da colonização judaica - apoiados por inúmeros relatórios oficiais e comunicados públicos e privados, além de registros e acontecimentos históricos -, os defensores de Israel dizem tratarem-se de argumentos de antissemitismo e de racismo.

 

Rashid Khalidi (3), professor de estudos árabes modernos Edward Said (4) na Universidade de Columbia, no seu livro A Guerra dos Cem Anos na Palestina: Uma História de Colonização e Resistência, 1917-2017, documentou meticulosamente esse longo projeto de colonização da Palestina. A sua pesquisa exaustiva, que inclui comunicações internas e privadas entre os primeiros sionistas e a liderança israelita, não deixa dúvidas que os colonizadores judeus sabiam desde o início que o povo palestino tinha que ser subjugado e removido para criar o estado judaico.

A liderança judaica estava também ciente de que suas intenções tinham que ser escamoteadas por trás de eufemismos, como a da propalada legitimidade bíblica dos judeus para uma terra que era muçulmana desde o século VII, as banalidades sobre direitos humanos e democráticos, os supostos benefícios da colonização para os colonizados e o apelo falacioso à democracia e à coexistência pacífica para com os que eram os alvos a serem destruídos.

 

"Este é um tipo de colonialismo único ao qual fomos submetidos, porquanto eles não veem nenhuma serventia para nós", escreve Khalidi. E cita Said como tendo dito “O melhor palestino para eles é o que está morto ou o que se foi embora. Não é que eles nos queiram explorar ou que precisem de nos manter aqui, como uma subclasse a caminho da Argélia ou África do Sul. "

 

O sionismo nasceu dos males do antissemitismo. Foi uma resposta à discriminação e violência infligida aos judeus, especialmente durante os pogroms (5) selvagens, na Rússia e na Europa Oriental no final do século XIX e início do século XX, que deixaram milhares de mortos. O líder sionista Theodor Herzl, publicou em 1896, Der Judenstaat (O Estado Judeu), onde já avisava os judeus de que não estavam seguros na Europa, aviso que, em poucas décadas, provou ser terrivelmente presciente com a ascensão do fascismo alemão.

 

O apoio da Grã-Bretanha a uma pátria judaica foi sempre visto como antissemitismo. A decisão de 1917 do Gabinete Britânico, conforme expresso na Declaração de Balfour (6), de apoiar "o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu", foi o chavão de um empreendimento equivocado, baseado em medidas antissemitas.

Foi assumido pelas elites britânicas no poder, a ‘missão’ de unir a "judiaria internacional" - incluindo oficiais de ascendência judaica em altos cargos no novo estado bolchevique na Rússia - por trás da campanha militar britânica na Primeira Guerra Mundial.

Os líderes britânicos de então estavam convencidos de que os judeus controlavam secretamente o sistema financeiro dos EUA. Os judeus americanos, assim que lhes fosse prometido uma pátria na Palestina, trariam, pensavam os líderes britânicos, os Estados Unidos para a guerra e ajudariam a financiar o esforço de guerra.

Acreditavam ainda os britânicos, que judeus e dönmes - ou "cripto judeus" cujos ancestrais se haviam convertido ao cristianismo, mas que continuavam praticando os rituais do judaísmo em segredo - controlavam o governo turco. Se os sionistas tivessem uma pátria na Palestina, os judeus e os dönmes abandonariam o regime turco, que era aliado da Alemanha na guerra, e o governo turco entraria em colapso. Para os britânicos, a judiaria internacional, era a chave para vencer a guerra.

"Com a 'Grande Judiaria' contra nós", alertou o britânico Sir Mark Sykes, que juntamente com o diplomata francês François Georges-Picot criou o tratado secreto que dividiu o Império Otomano entre a Grã-Bretanha e a França, não haveria possibilidade de vitória. O sionismo, disse Sykes, era uma poderosa força subterrânea global, "internacional, cosmopolita, subconsciente e não escrita, mas muitas vezes não dita".

 

As elites britânicas, incluindo o ministro dos negócios estrangeiros Arthur Balfour, também acreditavam que os judeus nunca poderiam ser integrados na sociedade britânica e que o melhor para eles seria emigrar. É revelador o facto de o único membro judeu do governo do primeiro-ministro David Lloyd George, Edwin Montagu, se ter oposto veementemente à Declaração de Balfour. Ele argumentou que isso encorajaria cada estado a expulsar os seus judeus. "A Palestina tornar-se-á o gueto do mundo", alertou.

 

O que acabou por ser o caso, quando após a Segunda Guerra Mundial, centenas de milhares de refugiados judeus, muitos tornados apátridas, não tinham para onde ir, a não ser para a Palestina. Muitas vezes, as suas comunidades foram destruídas durante a guerra ou as suas casas e terras confiscadas. Os judeus que retornaram no pós-guerra a países como a Polónia, descobriram que não tinham onde morar e eram frequentemente vítimas de discriminação, de ataques antissemitas e até de massacres.

 

As potências europeias lidaram com a crise dos refugiados judeus enviando as vítimas do Holocausto para o Médio Oriente. Assim, enquanto os líderes sionistas entendiam que tinham que retirar e deslocar os árabes para conseguirem estabelecer uma terra natal, estavam também cientes de que não eram desejados nos países de onde fugiram ou foram expulsos.

 Os sionistas e seus apoiantes podem ter utilizado slogans como "uma terra sem povo para um povo sem terra" ao falar da Palestina, mas, como observou a filósofa política Hannah Arendt, as potências europeias tentavam lidar com o crime praticado contra os judeus na Europa, cometendo outro crime, contra os palestinos.

 Era uma receita para um conflito sem fim, especialmente porque dar aos palestinos sob ocupação direitos democráticos plenos, implicaria o risco de os judeus perderem o controle de Israel.

Ze'ev Jabotinsky, o padrinho da ideologia de extrema-direita que domina Israel desde 1977, uma ideologia adotada abertamente pelos primeiros-ministros Menachem Begin, Yitzhak Shamir, Ariel Sharon, Ehud Olmert e Benjamin Netanyahu, escreveu sem rodeios em 1923:

 

 “Toda a população nativa do mundo resiste aos colonos, desde que tenha a menor esperança de se poder livrar do perigo de ser colonizada. É isso que os árabes na Palestina estão a fazer e que persistirão enquanto houver uma centelha solitária de esperança em como eles serão capazes de impedir a transformação da 'Palestina' na 'Terra de Israel’”.

 

Esse tipo de honestidade pública, observa Khalidi, era raro entre os principais sionistas. A maioria dos líderes sionistas "afirmou a inocente pureza de seus objetivos e enganou os ocidentais, e talvez a eles próprios, com contos de fadas sobre as suas intenções benignas relativamente aos habitantes árabes da Palestina", escreve ele.

 

 Os sionistas - numa situação semelhante à dos atuais apoiantes de Israel - sabiam que seria fatal reconhecer que a criação de uma pátria judaica exigia a expulsão da maioria árabe. Essa admissão faria com que os colonizadores perdessem a simpatia do mundo. Mas, entre si, os sionistas entenderam claramente que o uso da força armada contra a maioria árabe era essencial para o sucesso do projeto colonial. "A colonização sionista (...) só pode prosseguir e desenvolver-se sob a proteção de um poder independente da população nativa - atrás de um muro de ferro, que a população nativa não possa violar", escreveu Jabotinsky.

 

Os colonizadores judeus sabiam que precisavam de um patrono imperial para ter sucesso e sobreviver. O seu primeiro patrono foi a Grã-Bretanha, que enviou 100.000 soldados para esmagar a revolta palestina da década de 1930, e armava e treinava milícias judaicas conhecidas como Haganah. A repressão selvagem dessa revolta incluiu execuções indiscriminadas e bombardeamentos aéreos, deixando 10% da população árabe adulta masculina morta, ferida, encarcerada ou exilada.

 

O segundo patrono dos sionistas foi os Estados Unidos, que ainda agora, gerações depois, fornecem mais de 3 bilhões de dólares por ano a Israel (7).

É que Israel, apesar do mito de autoconfiança que apregoa, não seria capaz de manter as suas colónias palestinas, sem a ajuda dos seus benfeitores imperiais. É por isso que o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções, assusta Israel. É também por isso que apoio o movimento BDS.

Os primeiros sionistas a chegar, compraram enormes extensões de terras férteis palestinas e expulsaram os habitantes indígenas. Subsidiaram a vinda de colonos judeus europeus para a Palestina, onde 94% dos habitantes eram árabes. Criaram organizações como a Associação de Colonização Judaica, mais tarde chamada Associação de Colonização Judaica da Palestina, para administrar o projeto sionista.

 

Mas, como escreve Khalidi, “uma vez que o colonialismo ficou malvisto na era da descolonização pós-Segunda Guerra Mundial, as origens e práticas coloniais do sionismo e de Israel foram branqueadas e convenientemente esquecidas em Israel e no Ocidente. De fato, o sionismo - por duas décadas o enteado mimado do colonialismo britânico – renomeou-se a si mesmo como um movimento anticolonial.”

 

Hoje, o conflito que foi gerado por esse clássico empreendimento colonial europeu do século XIX numa terra não europeia, apoiada a partir de 1917 pela maior potência imperial ocidental de sua época, raramente é descrito em termos tão brilhantes”, escreve Khalidi.

 “De fato, aqueles que analisam não apenas os esforços de colonatos israelitas em Jerusalém, na Cisjordânia e nas Colinas de Golã sírias ocupadas, mas toda a empresa sionista na perspetiva das suas origens e natureza da sua colonização, são frequentemente difamados. Muitos não podem aceitar a contradição inerente à ideia de que, embora o sionismo tenha, sem dúvida, conseguido criar uma entidade nacional próspera em Israel, as suas raízes são como os dos projetos coloniais (como são os de outros países modernos: Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia).

Tampouco podem aceitar que ele não teria tido sucesso se não fosse o apoio das grandes potências imperiais, a Grã-Bretanha e, mais tarde, os Estados Unidos. O sionismo, portanto, poderia ser e foi ao mesmo tempo, um movimento nacional de colonos e um movimento colonial.”

 

Um dos princípios centrais da colonização sionista e israelita é o da negação da existência de uma identidade palestina autêntica e independente. Durante o controle britânico da Palestina, a população foi oficialmente dividida entre judeus e "não-judeus". "Não havia palestinos ... eles não existiam", brincou uma vez o primeiro-ministro israelita Golda Meir.

Essa eliminação, que requer um ato flagrante de amnésia histórica, é o que o sociólogo israelita Baruch Kimmerling chamou de "politicídio" do povo palestino. Khalidi escreve: "A maneira mais segura de erradicar o direito de um povo à sua terra é negar sua ligação histórica com ela".

 

A criação do estado de Israel em 15 de maio de 1948, foi alcançado pela Haganah e por outros grupos judeus, através da limpeza étnica e massacres dos palestinos que espalharam o terror entre a população palestina. A Haganah, treinada e armada pelos britânicos, rapidamente ocupou a maior parte da Palestina. Esvaziou Jerusalém Ocidental e cidades como Haifa e Jaffa, juntamente com inúmeras cidades e vilas, dos seus habitantes árabes. Os palestinos chamam a esse momento de sua história, Nakba, ou Catástrofe.

 

"No verão de 1949, a comunidade palestina tinha sido devastada e a maior parte de sua sociedade foi erradicada", escreve Khalidi. "Cerca de 80% da população árabe do território que no final da guerra se tornou o novo estado de Israel, foi expulsa das suas casas e perdeu as suas terras e propriedades. Pelo menos 720.000 dos 1,3 milhão de palestinos foram feitos refugiados. Graças a essa transformação violenta, Israel controlava 78% do território da antiga Palestina e agora governava os 160.000 árabes palestinos que tinham conseguido permanecer, um quinto da população árabe anterior à guerra.”

 

Desde 1948, os palestinos têm heroicamente vindo a esforçar-se por resistir, perante as represálias israelitas desproporcionais, a que acresce a sua demonização como sendo terroristas. Mas essa resistência também forçou o mundo a reconhecer a existência dos palestinos, apesar dos esforços febris de Israel, Estados Unidos e muitos regimes árabes para removê-los da consciência histórica. As repetidas revoltas, como disse Said, deram aos palestinos o direito de contar sua própria história, a "permissão para narrar".

 

O projeto colonial envenenou Israel, como temiam alguns dos seus líderes mais prescientes, incluindo Moshe Dayan e o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, que foi assassinado por um extremista judeu de direita em 1995. Israel é um estado de apartheid que rivaliza e muitas vezes supera a selvageria e o racismo do apartheid na África do Sul. A sua democracia - que sempre foi exclusivamente para judeus - foi sequestrada por extremistas, incluindo o atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que implementou leis raciais que antes eram defendidas principalmente por fanáticos marginalizados, como Meir Kahane (8).

 O público israelita está infetado com racismo. "Morte aos árabes" é um cântico popular nos jogos de futebol israelenses. Multidões e vigilantes judeus, incluindo bandidos de grupos juvenis de direita, como Im Tirtzu, realizam atos indiscriminados de vandalismo e violência contra dissidentes, palestinos, árabes israelitas e os infelizes imigrantes africanos que vivem amontoados nas favelas de Tel Aviv.

 

Israel promulgou uma série de leis discriminatórias contra não-judeus que se assemelham assustadoramente às leis racistas de Nuremberg (9), utilizadas contra os judeus na Alemanha nazista. A Lei de Aceitação de Comunidades, permite que cidades exclusivamente judaicas na região da Galileia de Israel, impeçam os requerentes de residência, com base na "adequação às perspetivas fundamentais da comunidade". O falecido Uri Avnery, político e jornalista de esquerda, escreveu que "a própria existência de Israel está ameaçada pelo fascismo".

 

Nos últimos anos, cerca de 1 milhão de israelitas deixaram Israel para irem viver para os Estados Unidos, entre eles muitos dos cidadãos mais esclarecidos e instruídos de Israel. Em Israel, ativistas de direitos humanos, intelectuais e jornalistas - israelitas e palestinos – viram-se difamados como traidores em campanhas patrocinadas pelo governo, colocados sob vigilância estatal e sujeitos a prisões arbitrárias.

 O sistema educacional israelita, começando na escola primária, é uma máquina de doutrinação para os militares. O exército israelita lança periodicamente ataques maciços com sua força aérea, artilharia e unidades mecanizadas contra 1,85 milhão de palestinos em Gaza, resultando em milhares de palestinos mortos e feridos. Israel administra o campo de detenção de Saharonim, no deserto de Negev, um dos maiores centros de detenção do mundo, onde os imigrantes africanos podem ser mantidos até três anos sem julgamento.

 

O grande estudioso judeu, Yeshayahu Leibowitz, a quem Isaiah Berlin chamou de "a consciência de Israel", viu o perigo mortal para Israel do seu projeto colonial. Ele alertou que se Israel não separasse Igreja e Estado, e não acabasse com a ocupação colonial dos palestinos, daria origem a um ‘rabinato’ corrupto. que transformaria o judaísmo num culto fascista. "O nacionalismo religioso é para a religião, o que o nacional-socialismo foi para o socialismo", disse Leibowitz, que morreu em 1994.

Ele viu que a veneração cega dos militares, especialmente após a guerra de 1967 em que Israel capturou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, resultaria na degeneração da sociedade judaica e na morte da democracia.

 

"A nossa situação deteriorar-se-á como a de um segundo Vietnam [uma referência à guerra travada pelos Estados Unidos na década de 1970], uma guerra em constante escalada sem perspetiva de resolução final", escreveu Leibowitz.

Ele previu que “os árabes seriam os trabalhadores e os judeus os administradores, inspetores, funcionários e polícia - principalmente a polícia secreta. Um estado que governasse uma população hostil de 1,5 a 2 milhões de estrangeiros tornar-se-ia necessariamente um estado de polícia secreta, com tudo o que isso implica em educação, liberdade de expressão e instituições democráticas. A característica de corrupção de todo regime colonial também prevaleceria no Estado de Israel. O governo teria que suprimir a insurreição árabe, por um lado, e contratar informadores árabes, por outro. Também há boas razões para temer que a Força de Defesa de Israel, que até agora era um exército popular, como resultado de ser transformada num exército de ocupação, e os seus comandantes, que se tornaram governadores militares, se venham a assemelhar aos seus colegas de outras nações.

 

Os sionistas nunca poderiam ter colonizado os palestinos sem o apoio das potências imperiais ocidentais, e cujos motivos já vimos serem baseados num antissemitismo. Muitos dos judeus que fugiram para Israel não o teriam feito, exceto pelo virulento antissemitismo europeu que, no final da Segunda Guerra Mundial, tinha assassinado 6 milhões de judeus.

Israel era tudo para os muitos sobreviventes empobrecidos e apátridas, privados dos seus direitos nacionais, comunidades, e casas que a maioria de seus parentes tinham deixado. Tornou-se no destino trágico dos palestinos, que não tendo tido nenhum papel nos pogroms europeus ou no Holocausto, acabaram por serem os sacrificados no altar do ódio.

 

 

(1) Ver a biografia de Chris Hedges (https://www.truthdig.com/author/chris_hedges/#author-bio).

(2) Sionismo: termo usado pela primeira vez em 1890, é um movimento internacional que propunha originalmente a instalação de uma comunidade nacional judia ou religiosa na Palestina, futura base para o suporte do moderno Israel.

(3) Biografia de Rashid Khalidi (https://history.columbia.edu/faculty/khalidi-rashid/).

(4) Biografia de Edward Said (https://www.britannica.com/biography/Edward-Said).

(5) Definição de pogrom, palavra russa para descrever a violência das autoridades russas de então contra os judeus, incluindo massacres (https://www.history.com/topics/russia/pogroms).

(6) Carta escrita em 2 de novembro de 2017 pelo ministro britânico dos negócios estrangeiros, Arthur James Balfour, ao cidadão britânico judeu mais ilustre, Lionel Walter Rothschild, e na qual expressava o suporte do governo britânico à criação de um estado judeu na Palestina.

(7) Segundo documento do Congresso, “U.S. Foriegn Aid to Israel”, (https://fas.org/sgp/crs/mideast/RL33222.pdf).

(8) Biografia de Meir-Kahane, (https://www.britannica.com/biography/Meir-Kahane).

(9) Leis instituídas pelos nazis em Nuremberga, 1935, legalizando a prática das suas teorias raciais, (https://encyclopedia.ushmm.org/content/en/article/the-nuremberg-race-laws).

 

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