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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

(226) O futuro da civilização humana

Tempo estimado de leitura: 12 minutos.

 

“Humano”, poderá ser definido como sendo um ser da espécie Homo sapiens sapiens, ou de outras espécies suas descendentes quer por via de deriva genética, por processos de engenharia genética, ou ainda por seres não biológicos (robôs) construídos pelo Homo sapiens sapiens ou pelos seus descendentes genéticos, que poderão serem capazes de dar continuidade à civilização no futuro.

 

Com os seus 4.500.000.000 de anos, a Terra só começou a ser habitada pelos modernos humanos, nós, vai para 200.000 anos.

 

A civilização humana só pode seguir quatro classes de trajetórias: trajetórias de status quo, trajetórias de catástrofe, trajetórias de transformação tecnológica e trajetórias astronómicas.

 

O que daqui se pretende que depreendamos é que independentemente de qualquer ética, o resultado, mais milhão ou menos milhão de anos, será sempre o mesmo.

 

Que fará então esse muito pequeno grupo que decide por nós? Empalam-se humanamente uns aos outros, o que, convenhamos, até será difícil de fazer com os exoesqueletos que os mantêm em pé.

 

 

 

 

 

Com os seus 4.500.000.000 de anos, a Terra só começou a ser habitada por nós, modernos humanos, vai para 200.000 anos. Embora o futuro da civilização humana não possa ser previsível com exatidão (O que acontecerá? Quando acontecerá? Como acontecerá?), ele pode, apesar de tudo, ser equacionado a longo prazo (um milhão, um bilião, um trilião de anos), tendo em consideração alguns parâmetros possíveis de considerar realistas.

Os caminhos que a civilização humana pode seguir resumem-se a quatro classes de trajetórias:

 

  1. Trajetórias de status quo, em que a civilização humana prossegue pelos mesmos caminhos que tem vindo a trilhar até aqui.
  2. Trajetórias de catástrofe, nas quais um ou mais acontecimentos provocam um mal significativo à civilização humana.
  3. Trajetórias de transformação tecnológica, nas quais novas transformações tecnológicas radicais colocam a civilização humana num caminho fundamentalmente diferente.
  4. Trajetórias astronómicas, nas quais a civilização humana se expande para outras porções do cosmos para além da Terra.

 

Estas trajetórias podem ocorrer conjuntamente, como, por exemplo, no caso de uma grande transformação tecnológica que tanto poderá conduzir a uma catástrofe como a uma expansão astronómica.

 

Comecemos por clarificar os conceitos de “humano” e “civilização humana”. Para um período tão largo de tempo, “Humano” poderá ser definido como sendo da espécie Homo sapiens sapiens, ou de outras espécies sua descendentes quer seja por via de deriva genética, por processos de engenharia genética, ou ainda por seres não biológicos (robôs) construídos pelo Homo sapiens sapiens ou pelos seus descendentes genéticos, que poderão serem capazes de dar continuidade à civilização no futuro. (1)

 

A definição de “civilização humana” é feita tendo em consideração o que entendemos serem hoje os seus atributos, tais como sejam a população, a produção económica, a qualidade da vida, a segurança, os recursos naturais selecionados e outros parâmetros ambientais, e tendo ainda atenção ao facto de nada nos dizer que serão estes mesmos atributos que estarão presentes nas trajetórias de longa duração. Até o próprio conceito de população poderá ser outro, uma vez que a civilização futura pode ser liderada por qualquer outra entidade que não seja o Homo sapiens sapiens.

 

Para a consideração de trajetórias de mais curta duração, a seleção dos atributos deve ainda entrar em linha de conta com fatores éticos, porquanto se pensa que conforme as decisões tomadas, assim o futuro poderá ser alterado. Por exemplo:

  1. Reduzindo o risco de extinção humana, dado que a extinção resultaria na perca de todas as futuras gerações.
  2. Reduzindo o risco de grandes catástrofes que conduziriam à perca da civilização humana avançada.
  3. Acelerando os avanços tecnológicos e garantindo que eles melhorariam o bem-estar.
  4. Acelerando a colonização do espaço e garantindo que tal melhoraria o bem-estar.
  5. Melhorando o bem-estar de curta duração, uma vez que para as trajetórias de longa duração tal não faria diferença, porque se desconhece ou não se sabe bem qual o efeito que tais decisões possam provocar nas trajetórias de longa duração.

 

Trajetórias de status quo

 

Estas trajetórias implicam que a atual civilização continue na sua forma existente até a um futuro de longa duração. Tal não significa que permaneça exatamente na mesma forma atual, mas que não sejam introduzidas transformações radicais que impeçam que os atuais residentes deixem de reconhecer a civilização em que estão.

Um exemplo quantificável: a população humana tem vindo a aumentar a uma razão decrescente. E, segundo as Nações Unidas, a população em 2100 deverá oscilar entre os 9,5 biliões e os 13,5. Qualquer destas trajetórias são perfeitamente integradas como satus quo.

Um exemplo ético menos quantificável: a população de gado existente é bastante maior que a população humana. As Nações Unidas estimam que 68 biliões de animais não-humanos foram mortos em 2012, grande parte deles em degradantes condições de vida e abate. Contudo, quer através da reprodução “in vitro”, quer através de produtos de substituição, a produção de carnes pelas quintas industriais tem vindo a alterar o panorama do sofrimento infligido aos animais de abate. Este   exemplo de alteração civilizacional pode também ser perfeitamente acomodado nas trajetórias de status quo.

 

Portanto, o conceito de trajetórias de status quo permite algumas alterações de atributos importantes, mas não a de alterações extremas que possam ser possíveis.

 

Contudo, a longo termo, estas trajetórias de status quo, por mais resilientes que sejam, têm tendência a transformarem-se ou a desaparecer. Até porque se nada acontecer, a civilização humana desaparecerá dentro de poucas centenas de milhão ou de bilião de anos, quando o Sol começar a aquecer mais e a aumentar de tamanho, tornando a Terra inabitável.

 

Trajetórias de catástrofe

 

As mais simples de analiar das trajetórias de catástrofe são as que envolvem a extinção da humanidade. Nestes casos, todos os atributos básicos da civilização humana, população, produção económica, e qualidade de vida, caem para zero. Mais complexos são os casos em que alguns humanos sobrevivem, mas numa forma qualitativamente diferente da civilização do status quo.

Entre os perigos que levem a uma extinção dos seres humanos, contam-se a guerra nuclear, a colisão entre a Terra e um grande asteroide ou cometa, uma enorme erupção vulcânica, o aquecimento global, uma inteligência artificial descontrolada, experiências científicas desastrosas, e cenários que envolvam múltiplas catástrofes.

 

Por exemplo, experiências físicas desastrosas que alterem a vizinhança astronómica, tornando a vida na Terra impossível, levarão à extinção total e imediata da vida humana. Já outras catástrofes, como guerra nuclear, colisão com asteroides, vulcões, levarão ao bloqueamento da luz solar, ao desaparecimento da agricultura, mas algumas pessoas poderão sobreviver com comida armazenada ou com comida obtida através da biomassa ou de combustíveis fósseis.

 

O destino da população sobrevivente poderá influenciar as trajetórias de longo prazo. Conseguirão sobreviver por muito tempo ou acabarão por morrer mais cedo? Conseguirão erguer de novo uma civilização idêntica (status quo) à que tinham antes da catástrofe, ou vão conseguir uma transformação tecnológica ou uma colonização do espaço?

 

Uma das variáveis importantes nas trajetórias de catástrofe é a da velocidade da catástrofe. As guerras nucleares ou pandemias provocam imensos danos na civilização humana num curto espaço de tempo. Já outras, como o aquecimento global ou o esgotamento de certos recursos naturais, ocorrem mais lentamente, dando mais tempo aos humanos para se adaptarem às novas condições.

Podem-se, pois, tipificar algumas catástrofes, distinguindo entre as que provoquem uma extinção total, uma sobrevivência sem agricultura nem indústria, uma sobrevivência com agricultura, mas sem indústria, e uma sobrevivência com agricultura e indústria.

Todas as sobrevivências que não recuperarem a indústria, estarão condenadas à extinção por não conseguirem as condições para a transição para a transformação tecnológica /ou astronómica.

 

Imediatamente após a catástrofe, os sobreviventes necessitam de assegurar as necessidades básicas, água e comida. A maior parte da população humana obtém essas necessidades da civilização: como não as produzem por si próprios, vão enfrentar grandes dificuldades. Se o abastecimento de água e comida continuarem a ser providenciados, então uma grande parte da população poderá sobreviver.

Mas, se a civilização falhar, então a população sobrevivente estará entre o grupo de agricultores, caçadores, coletores, habituados a procurarem o seu próprio sustento. Ou seja, sobreviverão os mais pobres.

 

Outro grupo que pode sobreviver é o dos que se prepararam para a catástrofe: militares nos bunkers, grupos civis de “sobrevivencialistas” (preppers). Terão grandes quantidades de água, comida, medicamentos, sementes, ferramentas, e importantes meios de comunicação/informação.

Quanto maior tiver sido a preparação da sociedade, maior será o número de sobreviventes, tudo isto também dependendo da especificidade da catástrofe. Por exemplo, as guerras nucleares destruirão a quase totalidade do tecido urbano. As pandemias deixarão intactas as infraestruturas, e terão efeitos reduzidos em algumas áreas, como sejam ilhas remotas e áreas muito pouco habitadas.

 

A população que conseguir sobreviver logo após a catástrofe, enfrentará grandes problemas, mas, essencialmente, a sua trajetória irá depender da capacidade para se reproduzir. Se a população for muito pequena, ou pouco saudável, ou de idade avançada, ou com distribuição inapropriada de género, a sua capacidade de sobrevivência será nula.

A probabilidade de sobrevivência e progresso aumenta com o tamanho da população. Estima-se (há várias hipóteses) que a população mínima viável varie entre 150 e 40.000, dependendo de o meio ser mais ou menos favorável.

 

Mesmo sendo minimamente viável, põem-se de seguida outras ameaças como as doenças, desastres naturais, lutas internas, que faz com que populações pequenas em áreas remotas ou em pequenas ilhas não possam enfrentar o desafio de sobreviver por milhares ou milhões de anos. Só as que vivam em grandes áreas, nos continentes ou perto, poderão sobreviver: são as únicas que dispõem de terra em abundância para agricultura.

 

Até hoje, a agricultura desempenhou um papel primordial no desenvolvimento da civilização humana, pelo que será difícil imaginar a sobrevivência numa situação pós-catástrofe sem agricultura. Catástrofes que enviem partículas para a atmosfera, como guerra nuclear, erupções vulcânicas, colisão com asteroides, fazendo baixar as temperaturas e reduzindo a luz solar e a precipitação durante anos, podem ter efeitos catastróficos para a agricultura.

Três casos se podem dar: a agricultura não se ter perdido: a agricultura ter-se perdido, mas ter-se conseguido recuperá-la; a agricultura perdeu-se, e não foi possível recuperá-la. Se a agricultura não se conseguir recuperar rapidamente, então o seu futuro dependerá das flutuações do clima da Terra.

 

Nos últimos milhões de anos, o clima flutuou entre períodos de frio (glacial) e de quente (interglacial), que se sucederam ocorrendo cada 100.000 anos, com a duração de 15.000 anos. Atualmente a Terra está num período interglacial, o Holoceno, que começou há 10.000 anos. Pode-se argumentar que o aparecimento da agricultura, no caso da civilização o permitir, coincidiu com o clima favorável do Holoceno.

Contudo, no caso de acontecer uma catástrofe, as condições do Holoceno podem-se modificar: diferentes concentrações de gases pelo efeito de estufa, aumentando as temperaturas, provocando desertificações e aparecimento de novas doenças, libertação de metano acumulado nos oceanos e carbono das tundras.

 

A atual civilização, para além da agricultura, depende também em elevado grau, da indústria. A indústria aparece depois da agricultura ter possibilitado a acumulação de excedentes. Portanto, uma catástrofe que perca a agricultura, perderá também a indústria. Mas, uma catástrofe que perca a indústria, não significa que perca a agricultura. Se se conseguir desenvolver de novo a agricultura, é provável que se lhe siga a indústria.

 

Mas tal não é certo, e isto porque ao longo de toda a história da humanidade até agora, a indústria apenas se desenvolveu uma vez, na Grã-Bretanha, só depois se espalhando para o mundo. Chineses, gregos, romanos, indianos, todos eles grandes civilizações agrárias intelectualmente avançadas, nunca desenvolveram a indústria. O que pode levar a concluir que o aparecimento da indústria é menos uma inevitabilidade e mais uma coincidência histórica.

Fatores como o preço do trabalho, energia barata, capital financeiro, o Iluminismo, a revolução científica, e outros, podem ter estimulado a invenção e a disseminação das tecnologias industriais, originando a Revolução Industrial. O problema é que quanto maior for o número de fatores que lhe tenham dado origem, mais difícil se torna que se venham a repetir e a ocorrer num tempo futuro.

Para além do mais, os recursos não serão já os mesmos, uma vez que o carvão e o petróleo já estarão esgotados, bem como os jazigos de metais. Ou seja, será pequena a probabilidade de se recuperar a indústria tal como a concebemos hoje.

 

Trajetórias de transformação tecnológica

 

Dado que se estão a produzir na trajetória de status quo em que estamos inseridos rápidas mudanças tecnológicas, torna-se difícil distinguir entre ela e a trajetória de transformação tecnológica. Contudo, uma trajetória de transformação tecnológica implica uma muito maior e profunda transformação que, a ser seguida, colocará a civilização humana numa fase de desenvolvimento totalmente diferente. Entra aqui o conceito de “singularidade tecnológica”, que poderá ser bom ou mau, dependendo do que vier a acontecer e das perspetivas éticas de cada um. (2)

Estas transformações tecnológicas, terão mais impacto em três áreas: nanotecnologia, biotecnologia e inteligência artificial.

 

A nanotecnologia, tecnologia de componentes à escala de nanómetros, tem grande aplicação nos têxteis, medicina, e na criação de novos materiais pela manufatura atomicamente precisa (APM, atomically precise manufactoring). O seu impacto pode ser positivo, para garantir a segurança alimentar, para o tratamento de doenças, para a diminuição do aquecimento global (construção de objetos que removam dióxido de carbono da atmosfera), criação de novos materiais para foguetões e naves espaciais, ou negativo, ‘melhorando’ a produção de armamentos.

 

A biotecnologia tem sido especialmente usada no gado e nas colheitas, mas está a estender-se no sentido de modificar ou ‘melhorar’ a natureza humana, tornando-a não só mais capaz fisicamente como intelectualmente. Se for nesse sentido, acabaremos por ter numa mesma civilização, um ou mais novos tipos de seres que poderão ultrapassar os atuais humanos em muitas especialidades ou campos de atividade.

 

A inteligência artificial (IA) tem-se vindo a introduzir em muitos sectores da atividade humana, medicina, transportes, finança, militares, etc. Mas a IA aspira a muito mais: ultrapassar a humanidade, alcançar a superinteligência, que lhe permita alterar o mundo. Dependendo dos detalhes da sua introdução, ela tanto pode vir a ser transformativa da civilização humana ao resolver muitos dos seus problemas, como pode vir a ser a causa da sua destruição em massa.

 

A combinação destas tecnologias pode dar origem a transformações inesperadas, como a resultante da intersecção entre a IA e a biotecnologia ao considerar a possibilidade de descarregar a mente humana (mind uploading) transferindo-a para computadores digitais, dando origem a uma diferente, nova e radical civilização humana.

Podem também dar origem a catástrofes, como no caso da utilização da nanotecnologia para a produção de armamentos propiciando mais guerras, da biotecnologia para a produção de agentes patogénicos mortais, e da IA para a produção de desastres incontroláveis.

Se estas tecnologias transformativas forem controladas apenas por uma pequena parte da população humana, então poderão ser utilizadas apenas para seu benefício próprio. Se estas tecnologias transformativas puderem tornar-se autónomas, controlando-se a si próprias, poderão infligir danos incalculáveis.

 

 Na melhor das hipóteses, essas alternativas tecnológicas, mesmo sem se considerar a colonização do espaço, poderão transformar a humanidade numa outra superior, o que poderia constituir um valor agregado para a Terra.

 

De qualquer das formas, a muito longo prazo, qualquer civilização que permaneça apenas na Terra, estará limitada. A Terra é limitada em volume, na massa e distribuição atómica de matéria, na quantidade recebida de radiação solar, e no seu tempo de habitabilidade. Sem colonização espacial, por maior bem-estar que uma trajetória de longa duração possa proporcionar, ela desaparecerá quando a Terra se tornar inabitável.

 

Trajetórias astronómicas

 

Apesar das explorações à Lua e a Marte (e outras do mesmo género que se lhe seguirão), essas missões, como estão sempre dependentes da Terra, quando a civilização da Terra se extinguir, também elas desaparecerão, pelo que de pouco servirão para as desejadas trajetórias astronómicas de longo termo da civilização humana.

Colónias espaciais autossuficientes, formadas por um número reduzido de habitantes, embora inicialmente dependentes da Terra, poderão gradualmente tornarem-se autossuficientes. Se se localizarem a uma distância maior que a Terra tem do Sol, ou à volta de outras estrelas, terão ainda mais hipóteses de sobrevivência.

 

Para que estas pequenas colónias extraterrestres se consigam expandir, terão de seguir dois tipos de projetos: a ‘terraformação’, pela criação de atmosferas habitáveis nesses corpos extraterrestres, o que lhes permitirá expandir essas colónias para o exterior dos locais primitivos de residência, ou, alternativamente, que a mente humana consiga ser descarregada para computadores digitais ou substituídos por IA, e neste caso não será necessária a terraformação para se formarem grandes colónias extraterrestres.

Se a civilização humana optar pela forma digital em vez da biológica, e se a colonização conseguir alcançar corpos extrassolares, as oportunidades de colonização e expansão poderão ser enormes. Quão enormes?

 

Numa primeira hipótese, a expansão através do cosmos poderá continuar para sempre. Numa segunda hipótese, ao atingir todos os planetas habitáveis da galáxia ou de todas as galáxias habitáveis do universo, a civilização não terá mais para onde se expandir.  Numa terceira hipótese, a expansão do universo fará com que algumas galáxias se afastem de tal maneira, que serão inatingíveis, pelo que a civilização atingirá o seu limite. Numa quarta hipótese, o cosmos pode tornar-se inabitável devido a processos físicos, como uma morte por aquecimento, decaimento de protões (desaparecimento da matéria), ou outro processo, o que levará ao fim das colónias.

 

Especulando um pouco mais, pode-se sempre por a hipótese da civilização se deslocar para outros universos, que ainda não se conhecem nem se sabe que existam, e que garantiriam a sobrevivência infinita da civilização humana, seja ela o que na altura for.

 

No entretanto, e como linha geral, passar-se-á o seguinte: tal como para o início da civilização na Terra, qualquer região finita do cosmos terá uma capacidade finita para sustentar a civilização humana. E qualquer civilização com uma capacidade exponencial para se expandir, atingirá esse limite de sustentabilidade humana antes dessa região se tornar inabitável, devido ao esgotamento de recursos e/à competição entre populações.

Pelo que a competição entre as escalas astronómicas deverá seguir o mesmo modelo da observada entre nações à escala terrestre, acabando por lançar planetas ou sistemas solares uns contra os outros. A verdadeira guerra das estrelas.

Sendo o espaço exterior um ambiente muito mais hostil que a Terra, é também possível que se desenvolvam regimes opressivos e se instalem conflitos negativos, que acabem por levar à destruição da civilização.

 

Conclusão

 

Todas estas hipóteses aqui aventadas, encontram-se devidamente fundamentadas matematicamente (dentro das possibilidades possíveis) nas exposições e artigos divulgados na Workshop on Existential Risk to Humanity, realizada em setembro de 2017 na Chalmers University of Technology, e nos Proceedings do First International Colloquium on Catastrophic and Existential Risk, realizado em março de 2017 na UCLA.

 

Uma das conclusões básicas presentes é que a civilização humana do status quo dificilmente conseguirá persistir a longo prazo. É mais provável acabar catastroficamente, ou expandir-se dramaticamente. A longo prazo, parece que a civilização humana deixará de existir.

Contudo, se conseguirmos evitar a extinção a curto prazo (guerra atómica, aquecimento global, pandemias), e se conseguirmos colonizar o espaço, na melhor das hipóteses, isto só acontecerá ao fim de muito tempo. Extinção a longo prazo. No entretanto, a civilização poderá seguir uma série de trajetórias, desde a de sobrevivência da agricultura ou da indústria, até à da extensiva colonização do cosmos.

 

 

O que até aqui tem sido exposto, segue a versão de uma ética(moral) meramente utilitarista, tão de acordo com os agentes do poder dominante, segundo a qual  o que se se pretende levar a depreender é que, independentemente de qualquer ética, o resultado, mais milhão ou menos milhão de ano, será sempre o mesmo.

 

E que, segundo a qual, a única hipótese para a civilização humana sobreviver mais tempo dependerá sempre da boa vontade e do benefício de um pequeno grupo que controlará a catástrofe sempre iminente, que investirá todo o nosso dinheiro nessas tentativas.

A nós caberá desaparecer mais tarde ou mais cedo, tomarmos pílulas para trabalharmos o tempo inteiro ou para suportarmos condições adversas de temperatura, pressão, humidade, para dormirmos séculos, para deixarmos de comer refeições substituídas por comprimidos, para deixarmos de ter relações sexuais por serem muito desgastantes e darem muito trabalho, por alterarmos o nosso esqueleto para nos adaptarmos ao espaço e às várias gravidades, por clonarem a nossa mente a computadores, etc.

Que fará então esse muito pequeno grupo que decide por nós? Empalam-se humanamente uns aos outros, o que, convenhamos, até será difícil de fazer com os exoesqueletos que os mantêm em pé. (3)

 

 A relativização da ética acompanha sempre a relativização do ser humano.

 

 

 

 

Notas:

  • Fundamental ler o pequeno e excelente estudo de Américo Pereira, Da Essência do Humano (Considerações sobre o que é ser essencialmente humano, a partir do filme Artificial Intelligence),

(http://www.lusosofia.net/textos/americo_pereira_da_essencia_do_humano.pdf).

 

  • Para mais informações sobre o SixtSense, o ‘interface gestual’ desenvolvido no Media Lab do MIT por Pranav Mistry, a “biologia sintética” de John Craigh Vender,  o “transumanismo” da World Transhumanist Association fundada em 1998 por Nick Bostrom e David Pearce, a “tecno gnose” do New Age anunciada no livro O Símbolo Perdido de Dan Brown, a “ecologia espiritual”, sugiro também a leitura do meu blog de 14set2016, “Mecanismos de dissimulação e de autoilusão”, (https://otempoemquevivemosotempoemquevivemos.blogs.sapo.pt/mecanismos-de-dissimulacao-e-de-20788), ou aguardar pelo próximo blog.

 

  • Os Peter Weyland tão bem caracterizados por Ridley Scott no Prometheus.

 

 

Bibliografia:

                 Sugiro a boa bibliografia selecionada pelos autores do artigo “Long-Term Trajectories of Human Civilization”, publicado no Foresight 21 (1):53-83 (2019) e que aqui poderão consultar:

 

 

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