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Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

Os Tempos em que Vivemos

Um olhar, uma tentativa de compreensão sobre algumas coisas que são vida.

(204) O "aminão-mor" apanhado

Tempo estimado de leitura: 3 minutos.

 

 

“Cá se fazem, cá se pagam”, diz o povo na sua episódica e inconsequente sabedoria.

 

Tudo serve para arrecadar dados sobre as pessoas, seus conhecidos e ambientes frequentados.

 

“Alexa”, a assistente virtual da Amazon, consegue já decifrar as características físicas, o estado emocional dos utilizadores, e o local de nascimento da pessoa, apenas pela sua voz.

 

Teríamos assim um ajustar de contas: nós não dizemos as tuas e tu não dizes as nossas. A ser assim, neste caso Trump 1, Bezos 0.

 

 

 

 

 

Nos tempos em que éramos colonialistas mas não racistas, conta-se que numa esplanada de um café em Luanda, um pequeno grupo falava sobre a caça local, as particularidades dos animais caçados, cada um deles explicando as artimanhas usadas, e lamentando-se da escassez cada vez maior de espécies.

Até que um deles diz: “Eu cá não me queixo. Há uns dois meses que todas as noites tenho ido aí a um sítio e caço sempre “aminões”!

“Eh pá, estás a gozar connosco. Não há aminões!”

“Venham comigo logo à noite, e vão ver”.

Instalados no jipe, com o motor a trabalhar e com as luzes desligadas, no escuro da noite, o condutor informou:

“Estão a ver aquele pequeno grupo? Só se distinguem pelo branco dos olhos. Veem?”

Acelerou com o máximo de velocidade em direção ao grupo de animais, até embater num deles, que antes de ser abatido, gritou: “A mim não!”

 

 

A Amazon (e as companhias por ela dominadas), na sua associação com o Governos dos EUA, nomeadamente com o Pentágono e a NSA, tem vindo a desenvolver produtos no campo da vigilância individual, cada vez mais invasivos. Citando alguns já em fase de “comercialização”:

O “Rekognition”, que através do reconhecimento facial, permite, às forças do governo e à polícias, a possibilidade de identificarem, seguirem e analisarem grupos de 100 pessoas presentes numa única imagem, com o auxílio a bases de dados de dezenas de milhões de rostos.

Com a incorporação de reconhecimento facial às câmaras individuais dos polícias, podem, por exemplo, identificar quem vai às manifestações, seguir indiscriminadamente imigrantes e residentes das cidades, mesmo quando não são considerados como suspeitos de qualquer atividade ilícita.

Dado que a polícia não tem capacidade nos seus servers para armazenar as comunicações de ocorrências em curso ou verificadas, a Amazon “disponibilizou” os seus serviços, o que assim lhe permite uma enorme recolha de dados sobres as vidas quotidianas, intimidade e momentos de vulnerabilidade das pessoas, mais uma vez sem o seu consentimento (http://www.academia.edu/1069341/Surveillance_Society_Questions_of_History_Place_and_Culture).

 

Outro seu produto, o “Ring” (campaínha), com o pretexto de segurança das habitações, além de ficar com todos os dados do interior da casa, ainda faz com que todos os que se aproximem (ou falem) das entradas possam ser identificados através do reconhecimento facial, da voz ou da impressão digital, sendo os seus dados enviados e arquivados num centro governamental.

Outro produto: a assistente virtual da Amazon, “Alexa”, consegue já decifrar as características físicas e o estado emocional dos utilizadores, apenas pela sua voz. Só pelo acento linguístico, consegue determinar o local de nascimento da pessoa.

 

Ou seja, tudo serve para arrecadar dados sobre as pessoas, seus conhecidos e ambientes frequentados.

A Amazon, é das companhias que mais se tem esforçado, trabalhado e lucrado com a destruição da privacidade das pessoas, de todas as pessoas.

 

O “dono” da Amazon, Jeff Bezos, publicou recentemente emails (https://medium.com/@jeffreypbezos/no-thank-you-mr-pecker-146e3922310f),  segundo os quais estava, coitado, a ser chantageado pelo National Enquirer ( um Correio da Manhã, mas em muito grande, lido em todos os EUA), que pretendia não publicar as fotografias (e mensagens) íntimas, trocadas entre Bezos e a sua acompanhante extraconjugal através dos seus iPhones, desde que ele se submetesse ao pedido expresso do National Enquirer de garantir nada dizer sobre a chantagem a que estava a ser sujeito.

Não deixa de ter a sua ironia. O espião, espiado. “Cá se fazem, cá se pagam”, diz o povo na sua episódica e inconsequente sabedoria. O “aminão-mor” apanhado. 

 

Para já, uma das consequências foi o anúncio da separação e consequente ação de divórcio de Bezos, 25 anos após o casamento.

Mas, há qualquer coisa que não se entende muito bem. Porque quereria ficar o National Enquirer incógnito? Ou seja, que ganharia com isso?

O National Enquirer foi aquele órgão de comunicação que apoiou tão ativamente a eleição de Trump e que chegou ao cúmulo do próprio presidente da sua organização admitir ter feito pagamentos para silenciar as histórias sobre as infidelidades de Trump.

Por outro lado, não devemos esquecer que Jeff Bezos comprou recentemente o Washington Post, órgão de comunicação que se posiciona como sendo anti-Trump.

Teríamos assim um ajustar de contas do género: nós não dizemos as tuas e tu não dizes as nossas. A ser assim, neste caso Trump 1, Bezos 0.

 

Veremos se se trata apenas de tricas pessoais sobre lençóis e fronhas que nos impeçam de ver as fotografias desnudas de Bezos, Trump e suas acompanhantes, ou de um episódio revelador de uma reconfiguração do poder. O futuro posicionamento da Amazon (e outras que tais) nos dirá.

 

 

Nota complementar:

Sobre as propriedades, valores, influência do divórcio na Amazon, ler um interessante artigo do Daily Mail, de 10 jan 2019 (https://www.msn.com/en-us/news/world/amazon-ceo-jeff-bezos-has-been-having-an-eight-month-affair-with-a-49-year-old-tv-anchor-sharing-sexy-selfies-and-exotic-vacations-together-and-only-announced-his-dollar140bn-split-from-wife-of-25-years-because-the-fling-was-about-to-be-made-public/ar-BBS3LcI?li=AAavLaF).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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