Quem pode, deve pagar. Quem não der o seu sangue, que entregue o dinheiro, Benito Mussolini.
O sufrágio universal é uma pura ficção convencional. Não diz nada, e não significa nada, B. M.
Que as pessoas queiram votar? Pois que votem! Votemos todos até ao fastio e à imbecilidade! B. M.
O fascismo quer poder e tê-lo-á, B. M.
Acompanhemos intervenções, discursos e acontecimentos da vida do socialista revolucionário Benito Mussolini desde 1919, a quando da conferência para a constituição dos Fascios regionais, até à Exposição da Revolução Fascista a 29 de outubro de 1932 no Palácio de Exposições em Roma.
Todas elas se encontram historicamente documentadas, conforme nos assegura Antonio Scurati, na sua obra M. Il figlio del secolo (2018) e M. l’uomo della providenza (2020).
Corriere della Sera, 24 de março de 1919, secção «As conferências dominicais»:
“Ontem celebrou-se no salão do Círculo da Aliança Industrial e Comercial uma conferência para a constituição dos Fascios regionais entre grupos de intervencionistas. Na conferência tomaram a palavra o industrial Enzo Ferrari, o capitão dos Velhos Ousados e vários outros. O professor Mussolini ilustrou as pedras angulares em que se deve basear a ação dos Fascios, a saber: a valorização da guerra e dos que lutaram na guerra; demonstrar que o imperialismo que se inculpa os italianos é o imperialismo desejado por todos os povos sem excluir a Bélgica e Portugal e, portanto, oposição aos imperialismos estrangeiros em detrimento do nosso país e oposição a um imperialismo italiano contra outras nações; por último, aceitar a batalha eleitoral sobre o facto da guerra e opor-se a todos os partidos e candidatos que se declararam contra a guerra.
As propostas de Mussolini, depois de vários oradores terem intervido, foram aprovadas. Na conferência estiveram representadas diferentes cidades de Itália.”
A 6 de junho de 1919 é publicado no Il Popolo d’Italia, o programa dos ‘Fascios de Combate’, onde Mussolini expõe:
“Com respeito ao programa político, queremos: uma política exterior não submissa, reforma da lei eleitoral, abolição do Senado.
Quanto ao problema social, queremos: jornada laboral de oito horas, salários mínimos, representantes sindicais nos conselhos de administração, gestão operária das indústrias, seguros de invalidez e pensões, distribuição de terras não cultivadas entre os camponeses, uma reforma eficiente da burocracia, uma escola laica financiada pelo Estado.
Quanto ao problema financeiro, queremos: impostos extraordinários sobre o capital de caráter progressivo, expropriação parcial de todas as riquezas, arresto de oitenta e cinco por cento de todos os lucros com a guerra, arresto de todos os bens das congregações religiosas.
Quanto ao problema militar, queremos: a nação armada. […]”
Relatório do inspetor geral da segurança pública Giovanni Gasti, junho 1919:
“Benito Mussolini, professor, filho de Alessandro, nascido em Predappio a 29-7-1883, residente em Milão no Foro Bonaparte 38, socialista revolucionário, inscrito, professor primário habilitado para o ensino nas escolas secundárias, foi inicialmente secretário da Câmara do Trabalho de Cesena, Forli e Rávena, e mais tarde, desde 1912, diretor do periódico Avanti!, ao que imprimiu um caráter violento, sugestivo e intransigente. Em outubro de 1914, após entrar em conflito com os dirigentes do Partido Socialista Italiano pela sua defesa da neutralidade ativa da Itália na guerra das nações contra a tendência de neutralidade absoluta, retirou-se a 20 do mesmo mês da direção do Avanti!
A continuação, inicia a 15 de novembro a publicação do periódico Il Popolo d’Italia, em que defendeu […] tese da intervenção da Itália na guerra contra o militarismo dos Impérios Centrais.
Por esta razão foi acusado pelos seus companheiros socialistas de indignidade moral e política e se decidiu a sua expulsão …
Teve como amante, entre outras, uma certa Dalser Ida, natural de Trento, de quem teve um filho em novembro de 1915, reconhecido por Mussolini mediante ato público de 11 de janeiro de 1916 …. Abandonada por Mussolini, dizia mal dele a todos, dizendo que o tinha ajudado financeiramente, sem fazer qualquer referência, sem embargo, aos seus antecedentes políticos … Entretanto esteve internada em Caserta, onde, perante um funcionário desta polícia (fevereiro de 1918), acusou Mussolini de ter vendido à França atraiçoando os interesses do seu país e, a este respeito, referiu ter tido conhecimento de que em 17 de janeiro de 1914 tinha havido um encontro em Genebra entre Mussolini e o primeiro ministro francês Caillaux, em consequência do qual este último pagou supostamente a Mussolini uma soma de um milhão de liras …
A dita Dalser, sem embargo, é uma neurasténica e uma histérica exaltada pelos seus desejos de vingança contra Mussolini e as suas declarações não são dignas de confiança.
Contudo, das investigações realizadas consta que com efeito, se bem que não na data indicada por Dalser mas a 13 de novembro de 1914 (note-se: dois dias antes da aparição do primeiro número do Il Popolo d’Italia), Benito Mussolini encontrava-se em Genebra, e precisamente no Hotel d’ Angleterre.”
Discurso de Benito Mussolini, Milão, 9 de junho de 1919, feito no primeiro encontro público dos Fascios de Combate, na Porta Romana, sobre os tumultos populares contra o aumento do custo de vida:
“O problema está claro. A nação italiana é como uma grande família. As arcas estão vazias. Quem as vai encher? Outra vez nós? Nós, que não possuímos casas, automóveis, bancos, minas, terras, fábricas, dinheiro? Quem pode, deve pagar. Quem pode deve desembolsar […] Uma de duas: ou os abençoados terratenentes se expropriam a si próprios e então não haverá crises violentas, porque nós somos os primeiros a não querer a violência entre as pessoas da mesma raça e que vivem debaixo do mesmo céu; ou se se mantiverem cegos, surdos, tacanhos, cínicos, e então dirigiremos as massas de combate contra esses obstáculos e derrubá-los-emos. É a hora de sacrifícios para todos. Quem não der o seu sangue, que entregue o dinheiro.”
Benito Mussolini no Il Popolo d’Italia, 13 de novembro de 1920:
“A Itália necessita paz para retomar o seu caminho, para se recuperar, para se refazer, para se encaminhar pelos caminhos da sua indefetível grandeza. Só um louco ou um criminoso pode pensar em desencadear novas guerras que não nos sejam impostas por uma agressão inesperada- “
Benito Mussolini, “Aos fascistas da Lombardia”, Il Popolo d’Italia, 22 de fevereiro de 1921:
“Acusam-nos de levar a violência na vida política. Nós somos violentos sempre que seja necessário sê-lo. […] A nossa deve ser uma violência de massas, inspirada sempre em critérios e princípios ideológicos […] Quando nos topamos com esses sacerdotes e padres vermelhos, nós, que somos inimigos de todas as igrejas, pese a respeitar as religiões professadas com decência, penetramos nesse vil rebanho de ovelhas e rebentamos com tudo.”
Benito Mussolini, “Sobre a questão da violência”, Il Popolo d’Italia, 25 de fevereiro de 1921:
“[…] Em primeiro lugar, temos de voltar a declarar que para os fascistas a violência não é um capricho ou m propósito deliberado. Não é a arte pela arte. É uma necessidade cirúrgica. Uma dolorosa necessidade. Em segundo lugar, a violência fascista não pode ser uma violência de provocação […] Em definitiva, a violência fascista deve ser cavaleiresca. Sem qualquer dúvida […] Não se superam impunemente certas fronteiras. A violência, para nós, é uma exceção, não um método, ou um sistema. A violência, para nós, não tem caráter de vingança pessoal, mas caráter de defesa nacional.”
Benito Mussolini, “Para onde vai o mundo?”, Gerarchia, 25 de fevereiro de 1922:
“Os povos movem-se ansiosos em busca de instituições, de ideias, de homens que representem pontos sólidos na vida, que sejam refúgios seguros […]. Os regimes das esquerdas tal como foram instaurados em toda a Europa entre 1848 e 1900 – à força do sufrágio universal e de legislação social – deram de si o que puderam […]. O século da democracia morre em 1919-1920 […]. O processo de restauração à direita já é visível em manifestações concretas. A orgia da indisciplina cessou, o entusiasmo pelos mitos sociais e democráticos terminou. A vida regressa ao indivíduo. Assistimos a uma recuperação clássica.”
Benito Mussolini, discurso sobre o Estado liberal no bairro Amatore Sciesa, Milão, 4 de outubro de 1922:
“Por estas alturas, o Estadoliberal é uma máscara por de trás da qual não há nenhuma cara […]. É nisso que se estriba a insensatez do estado liberal, que concede a liberdade a todos, incluso aqueles que servem dela para o derrubar. Nós não concederemos essa liberdade […]. O que nos separa da democracia não são os atos eleitorais. Que as pessoas queiram votar? Pois que votem! Votemos todos até ao fastio e à imbecilidade! Ninguém quer suprimir o sufrágio universal. Mas aplicaremos uma política de reação e de severidade […]. Dividamos os italianos em três categorias: os italianos “indiferentes”, que se manterão nos seus lugares à espera; os “simpatizantes”, que poderão circular; e por último os italianos “inimigos”, e estes não circularão.”
Benito Mussolini, editorial do Il Popolo d’Italia, de 29 de outubro de 1922:
“A situação é esta: a maior parte da Itália setentrional está completamente em poder dos fascistas. Toda a Itália central […] está ocupada pelos “camisas negras” […]. A autoridade política – algo surpreendida e muito consternada – não foi capaz de enfrentar-se ao movimento […]. O governo deve ser claramente fascista […]. Isto deve ser claro para todos […]. Qualquer outra solução será rechaçada […]. A inconsciência de certos políticos de Roma oscila entre o grotesco e a fatalidade. Que se decidam de uma vez! O fascismo quer poder e tê-lo-á.”
Benito Mussolini, “Força e consenso”, Gerarchia, março de 1923:
“A liberdade é uma divindade nórdica, adorada pelos anglo-saxões […]. O fascismo não conhece ídolos, não adora fetiches: já passou e, se for necessário, voltará a passar de novo com calma sobre o corpo mais ou menos decomposto da Deusa Liberdade […]. A liberdade, já não é hoje em dia, a virgem casta e severa pela qual lutaram e morreram gerações na primeira metade do século passado. Para as juventudes intrépidas, inquietas e duras que se assomam ao crepúsculo matutino da nova história, há outras palavras que exercem um atrativo muito maior, e que são: ordem, hierarquia, disciplina.”
Benito Mussolini, discurso comemorativo da fundação dos Fascios de Combate, no teatro Costanzi, Roma, 24 de março de 1924:
“Ou se está a favor ou contra. Ou fascismo ou antifascismo. Quem não está connosco, está contra nós.”
Benito Mussolini, discurso perante o Conselho Nacional do PNF, 7 de agosto de 1924:
“Tratemos de evitar o alarmismo entre as populações, tratemos de nos apresentar com a nossa aparência guerreira, mas capazes tão só dessa necessária crueldade, a crueldade do cirurgião. Não se vejam os nervos já alterados da população: ao fim e ao cabo, o povo fará aquilo que nós quisermos que ele faça. Amanhã, mil indivíduos muito determinados submetem Roma, amanhã, se atuarmos seriamente, com a decisão de quem têm nas suas costas as pontes queimadas sem outra coisa que não seja o seguir em frente, as populações retirar-se-ão, porque no fundo, a humanidade continua a ser a do apeadeiro de Alessandro Manzoni, que afirma: “Não me interessa, cada um tem os seus próprios assuntos”.”
Benito Mussolini, “Elogio dos militantes”, Gerarchia, 28 fevereiro de 1925:
“Este é o signo da nova Itália, que se exime de uma vez por todas da velha mentalidade anarcoide e rebelde e intui que só a silenciosa coordenação de todas as forças, debaixo das ordens de um só, reside o segredo perene de toda a vitória […]. Melhor as legiões que os colégios [eleitorais]!”
Benito Mussolini, “Absoluta intransigência”, discurso no encerramento do IV Congresso do PNF, no Teatro Augusteo, Roma, 22 de junho de 1925:
“Agora vou fazer-vos uma confissão que vos deixará o espírito completamente descabelado. Pensei muito antes de a fazer. Nunca li uma página sequer de Benedetto Croce (Vivíssima hilaridade, vivíssimos aplausos). Isto diz-vos às claras o que eu penso de um fascismo que se pretende culturalizar com a ka alemã. Os filósofos saberão resolver dez problemas no papel, mas são incapazes de resolver um só que seja na realidade da vida (Vivas aprobatórios).
Enrico Corradini, “Epígrafe sepulcral”, Il Polpolo d’Italia, 12 de novembro de 1925:
“O período do antifascismo está acabado, tal como toda a sua gente, a quem não resta mais nada do que desaparecer”.
Winston Churchill, janeiro de 1926 (declaração recolhida pela propaganda fascista):
“Itália ganha cada vez mais importância debaixo da direção viril e iluminada do seu governo atual, que lhe assegurou uma magnífica posição na Europa e no mundo”.
Enrico Corradini, fundador da Associação Nacionalista Italiana, março de 1926:
“O fascismo situa também a luta como um dos seus princípios, mas não a luta democrática […] mas a luta aristocrática, que termina com o triunfo do mais forte […]. A luta dos partidos não foi outra coisa mais que uma apólice de seguros entre os partidos. Mas o fascismo só tolerou os partidos durante o lapso de tempo que foi necessário para os vencer, reprimi-los, suprimi-los […]. O fascismo aspira à morte dos seus adversários”.
Adolf Hitler, entrevista no Daily Mail, 2 de outubro de 1926:
“Se à Alemanha fosse concedido um Mussolini alemão […] povo ajoelharia para o adorar mais do nunca se lhe há ocorrido ao próprio Mussolini”.
Benito Mussolini, discurso em Tripoli, 11 de abril de 1926:
“É o Destino que nos empurra para esta terra. Ninguém pode deter o destino”.
Benito Mussolini, declaração ao juiz de instrução, 11 de setembro de 1926:
“Esta manhã às dez saí como de costume da Villa Torlonia para dirigir-me para o Palacio Chigi. Ao chegar próximo da Porta Pia, não muito longe do quiosque, senti uma forte pancada no tejadilho do meu carro que está coberto. Ao princípio pensei que fosse um grande pedregulho, mas depois de percorrer uns metros ouvi a explosão aterradora de uma bomba que reconheci como uma Sipe. Vi cair uma pessoa enquanto os agentes da escolta se precipitavam para o agressor. Prossegui ileso para o Palacio Chigi. O agressor era-me totalmente desconhecido”.
Comunicado da Reuters, agência de notícias britânica, 12 de setembro de 1926:
“O Exmo. Sr. Mussolini granjeou já a lendária fama de ser um homem contra o qual resulta inútil atentar porque evidentemente se acha protegido pela Providência”.
The Washington Post, 1 de novembro de 1926:
“É uma bendição para a Itália que Mussolini se tenha salvo. A sua tarefa não tinha terminado. Segundo a opinião de muitos estudiosos de assuntos italianos, o sistema fascista cairia se Mussolini morresse. É uma instituição que inspira tanto uma devoção fanática como uma fanática oposição, mas que, apesar das suas tendências repressivas, está a transformar a Itália numa nação produtiva e próspera […]. Mussolini é um homem valente que desafia a morte cumprindo com o seu dever. Está triunfando e merece a admiração do mundo. Qualquer um que não simpatize com o comunismo e os assassinos que produz, devem esperar ferverosamente que a vida milagrosa de Mussolini prossiga”.
Papa Pio XII, alocução no consistório de 20 de dezembro de 1926:
“Indignação, horror, é o que deve suscitar o insano atentado contra a vida do presidente do Governo, o Exmo. Sr. Benito Mussolini, do homem que governa o destino do país com tanta energia como para fazer temer que o próprio país periclite cada vez que periclita a sua pessoa”.
Italo Balbo, subsecretário de Estado da Aviação, circular aos oficiais da força aérea, 1927:
“Os imprudentes que reneguem a Pátria, que se tenham aliado com o estrangeiro em terras estrangeiras, não devem ser considerados como filhos de italianos, mas como descendentes de libertos, trazidos como escravos para Itália pelas legiões vitoriosas, ou como bastardos das invasões bárbaras”.
Benito Mussolini, discurso ao Senado sobre a reforma da representação política, primavera 1928:
“Ora bem, é o povo realmente soberano num regime de partidos? Especialmente quando a desintegração do Estado chegue a um ponto em que, por exemplo, “trinta e cinco listas de trinta e cinco partidos” convidam o povo a exercitar a soberania de papel?
Inclusivamente mesmo dentro de um regime de partidos, as eleições são realizadas por comissões incontroláveis.
O povo eleitoral é chamado a ratificar decisões tomadas pelos partidos […]. Não tenho reparos em declarar que o sufrágio universal é uma pura ficção convencional. Não diz nada, e não significa nada […].
E vamos ao Estatuto. Temos de ser claros, honrados senadores .... Encontramo-nos no campo da arqueologia ou no da política […]? Alguém acredita a sério que uma constituição ou um estatuto possam ser eternos e não, pelo contrário, temporais? Imutáveis e não, pelo contrário, mutáveis? Portanto, é um esforço, em minha opinião, supérfluo, por mais comovedor, permanecer de guarda perante o Santo Sepulcro.
O Santo Sepulcro está vazio”.
Adolf Hitler, 13 de julho de 1928:
“Não há qualquer conflito de interesses entre a Alemanha e Itália […]. Os interesses comuns de italianos e alemães devem apontar para uma inimizade comum para com a França e para o conflito comum com essa Potência.
A Itália necessita de África para a colonizar com o excesso da sua população. A França, por outro lado, necessita da África para encher o seu exército metropolitano de negros. É por isso que a Itália é imperialista. Louvado seja Deus!”
Papa Pio XII, alocução a professores e estudantes da Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, 13 de fevereiro de 1929:
“E talvez o que fizesse falta era um homem como aquele que a Providência nos permitiu encontrar, um homem que não tivesse as preocupações da escola liberal”.
L’Osservatore Romano, 30 de maio de 1931:
“O Tribunal Especial de Defesa do Estado condenou, ontem à noite, a morrer por fuzilamento de costas o subversivo Michele Schirru, culpado por ter tido a intenção de matar o Chefe do Governo italiano […]. A execução teve lugar esta manhã pelas 4:27 no Forte Braschi.”
Aqueles que não recordam o passado estão condenados a repeti-lo, George Santayana.
A 8 de setembro de 1941 começou um dos mais longos e destrutivos cercos da história e o que mais vítimas fez (mais de milhão e meio).
O corte de qualquer fonte de sustento é considerado legítimo.
“Genocídio silencioso” é um “genocídio por simplesmente não se fazer nada”, J. Ganzenmüller.
No domingo de 22 de junho de 1941, a Alemanha Nazi deu início à maior ofensiva terrestre jamais vista (3,8 milhões de militares envolvidos), a Operação Barbarossa (de Frederick Barbarossa – barba ruiva – o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico do século XII, símbolo da unidade alemã), com a finalidade de conquistar toda a parte ocidental da União Soviética e obter mais espaço vital (lebensraum) para ser repovoado por alemães.
Tudo isto fazia parte do ‘Plano Mestre para o Oriente’ (Generalplan Ost, GPO) que previa a exterminação em grande escala e a limpeza ética dos eslavos, dos judeus da Europa oriental e de outros povos indígenas, todos eles designados como sub-humanos (untermensch), e a apropriação das grandes reservas de petróleo do Cáucaso e dos recursos agrícolas dos vários territórios soviéticos, incluindo a Ucrânia e a Bielorrússia.
Ao ‘Corpo dos Exércitos do Norte’ foi atribuído como objetivo estratégico a captura de Leninegrado, cidade berço da Revolução Russa, base principal da frota naval soviética no Báltico e responsável por 11% de toda a produção industrial soviética.
Aos ‘Exércitos do Norte’ juntaram-se 7 divisões da infantaria das Forças de Defesa da Finlândia, um esquadrão de assalto da Marinha de Itália e os voluntários da Divisão Azul de Espanha, num total de 725.000 soldados.
Em agosto de 1941, estas forças atacantes estavam já próximas de Leninegrado. A 8 de setembro de 1941 foi tomada a última estrada que permitia a saída da cidade. Começara um dos mais longos e destrutivos cercos da história e o que mais vítimas fez (mais de milhão e meio).
Convencido da iminente queda de Leninegrado, Hitler vai-lhes relembrar e repetir as prioridades: “Leninegrado primeiro, a bacia de Donetsk segundo, Moscovo terceiro”.
Contudo, face à demora em tomar a cidade, o ‘Alto Comando Alemão’ começa a considerar a destruição de Leninegrado, uma vez que a ocupação da cidade estava fora dos seus planos, pois tal responsabilizá-lo-ia pelo seu abastecimento. A resolução foi manter o cerco à cidade, bombardeá-la constantemente e matar à fome a população.
“Após a derrota da Rússia Soviética não há qualquer interesse em que esse grande centro urbano continue a existir. […] Após o cerco da cidade, quaisquer pedidos para negociações com vista à rendição devem ser negados, dado que o problema de realojar e alimentar a população não pode e não deve ser por nós resolvido. Nesta guerra pela nossa existência, não temos qualquer interesse em manter nem que seja uma pequena parte dessa muito grande população urbana.”
Leninegrado tinha uma população de 3.103.000 a 3.385.000 contando com os subúrbios. Com a destruição de fábricas, escolas, hospitais e outras infraestruturas civis, o corte de abastecimento de água, energia e alimentos, levou rapidamente à doença e à fome (para além de ratos ou qualquer outro animal, comia-se cola e pão feito de serradura, chegando mesmo ao canibalismo – até dezembro de 1942, a polícia já prendera 2.105 canibais, que dividia em duas categorias, os que comiam os mortos e os que os comiam ainda vivos).
Com temperaturas de 30 graus abaixo de zero, sem transportes, até mesmo o percorrer alguns quilómetros para receber a parca comida se tornava um obstáculo inultrapassável. As mortes chegaram a ser de 100.000 por mês.
Este cerco continuou até27 de janeiro de 1944, data em que as forças soviéticas empurraram as forças alemãs para 60 a 100 quilómetros da cidade.
O total de civis russos mortos durante os 900 dias de cerco foi de 1.500.000.
Nos subsequentes tribunais de Nuremberga (“Julgamento de Criminosos de Guerra perante os Tribunais Militares de Nuremberga”), o cerco de Leninegrado foi considerado como não sendo criminoso: “O corte de qualquer fonte de sustento é considerado legítimo.” Até mesmo ações como o assassinato de civis que fugiam do cerco foram consideradas legais.
Todos os anos a 27 de janeiro, para comemorar o aniversário da sua libertação, continuam a fazer-se caminhadas procissões para depositar flores no monumento à Pátria no cemitério Piskaryovskoye, onde as vítimas do cerco estão enterradas.
Não deixa de constituir um certo paradoxo que o aniversário do cerco de Leninegrado seja, nos tempos em que vivemos, uma ocasião que os europeus e os americanos preferem não lembrar, e que contudo, deviam não esquecer.
Atente-se no que o historiador alemão Jörg Ganzenmüller diz na sua tese de doutoramento de 2003 (“Leninegrado cercada: uma metrópole na estratégia dos seus atacantes e defensores”), quando qualifica o cerco de Leninegrado como um “genocídio silencioso”, ou seja, “genocídio por simplesmente não se fazer nada”. Ao deixarem a população de Leninegrado morrer à fome, bem como a outros milhões de prisioneiros nos seus campos e à sua guarda, foi exatamente isso que deliberada e programadamente fizeram.
Como disse George Santayana, filósofo ensaísta escritor hispano-americano:
“Aqueles que não recordam o passado estão condenados a repeti-lo”.
“Esqueçam os protestos contra a guerra, Woodstock, até mesmo os cabelos compridos.O verdadeiro legado da geração de sessenta é a revolução do computador.”
“Mãos Fora da Internet!”
Liberdade entendida como o direito a consumir uma quantidade exorbitante de recursos para acumular uma quantidade exorbitante de capital à custa do futuro de todos os outros.
“Nós glorificamos a guerra – a única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutivo de quem nos traz liberdade, as ideias belas pelas quais vale a pena morrer, e o desprezo pelas mulheres.”
O “Manifesto do Otimista-Tecno” de Andreessen é essencialmente revelador do pensamento dos milionários empreendedores do Silicon Valley (mas não só) segundo os quais o único modo do mundo avançar é apenas com mais tecnologia.
Desde o seu aparecimento na década de 60, várias foram as ideias (até agora utópicas) sobre a importância e utilização da tecnologia que aí tiveram origem nesse Vale de Silício: o “novo comunalismo” (new communalism) com o seu motto “Esqueçam os protestos contra a guerra, Woodstock, até mesmo os cabelos compridos. O verdadeiro legado da geração de sessenta é a revolução do computador”; o “ciber-libertarianismo” (cyber-libertarianism) com o seu motto “Vive & Deixa Viver” e “Mãos Fora da Internet!”; até à que a partir dos anos 90 veio a ser chamada como “ideologia da Califórnia” (Californian ideology), que via na subida vertiginosa da Internet a confirmação provada da importância crescente da tecnologia e da diminuição do poder dos governos.
Mas o que agora Andreessen nos propõe é já uma “filosofia” de dominaçãoatravés da tecnocracia tendo por base a “força económica (poder financeiro), poder cultural (poder soft) e poder militar”, por forma a que quem desenvolva, promova ou lucre com as suas invenções (mesmo que tenham sido concebidas e desenvolvidas com dinheiros públicos) o possa fazer sem quaisquer constrangimentos éticos, ambientais ou políticos (a liberdade e a democracia podem mesmo ser dispensadas, podendo até ser incompatíveis).
Aliás, a liberdade é entendida como o direito a consumir uma quantidade exorbitante de recursos para acumular uma quantidade exorbitante de capital à custa do futuro de todos os outros.
Não se dando conta, Andreessen utiliza a linguagem dos colonizadores quando vê a natureza e as outras pessoas como domínios a serem conquistados e explorados para o “crescimento” […] “mapeando territórios não explorados, conquistando dragões, e trazendo os despojos para casa, para a nossa comunidade”.
Não tem qualquer pudor em afirmar que “as pessoas espertas e as sociedades espertas ultrapassam as menos espertas em virtualmente todas as métricas que se utilizem”.
“A tecnologia não se preocupa com a etnicidade, raça, religião, origem nacional, género, sexualidade, posições políticas, altura, peso, cabelo ou falta dele”. Por isso, a “América e os seus aliados” e a “nossa civilização”, por mérito próprio, não devem temer abraçar o seu lugar como leader tecnológico (e civilizacional) mundial.
Numa crítica generalista pode-se afirmar que qualquer ideologia que proponha acelerar a exploração indiscriminada de recursos que tenha ou possa vir a ter consequências devastadoras para milhões de pessoas com o intuito de se dar um salto evolutivo, deverá pelo menos oferecer mais garantias ou mais evidências científicas para além do mero facto de que tal beneficiará economicamente os seus proponentes. Ainda que espertos.
Há, contudo, um outro aspeto que me parece mais preocupante deste “Manifesto” de Andreessen, nesta sua admiração quase platónica pela tecnologia mais avançada, como se ela pairasse por aí à espera de quem a controlasse.
Quando a 20 de fevereiro de 1909, Filippo Tommaso Marineti publicou no francês Le Figaro (http://www.unknown.nu/futurism/manifesto.html) o “Manifesto do Futurismo”, nada fazia prever o seu posterior alinhamento com o fascismo de Mussolini, sendo antes este seu primeiro manifesto entendido como um hino a favor de um movimento artístico e cultural, uma estética de modernidade com base na visão tecnológica do que a sociedade do futuro deveria ser, uma mudança radical já então possível ao dispor dos corajosos, tendo como finalidade
“libertar este país do cheiro putrefacto da gangrena de professores, arqueologistas, cicerones e antiquários. Já por muito tempo tem a Itália sido um comércio de roupas em segunda mão. Queremos libertá-la dos seus inúmeros museus que a cobrem qual cemitérios.”
Como futurista, ele é um firme crente da componente tecnológica, daí o acreditar na velocidade como necessária à alteração do tempo, à entrada numa nova era de progresso.
A excitação de Marinetti perante a velocidade dos automóveis, dos barcos a vapor e das locomotivas, leva-o a não hesitar em considerar a beleza de um carro de corridas como superior à da famosa Vitória Alada de Samotrácia:
“4. Afirmamos que a magnificência do mundo foi enriquecida com uma nova beleza: a beleza da velocidade. Um carro de corridas com o capô adornado com grandes tubos, quais serpentes com um bafo explosivo – um carro a rugir como se estivesse a expelir metralha é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.”
Com o aproximar da Guerra (agosto de 1914), Marinetti vai ser dos seus primeiros apoiantes, incitando a Itália que se declarara neutral (só se junta aos Aliados em maio de 1915) a entrar nela, porquanto para ele a guerra funcionaria como uma purga que faria com que a Itália e a Europa perdessem o lastro do passado que as impedia de progredir. Como aliás já constava do seu Manifesto:
“9. Nós glorificamos a guerra – a única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutivo de quem nos traz liberdade, as ideias belas pelas quais vale a pena morrer, e o desprezo pelas mulheres.”
Há um outro Manifesto posterior (sempre que Marinetti se queria manifestar sobre qualquer coisa, publicava um novo Manifesto) relativo à guerra colonial que a Itália impôs à Etiópia, em que esta sua posição sobre a guerra fica mais clara:
“Há vinte e sete anos que nós, futuristas, nos manifestamos contra o fato de se designar a guerra como antiestética … por conseguinte, declaramos: … a guerra é bela porque fundamenta o domínio do homem sobre a maquinaria subjugada, graças às máscaras de gás, aos megafones assustadores, aos lança-chamas e tanques. A guerra é bela porque inaugura a sonhada metalização do corpo humano. A guerra é bela porque enriquece um prado florescente com as orquídeas de fogo das metralhadoras. A guerra é bela porque reúne numa sinfonia o fogo das espingardas, dos canhões, dos cessar-fogo, os perfumes e odores de putrefação. A guerra é bela porque cria novas arquiteturas, como a dos grandes tanques, a da geometria dos aviões em formação, a das espirais de fumo de aldeias a arder, e muitas outras … poetas e artistas do futurismo … lembrai-os destes fundamentos de uma estética da guerra, para que a vossa luta possa iluminar uma nova poesia e uma nova escultura!”
Quando a guerra acaba em 1918, os Futuristas passam a um período de intensa atividade política: formam o Partido Político Futurista, (https://it.wikisource.org/wiki/Manifesto_del_Partito_Politico_Futurista_Italiano), e forjam uma aliança com Benito Mussolini.
Logo à cabeça, o Manifesto do Partido político Futurista proclama a intenção do Partido: “Fazer de novo a Itália grande”.
A sua religião era a do “amanhã”, com propostas que iam desde a abolição do senado e sua substituição por homens de ciência, à dissolução da instituição do casamento.
Há quem diga que “a história se repete”, querendo talvez com isso dizer que o Sol, como sempre tem nascido ao longo da história, irá certamente nascer amanhã. Não era bem com essa intenção que Hegel dizia que a História se repetia incessantemente, mas, mesmo assim, Marx não se escusou de o corrigir n’ O 18 de Brumário de Luís Bonaparte:
“Hegel observa algures que todos os grandes acontecimentos e personagens da História mundial sobrevêm, por assim dizer, duas vezes. Esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa”.
No entanto, é para mim bem possível que os grandes acontecimentos apareçam até mais do que duas vezes, e até como tragédias sempre maiores.
O crescimento económico não é uma panaceia, mas a falta de crescimento é uma matança, Paul Collier.
Dêem-nos um problema do mundo real e poderemos inventar uma tecnologia que o resolva, Anderssen Horowitz (A. H.).
Acreditamos que a Inteligência Artificial é a nossa alquimia, a nossa Pedra Filosofal – estamos literalmente fazendo a areia pensar, A. H.
A tecnologia permite que você faça cada vez mais com cada vez menos, até que eventualmente você possa fazer tudo com nada, Buckminster Fuller
A beleza só existe na luta. Não existe obra-prima que não tenha um caráter agressivo. A tecnologia deve ser um ataque violento às forças do desconhecido, para forçá-las a curvar-se diante do homem, A. H.
Foi a 16 de outubro de 2023 que Marc Anderssen Horowitz, bilionário e construtor do primeiro browser, Netscape, publicou “The Techno-Optimist Manifesto” (“O Manifesto do Otimista-Tecno”), reproduzido aqui na sua totalidade, onde defende parte do conceito de “aceleracionismo”, muito em voga em Silicon Valley, e segundo o qual apenas a inovação tecnológica sem restrições ou regulamentações impostas poderá solucionar todos os problemas do mundo atual, ou seja, preconizando o avance sem limites da inteligência artificial. “Acelerar ou morrer”.
Devido à extensão deste “Manifesto”, mas dada a sua importância para a compreensão do que se tem vindo a passar na sociedade atual, transcrevem-se apenas algumas das suas partes tidas como essenciais.
Num próximo artigo comparar-se-á com o conhecido “Manifesto do Futurismo” escrito por Tommaso Marineti em 1909 que, refletindo a paixão desmesurada com a tecnologia, acabou por se inscrever e servir de cadinho intelectual aos regimes mais avançados da época, o fascismo de Mussolini e o nacional-socialismo de Hitler.
Começa assim o Manifesto de Anderssen:
“Mentiras
Temos vindo a ser enganados.
Dizem-nos que a tecnologia tira os empregos, reduz os salários, aumenta a desigualdade, ameaça a nossa saúde, arruína o ambiente, degrada a nossa sociedade, corrompe os nossos filhos, prejudica a nossa humanidade, ameaça o nosso futuro e está sempre prestes a tudo arruinar.
Dizem-nos para ficarmos zangados, amargurados e ressentidos com a tecnologia.
Dizem-nos para sermos pessimistas.
O mito de Prometeu – atualizado nas sua várias formas como Frankenstein, Oppenheimer e Terminator – assombra os nossos pesadelos. Dizem-nos para denunciar o nosso direito de nascença – a nossa inteligência, o nosso controlo sobre a natureza, a nossa capacidade de construir um mundo melhor.
Dizem-nos que devemos ser infelizes quanto ao futuro.
Verdade
A nossa civilização foi construída com base na tecnologia.
A nossa civilização é construída sobre tecnologia.
A tecnologia é a glória da ambição e das realizações humanas, a ponta de lança do progresso e a realização do nosso potencial.
Até recentemente, durante centenas de anos, glorificámos isto adequadamente.
Estou aqui para trazer boas novas.
Podemos avançar para uma forma de viver e de ser muito superior.
Temos as ferramentas, os sistemas, as ideias.
Temos a vontade.
É hora, mais uma vez, de levantar a bandeira da tecnologia.
É hora de sermos Tecno-Otimistas.
Tecnologia
Os tecno-otimistas acreditam que as sociedades, como os tubarões, crescem ou morrem.
Acreditamos que o crescimento é progresso – conduzindo à vitalidade, à expansão da vida, ao aumento do conhecimento e ao maior bem-estar.
Concordamos com Paul Collier quando ele diz: “O crescimento económico não é uma panaceia, mas a falta de crescimento é uma matança”.
Acreditamos que tudo o que é bom está a jusante do crescimento.
Acreditamos que não crescer é estagnação, que leva a pensamentos de soma zero, lutas internas, degradação, colapso e, em última análise, à morte.
Existem apenas três fontes de crescimento: crescimento populacional, utilização de recursos naturais e tecnologia.
As sociedades desenvolvidas estão-se a despovoar em todo o mundo, em todas as culturas – a população humana total pode já estar a diminuir.
A utilização dos recursos naturais tem limites nítidos, tanto reais como políticos.
Assim, a única fonte perpétua de crescimento é a tecnologia.
Na verdade, a tecnologia – novos conhecimentos, novas ferramentas, o que os gregos chamavam de techne – sempre foi a principal fonte de crescimento, e talvez a única causa do crescimento, uma vez que a tecnologia tornou possível tanto o crescimento populacional como a utilização dos recursos naturais.
Acreditamos que a tecnologia é uma alavanca no mundo – a forma de fazer mais com menos. […]
Acreditamos que não existe nenhum problema material – seja ele criado pela natureza ou pela tecnologia – que não possa ser resolvido com mais tecnologia.
Tivemos um problema de fome, por isso inventámos a Revolução Verde.
Tínhamos um problema de escuridão, então inventamos a iluminação elétrica.
Tivemos um problema de frio, por isso inventámos o aquecimento interior.
Tivemos um problema de calor, então inventamos o ar condicionado.
Tivemos um problema de isolamento, por isso inventámos a Internet.
Tivemos um problema de pandemias, então inventamos vacinas.
Temos um problema de pobreza, por isso inventamos tecnologia para criar abundância.
Dêem-nos um problema do mundo real e poderemos inventar uma tecnologia que o resolva […]
Mercados
Acreditamos que os mercados livres são a forma mais eficaz de organizar uma economia tecnológica. O comprador disposto encontra o vendedor disposto, um preço é atingido, ambos os lados se beneficiam da troca ou isso não acontece. Os lucros são o incentivo para produzir uma oferta que atenda à procura. Os preços codificam informações sobre oferta e procura. Os mercados fazem com que os empresários procurem preços elevados como um sinal de oportunidade para criar nova riqueza, reduzindo esses preços.
Acreditamos que a economia de mercado é uma máquina de descoberta, uma forma de inteligência – um sistema exploratório, evolutivo e adaptativo.
Acreditamos que o Problema do Conhecimento de Hayek supera qualquer sistema económico centralizado. Todas as informações reais estão nas bordas, nas mãos das pessoas mais próximas do comprador. O centro, abstraído tanto do comprador quanto do vendedor, não sabe nada. O planeamento centralizado está fadado ao fracasso, o sistema de produção e consumo é demasiado complexo. A descentralização aproveita a complexidade para benefício de todos; a centralização irá matá-lo de fome. […]
Acreditamos que um mercado define os salários em função da produtividade marginal do trabalhador. Portanto, a tecnologia – que aumenta a produtividade – impulsiona os salários para cima, e não para baixo. Esta é talvez a ideia mais contraintuitiva de toda a economia, mas é verdade, e temos 300 anos de história que o provam. […]
Acreditamos que os mercados também aumentam o bem-estar social ao gerar trabalho no qual as pessoas podem participar de forma produtiva. Acreditamos que uma Renda Básica Universal transformaria as pessoas em animais de zoológico para serem criados pelo Estado. O homem não foi feito para ser cultivado; o homem foi feito para ser útil, produtivo e orgulhoso.
Acreditamos que a mudança tecnológica, longe de reduzir a necessidade de trabalho humano, aumenta-a, ao alargar o âmbito daquilo que os humanos podem fazer de forma produtiva.
Acreditamos que, uma vez que os desejos e as necessidades humanas são infinitos, a procura económica é infinita e o crescimento do emprego pode continuar para sempre.
Acreditamos que os mercados são geradores e não exploradores; soma positiva, não soma zero. Os participantes nos mercados baseiam-se no trabalho e na produção uns dos outros. James Carse descreve jogos finitos e jogos infinitos – jogos finitos têm um fim, quando uma pessoa ganha e outra perde; jogos infinitos nunca terminam, pois, os jogadores colaboram para descobrir o que é possível no jogo. Os mercados são o jogo infinito definitivo. […]
A Máquina Tecno-Capital
Combine tecnologia e mercados e obterá o que Nick Land chamou de máquina tecno-capital, o motor da criação, crescimento e abundância materiais perpétuos. […]
Inteligência
[…] Acreditamos que a Inteligência Artificial é a nossa alquimia, a nossa Pedra Filosofal – estamos literalmente fazendo a areia pensar.
Acreditamos que a Inteligência Artificial é melhor considerada como uma solução universal de problemas. E temos muitos problemas para resolver.
Acreditamos que a Inteligência Artificial pode salvar vidas – se permitirmos. A medicina, entre muitos outros campos, está na idade da pedra em comparação com o que podemos alcançar com a união da inteligência humana e da máquina trabalhando em novas curas. Existem inúmeras causas comuns de morte que podem ser corrigidas com IA, desde acidentes de carro a pandemias ao fogo amigo em tempos de guerra.
Acreditamos que qualquer desaceleração da IA custará vidas. As mortes que poderiam ser evitadas pela IA e que foram impedidas de existir são uma forma de assassinato.
Acreditamos na Inteligência Aumentada tanto quanto acreditamos na Inteligência Artificial. Máquinas inteligentes aumentam os humanos inteligentes, conduzindo uma expansão geométrica do que os humanos podem fazer.
Acreditamos que a Inteligência Aumentada impulsiona a produtividade marginal, que impulsiona o crescimento salarial, que impulsiona a procura, que impulsiona a criação de nova oferta... sem limite superior. […]
Abundância
Acreditamos que devemos colocar a inteligência e a energia num ciclo de feedback positivo e levá-las ao infinito.
Acreditamos que devemos usar o ciclo de feedback da inteligência e da energia para tornar abundante tudo o que queremos e precisamos.
Acreditamos que a medida da abundância é a queda dos preços. Cada vez que um preço cai, o universo de pessoas que o compram obtém um aumento no poder de compra, o que equivale a um aumento na renda. Se o preço de muitos bens e serviços cair, o resultado será uma explosão ascendente do poder de compra, do rendimento real e da qualidade de vida.
Acreditamos que se tornarmos tanto a inteligência como a energia “demasiado baratas para serem medidas”, o resultado final será que todos os bens físicos se tornarão tão baratos como os lápis. Na verdade, os lápis são bastante complexos tecnologicamente e difíceis de fabricar, mas ninguém fica danado se você pegar um lápis emprestado e não o devolver. Deveríamos fazer com que o mesmo se aplicasse a todos os bens físicos.
Acreditamos que devemos fazer pressão para baixar os preços em toda a economia através da aplicação de tecnologia até que o maior número possível de preços seja efetivamente zero, elevando os níveis de rendimento e a qualidade de vida para a estratosfera.
Acreditamos que Andy Warhol tinha razão quando disse: “O que é ótimo neste país é que a América iniciou a tradição em que os consumidores mais ricos compram essencialmente as mesmas coisas que os mais pobres. Você pode estar assistindo TV e vendo Coca-Cola, e pode saber que o Presidente bebe Coca-Cola, Liz Taylor bebe Coca-Cola, e pense, você também pode beber Coca-Cola. Uma Coca é uma Coca e nenhuma quantia de dinheiro pode lhe comprar uma Coca melhor do que aquela que o vagabundo da esquina está bebendo. Todas as Cocas são iguais e todas as Cocas são boas.” O mesmo vale para o navegador, o smartphone, o chatbot.
Acreditamos que a tecnologia, em última análise, conduz o mundo para o que Buckminster Fuller chamou de “efemeralização” – o que os economistas chamam de “desmaterialização”. Fuller: “A tecnologia permite que você faça cada vez mais com cada vez menos, até que eventualmente você possa fazer tudo com nada”. […]
Acreditamos no romance da tecnologia, da indústria. O eros do trem, do carro, da luz elétrica, do arranha-céu. E o microchip, a rede neural, o foguete, o átomo dividido.
Acreditamos na aventura. Empreendendo a Jornada do Herói, rebelando-se contra o status quo, mapeando territórios desconhecidos, conquistando dragões e trazendo para casa os despojos para nossa comunidade.
Parafraseando um manifesto de uma época e lugar diferentes: “A beleza só existe na luta. Não existe obra-prima que não tenha um caráter agressivo. A tecnologia deve ser um ataque violento às forças do desconhecido, para forçá-las a curvar-se diante do homem.” […]
Acreditamos que a tecnologia é universalista. A tecnologia não se preocupa com sua etnia, raça, religião, origem nacional, gênero, sexualidade, opiniões políticas, altura, peso, cabelo ou a falta dele. A tecnologia é construída por uma ONU virtual de talentos de todo o mundo. Qualquer pessoa com uma atitude positiva e um portátil barato pode contribuir. A tecnologia é a sociedade aberta definitiva.
Acreditamos no código do Silicon Valley de “pagar adiantado”, confiança por meio de incentivos alinhados, generosidade de espírito para ajudar uns aos outros a aprender e crescer.
Acreditamos que a América e os seus aliados devem ser fortes e não fracos. Acreditamos que a força nacional das democracias liberais flui da força económica (poder financeiro), da força cultural (soft power) e da força militar (hard power). A força económica, cultural e militar flui da força tecnológica. Uma América tecnologicamente forte é uma força para o bem num mundo perigoso. As democracias liberais tecnologicamente fortes salvaguardam a liberdade e a paz. As democracias liberais tecnologicamente fracas perdem para os seus rivais autocráticos, piorando a situação de todos.
Acreditamos que a tecnologia torna a grandeza mais possível e mais provável.
Acreditamos na realização do nosso potencial, tornando-nos plenamente humanos – para nós mesmos, para as nossas comunidades e para a nossa sociedade.
O significado da vida
O Tecno-Otimismo é uma filosofia material, não uma filosofia política.
Não somos necessariamente de esquerda, embora alguns de nós o sejamos.
Não somos necessariamente de direita, embora alguns de nós o sejamos.
Estamos focados materialmente, por uma razão – para abrir a abertura sobre como podemos escolher viver em meio à abundância material.
Uma crítica comum à tecnologia é que ela elimina a escolha de nossas vidas à medida que as máquinas tomam decisões por nós. Isto é sem dúvida verdade, mas mais do que compensado pela liberdade de criar as nossas vidas que flui da abundância material criada pelo uso de máquinas.
A abundância material dos mercados e da tecnologia abre espaço para a religião, para a política e para escolhas de como viver, social e individualmente.
Acreditamos que a tecnologia é libertadora. Libertador do potencial humano. Libertador da alma humana, do espírito humano. Expandindo o que pode significar ser livre, estar realizado, estar vivo.
Acreditamos que a tecnologia abre o espaço para o que pode significar ser humano.
O Inimigo
Nós temos inimigos. Os nossos inimigos não são as más pessoas, são antes as más ideias. […]
O nosso inimigo é a estagnação.
O nosso inimigo é o anti-mérito, a anti-ambição, o anti-esforço, a anti-realização, a anti-grandeza.
O nosso inimigo é o estatismo, o autoritarismo, o coletivismo, o planejamento central, o socialismo.
O nosso inimigo é a burocracia, a vetocracia, a gerontocracia, a deferência cega à tradição.
O nosso inimigo é a corrupção, a captura regulatória, os monopólios, os cartéis. […]
O nosso inimigo é o Princípio da Precaução, que teria impedido praticamente todo o progresso desde que o homem utilizou o fogo pela primeira vez. O Princípio da Precaução foi inventado para impedir a implantação em grande escala da energia nuclear civil, talvez o erro mais catastrófico na sociedade ocidental durante a minha vida. O Princípio da Precaução continua a infligir enorme sofrimento desnecessário ao nosso mundo hoje. É profundamente imoral e devemos abandoná-lo com extremo preconceito.
O nosso inimigo é a desaceleração, o decrescimento, o despovoamento – o desejo niilista, tão na moda entre as nossas elites, de menos pessoas, menos energia e mais sofrimento e morte.
O nosso inimigo é o “Último Homem” de Friedrich Nietzsche:
“Eu digo-lhes: é preciso ainda terem o caos dentro de vocês para darem à luz uma estrela candente. Eu digo-lhes: vocês ainda têm o caos dentro de vocês.
Infelizmente! Chegará o momento em que o homem não dará à luz mais nenhuma estrela. Infelizmente! Chegará a hora do homem mais desprezível, que já não consegue mais desprezar-se …
"O que é o amor? O que é criação? O que é saudade? O que é uma estrela?” — pergunta o Último Homem, e pisca os olhos.
A terra tornou-se pequena e nela salta o Último Homem, que tudo torna pequeno. A sua espécie é tão inerradicável como a pulga; o Último Homem é o que vive mais tempo…
Ainda se trabalha, pois o trabalho é um passatempo. Mas deve-se tomar cuidado para que o passatempo não o prejudique.
Já não se torna pobre ou rico; ambos são muito pesados…
Nenhum pastor, e um rebanho! Todos querem o mesmo; todos são iguais: aquele que se sentir diferente vai voluntariamente para o hospício.
“Antigamente todo o mundo era louco” – dizem os mais subtis deles, e piscam os olhos.
Eles são espertos e sabem tudo o que aconteceu: por isso não há fim para o seu escárnio…
“Descobrimos a felicidade” – dizem os Últimos Homens, e piscam os olhos.”