Para Aldo Leopold, a ‘comunidade natural’ inclui seres humanos, animais, plantas, água e solos, integrando assim quer os elementos bióticos, quer os elementos abióticos da terra.
“Uma coisa é certa quando tende para preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica. É errada, quando tende no sentido oposto”, Aldo Leopold.
“Age de tal forma que os efeitos da tua ação não sejam destruidores da futura possibilidade dessa vida”; “não comprometas as condições de uma continuidade indefinida da humanidade sobre a terra”, Hans Jonas.
O fascismo surge como um Darwinismo social, em que as sociedades mais dinâmicas podem e devem ganhar a luta inevitável pela sobrevivência face às outras sociedades mais fracas.
Agora que tanto se fala dos "verdes", convém relembrar o seu percurso.
A ética da Terra
O conceito de ‘comunidade natural’ e a ideia que a economia não se podia sobrepor aos nossos deveres para com a Natureza, pertence ao americano que é a referência fundamental de toda a ecologia, Aldo Leopold, (1887 – 1948), e que viveu coerentemente na prática, todas as suas teorias.
A sua visão encontra-se exposta na obra A Sand County Almanac (publicada em 1949, com versão portuguesa Pensar como uma Montanha), onde, ao abordar as questões da comunidade natural e economia, desenvolve o pensamento que ficou conhecido como “ética da terra”.
Para ele, a ‘comunidade natural’incluía seres humanos, animais, plantas, água e solos, integrando assim quer os elementos bióticos, quer os elementos abióticos da terra.
O homem é, assim, apenas mais um elemento de uma comunidade de que faz parte, não aparecendo como sendo o “dono “da terra. A terra não é uma propriedade humana, daí que o homem a deve habitar harmoniosamente como seu cidadão, o “cidadão biótico”.
A violência sobre a terra deixa de ser aceite sempre que a tratarmos como um valor económico, sempre que a tratarmos como um direito nosso, sobrepondo-o aos deveres que para com ela devemos ter.
Ou seja, é fundamental conceber a terra para além do seu valor económico. Devemos compreender que a terra deve, em si mesma, ser apreciada e protegida, pois ela tem valores por si própria, tem valores intrínsecos.
Para Leopold, qualquer consciência ambiental tem de ultrapassar a tendência para perspetivar a ética como exclusivamente humana, a qual concebe os homens como os únicos seres que devemos amar, respeitar, admirar e proteger.
A Natureza, onde o homem se inclui, deve ser preservada a todo o custo, correndo o risco de perdermos a nossa “habitação”. O critério para a sua preservação, pode ser retirado desta sua frase célebre:
“Uma coisa é certa quando tende para preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica. É errada, quando tende no sentido oposto”.
Os valores da Natureza.
Para que o acordo entre a Cultura e a Natureza se concretize, não basta afirmar que, apenas pelo simples facto de existir “cultura”, a relação com a Natureza passa a ser harmoniosa.
Para que este acordo se pudesse vir a efetivar, Holmes Rolston III, resolveu apresentar dez regras, contidas na sua obra Conserving Natural Values, que deveriam estar sempre presentes em qualquer intervenção na Natureza:
#1. “Enfatizar a ausência de rivalidade entre os valores culturais(valores que o homem descobre ou atribui enquanto inserido numa cultura) e os valores naturais (valores da Natureza que o homem pode e deve reconhecer)”.
#2. “Ter cuidado com os compromissos”, pois um compromisso pode não significar uma decisão equilibrada.
#3. “Proteger os valores das minorias”. As decisões por maioria nem sempre protegem os interesses das minorias. Deve ser ponderada a utilização da regra de 2/3 ou do veto.
#4. “Completar o quadro económico com análises ecológicas”.
#5. “Basta”. É preciso dizer “basta” sempre que em vez de otimizar (o melhor) se preferir o maximizar (mais quantidade).
#6. “Identificar todas as partes afetadas”, incluindo as plantas e animais que não tendo voz, pertencem à Natureza e fazem parte do nosso ambiente.
#7. “Insistir na sustentabilidade” aumentando a utilização de recursos renováveis e limitando o recurso às energias não renováveis.
#8. “Evitar a mudança irreversível”, decidindo tanto mais lentamente quanto maior for o impacto da mudança, para não se correr o risco dos erros irreversíveis.
#9. “Reconhecer à alteração o ónus da prova”. Quem quiser introduzir alterações é que vai ter de provar que elas otimizam.
#10. “Tornar explícitos os juízos de valor latentes”, dando sempre a conhecer os valores naturais existentes, não aguardando para os expressar apenas na altura em que uma ameaça surja.
Rolston, vai ainda reconhecer uma multiplicidade de valoresque o homem descobre na Natureza:
valor de sobrevivência (life-support), valor económico, valor recreativo, valor científico, valor estético, valor da diversidade genética, valor histórico, valor da simbolização cultural, valor da construção do carácter, valor da diversidade-unidade, valor da estabilidade e da espontaneidade, valor dialético, valor da vida e valor religioso.
Ecologia superficial e ecologia profunda.
Curiosamente, Rolston, ao preocupar-se em atribuir estes valores à Natureza, está, de certa forma, a legitimar a visão antropocêntrica, uma vez que esses valores da Natureza lhe são atribuídos pelo homem.
Ou seja, mesmo nas melhores das interpretações ecocêntricas, mais generosas e abrangentes, é difícil não encontrar um elemento antropocêntrico.
Foi isto que levou Luc Ferry a propor uma nova nomenclatura, considerando a perspetiva antropocêntrica como “ecologia superficial” e a perspetiva ecocêntrica como “ecologia profunda” (A Nova Ordem Ecológica. A árvore, o animal e o homem).
O biocentrismo. A senciência.
Se apenas considerarmos os direitos dos elementos bióticos da terra, em particular os direitos dos animais humanos e não humanos, é possível concebermos uma teoria que, embora sendo mais restrita, não entre em conflito com o ecocentrismo de Aldo Leopold.
Esta é a visão biocêntrica apresentada por Peter Singer, segundo a qual os animais não humanos têm direitos como os humanos, possuindo estatuto moral (Os Animais Têm direitos? Perspetivas e Argumentos).
Singer começa por denunciar os erros e perigos de se considerar uma espécie, a humana, como superior a todas as outras (“especismo”), vendo isso como mais uma forma de discriminação, ao nível da escravatura e da submissão das mulheres.
Na sua explicação, começa por constatar que, atualmente, todas as pessoas bem formadas sentem repugnância e condenam qualquer ato discriminatório dirigido a outros seres da nossa própria espécie, e tal é feito com base num princípio de igualdade segundo o qual os seres da mesma espécie devem ser considerados de igual forma.
Não no sentido de uma igualdade factual restrita, uma vez que os seres humanos em termos físicos ou psicológicos são e serão sempre diferentes uns dos outros, mas no sentido de uma igualdade de consideração, segundo a qual todos os seres humanos devem ser considerados iguais em termos morais.
Não há, pois, nenhuma razão que impeça “estender este princípio da igualdade de consideração a outros seres que não pertençam à nossa espécie, isto é, que sejam diferentes entre si e de cada um de nós, tal como nós somos diferentes de qualquer outro elemento da espécie humana”. É nesta visão de Peter Singer, que assenta a base concetual do filme “Avatar”.
Mas, quais os critérios a utilizar para a definição dos limites da igualdade de consideração moral, ou seja, para o reconhecimento do estatuto moral aos animais não humanos?
Para Singer, a racionalidade não é um bom critério, porque é o que mais tem contribuído para legitimar o “especismo” a favor do homem, e ainda porque, segundo ele, há animais que ao nível da consciência e da autonomia são superiores ao homem, bastando fazer a comparação entre os animais não humanos e os bebés humanos.
A potencialidade é o critério que afirma a superioridade de um bebé humano relativamente a um animal não humano, pelo facto de conter em si capacidades racionais, ainda que em potência, mas que poderá vir a desenvolvê-las posteriormente.
Singer contesta também este critério, notando que tais capacidades podem não existir num ser humano com lesões cerebrais, não sendo por isso que o vamos maltratar.
Para ele, o critério definidor é o da capacidade/possibilidade de sofrimento: “será que podem sofrer?”. É esta capacidade de sentir dor ou prazer, a “senciência”, que é comum a todos os animais vivos.
E justifica, apontando que foram precisamente os critérios da racionalidade que possibilitaram um número sem fim de atrocidades cometidas pelos seres humanos contra os próprios seres humanos. E se somos contra esses atos, se questionarmos a sua moralidade, não teremos que ser também contra o especismo que se encontra fundado nessa mesma lógica de alegadas desigualdades factuais?
“Não serão estes os critérios que outrora serviam para justificar a escravatura, e que agora aplicamos aos animais?”.
Jan Narveson (Moral Matters), vai contestar todos estes critérios. Segundo ele, os critérios deverão antes ser:
“A capacidade de duas partes para estabelecer um contrato social; a relevância de um ser para outro ser da mesma espécie; a possibilidade de desenvolver uma noção de futuro; e a capacidade par articular um discurso.”
Aplicando estes critérios, torna-se evidente a supremacia do homem sobre todos os animais. Estamos perante uma escolha de critérios eminentemente pró-homem, impedindo qualquer alargamento de consideração dos direitos aos animais.
Por isso, segundo Narveson, nada justifica a concessão de um estatuto moral a seres que existem para servir um fim humano.
Defende, contudo, que a utilização destes critérios, não justificam a imposição de sofrimento gratuito dos animais nem mesmo um sofrimento duradouro, a não ser que ele seja útil para fins humanos (experiências científicas com vista à investigação de doenças), abrindo também uma exceção para os que gostem de caçar ou usar peles de animais.
Hans Jonas (Técnica e Responsabilidade: reflexões sobre as novas tarefas da Ética), à semelhança de Heidegger, reconhecia que a técnica antiga não levava a questionar a Natureza em si mesma, uma vez que o seu equilíbrio conseguia resistir a essa técnica insipiente. O homem não se sentia de maneira nenhuma como responsável pelos ataques à Natureza. Daí que a tradição da ética seja antropocêntrica.
O mesmo não se passa com a técnica moderna, que contém em si a capacidade para alterar não só a Natureza, mas o seu equilíbrio. Com o consequente aparecimento de um novo homem (o homo faber, isto é, o homem enquanto fabricante e capaz de fabricar), tal imporá a necessidade do aparecimento de uma nova ética.
A ética é sempre uma reflexão sobre factos e potencialidades, donde sempre que os factos mudam, a ética terá também de mudar.
Este novo homo faber é não só aquele que sobretudo faz, mas também é aquilo que faz. É não só o homem com a ânsia da construção (dirigindo a técnica à Natureza), mas também o que dirige a técnica para si, tornando-se o alvo da própria técnica, como se poderá constatar nos casos do adiamento da morte, da modificação dos comportamentos e da manipulação genética.
É fundamental que este homo faber não se demita de pensar sobre os benefícios dos seus novos poderes, sobre o que sabemos ser capazes de fazer, o que fatalmente implicará uma nova ética.
Esta nova ética terá de se exercer num espaço de ação alargado à humanidade não só do presente, bem como à humanidade do futuro. É assim “uma proposta ética fundada na responsabilidade pelo futuro”.
Para isso, Hans Jonas, sugere a substituição do imperativo categórico kantiano do “age de tal forma que possas desejar que a máxima orientadora da tua ação se transforme numa lei universal” por um “age de tal forma que os efeitos da tua ações sejam compatíveis com a preservação da vida humana genuína”, “age de tal forma que os efeitos da tua ação não sejam destruidores da futura possibilidade dessa vida” ou ainda “não comprometas as condições de uma continuidade indefinida da humanidade sobre a terra”.
Jonas procede, assim, a um alargamento espácio-temporal da ética, na medida em que ultrapassa as meras relações privadas entre os homens impondo antes uma “atitude pública” e, chamando ao debate a humanidade do futuro.
É uma ética antropocêntrica na medida em que ela é justificada em nome do homem e do que é humano, mas em que o alargamento espacial faz com que o homem que continua a interessar já não é só este homem, mas a humanidade.
Mas é também uma ética ecocêntrica ao aventar a hipótese de a Natureza poder vir a ser entendida como um fim em si mesmo, detentora de um valor intrínseco.
A “ecosofia”
O norueguês Arne Naess (“Sustainable development and deep ecology”), profundo admirador da “ecologia da terra” de Aldo Leopold, afirmando o valor intrínseco da Natureza, vem apontar os efeitos nefastos que a ambição pelo crescimento económico produz em termos ambientais.
A sua crítica é feita ao nível da política e ao nível da ética:
Ao nível da política, indica o erro proveniente do conceito utilizado de ‘desenvolvimento sustentável’, que, ao pressupor uma igualdade entre as três colunas da sustentabilidade (ambiente, economia e sociedade), vai abastardar aquilo que deveria ser a posição central do ambiente, única forma para que esse desenvolvimento se baseasse no questionamento da nossa relação com a Natureza e na sabedoria que daí adviria em termos de harmonia com a nossa casa primordial, a Terra.
Ao nível da ética, indica o absurdo de ligarmos felicidade com consumo como um atestado à superficialidade da nossa vida. Torna-se necessária uma mudança de atitude, que só será possível através da filosofia e da religião.
Para esta sua visão da ecologia, propõe os seguintes princípios:
a afirmação do valor intrínseco da Natureza, e em particular, de todos os seres vivos; a riqueza da diversidade; a importância da valorização da qualidade (desenvolvimento) sobre a quantidade (crescimento); o desafio político e a responsabilização do indivíduo.
Para ele é urgente que se entenda que os homens não têm prioridade na gestão da capacidade da Terra e que o controle populacional tem de ser seriamente equacionado com vista a uma redução populacional no futuro.
Para além dum valor intrínseco, há como que um valor da ordem do sagrado da Natureza. Há uma valorização de uma relação mística com o natural, numa tentativa e assunção de uma harmonia entre todos os elementos que integram a Natureza, sem prioridades e sem reclamações centradas no humano. Esta sabedoria é o conceito de “ecosofia”.
Ecofascismo
É sabido que os Nazis consideravam que o Estado devia proteger todos os portadores de sangue puro como única forma de manter o poder criativo da Natureza, daí a sua frase “Sangue (puro) e Terra (pura)” (Blut und Boden).
A pureza de sangue era crucial para a missão sagrada da Alemanha: salvar as raças nobres da Europa Norte das outras raças degeneradas, como era o caso dos Judeus.
O fascismo surge assim como um Darwinismo social, em que as sociedades mais dinâmicas podem e devem ganhar a luta inevitável pela sobrevivência face às outras sociedades mais fracas.
Uma vez que as raças se encontravam ligadas às terras de onde eram originárias, as terras da Alemanha tinham de ser protegidas da poluição industrial e da presença injuriante de raças menores.
Só os Alemães de sangue puro é que poderiam retirar a energia da terra que originariamente conduzira ao “Volk”, e isto porque a Divindade era imanente à Natureza.
Preconizavam a sua “religião da natureza” confrontando-a com o Cristianismo, religião que não era deste mundo, produto “desnaturado “dos judeus.
Quer o capitalismo, quer o comunismo, pelas suas práticas industriais destroem a terra ao encherem-na com populações que desprezam a Natureza, que têm sangue poluído e com semi-humanos como os Judeus. Pelo que se tornava imperativo libertar os povos do norte da Europa das democracias, socialismos e capitalismos.
Um Estado ecofascista, de acordo com princípios Darwinistas, acabará por prevalecer na luta pela sobrevivência, pois tal Estado é o mais respeitador do ambiente, devendo ser glorificado como a “teia da vida”.
Michael Zimmerman (“Ecofascism: A Threat to American Environmentalism?”), vem alertar-nos para os perigos possíveis em que podem incorrer todos aqueles movimentos ecologistas que adoram a Natureza, bem como para os que criticam radicalmente toda a modernidade, a fim de não caírem em ecofascismos.
Não devem esquecer, por exemplo, que as estranhas analogias entre a terra como dimensão natural e o “sangue primitivo”, serviram para justificar atrocidades recorrendo ao argumento de ser uma lei da Natureza; ao argumento de que quem pertence à Natureza somos nós, os seres naturais, e não os homossexuais; de que quem tiver “hábitos” que sejam considerados “contra a Natureza” só cá está a poluir, o que conduz à diferenciação valorativa entre raças e entre pessoas da mesma raça, e à instituição do controlo populacional em nome da pureza da raça.
Daí que Zimmerman considere o ecofascismo como uma tendência, que apesar de já revelada no movimento totalitário, pode insinuar-se na atualidade quando, por exemplo, se pretender proibir a imigração de Africanos e Asiáticos a fim de não poluírem a terra e o sangue, ou quando se pretenderem impor leis draconianas às pessoas para as levar a comportarem-se de forma a assegurarem o bem-estar ou a pureza da Natureza.
Num canto qualquer afastado do universo espalhado por cintilantes e inumeráveis sistemas solares, existiu uma vez um astro em que animais inteligentes inventaram o conhecimento, F. Nietzsche.
As “máquinas” enviam sinais vídeo para um operador humano, um guarda fronteiriço que está a quilómetros de distância (um vídeo árbitro).
É apenas uma questão de tempo antes de um drone ser capacitado para agir contra as pessoas, fazendo-as parar, N. Sharkey.
Quem decide se se deve ou não desenvolver tal tipo de tecnologia que pode potencialmente vir a ser usada contra pessoas vulneráveis em locais com poucas proteções relativas a direitos humanos?
Não há filmes mais realistas do que os filmes americanos, mesmo que sejam de ficção científica. Nem que seja apenas pelos desejos expressos ou por acreditar que a realidade será mesmo assim, ou por inculcar esses desejos como se fossem reais para mais tarde os vir a transformar na realidade pretendida.
Então no caso particular dos filmes de ficção científica quando relacionada com a militarização da sociedade, leva-nos hoje a compreender melhor como ela nos preparou para a aceitação dos tempos em que vivemos: o que se julgava ser ficção ou divertimento, passou a realidade aceite sem contestação.
Lembremos “O Exterminador implacável” (The Terminator) de James Cameron, de 1984, com Arnold Schwarzenegger e Linda Hamilton, selecionado em 2008 pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, para ser preservado na National Film Registry, por ser “culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo”.
As “máquinas” da Skynet (não confundir com a Sky News de Murdoch, uma vez que ele ainda está vivo e sem exo-esqueleto) dominam os céus perscrutando todas as formas de vivência humana no solo, com a intenção de a eliminar.
Ficção científica de 1984.
Em 2017, a União Europeia lançou um concurso (e respetiva bolsa inicial de 8 milhões de euros, evidentemente paga por nós) para o desenvolvimento, até meados de 2020, de um protótipo comercializável de “um enxame de robôs para a monitorização das fronteiras”, com vista à construção e equipamento de uma coleção de drones aéreos, marítimos e terrestres capazes de se aperceberem de “ameaças” de humanos.
Estes enxames de robôs serão pilotados com o recurso a inteligência artificial, e patrulharão autonomamente as fronteiras da Europa, em coordenação com drones de asa fixas, veículos terrestres, submarinos e barcos.
Estes robôs serão capazes de identificar humanos e decidir independentemente se eles representarão uma ameaça. Se determinarem que o humano tenha cometido um crime, eles próprios notificarão a polícia de fronteira.
Imagine-se em 2020 a caminhar despreocupadamente pelos bosques perto da fronteira. De repente ouve um zumbido mecânico, qual abelha gigante. Os drones detetaram-no e enviam enxames mais pequenos para o verem de perto. As antenas dos drones e de um veículo terrestre autónomo nas vizinhanças apanharam frequências rádio vindas do seu telemóvel que está inativo no seu bolso. Enviam esses sinais a um servidor central, que triangula a sua localização exata, enviando-a aos drones. Os enxames de robôs aproximam-se de si.
Câmaras óticas, de infravermelhos e térmicas, radar, sensores de frequência rádio, reconhecem-no como sendo um ser humano, e tentam adivinhar as suas intenções. Constitui uma ameaça? Está a tentar atravessar ilegalmente a fronteira? Traz consigo uma arma? Faz parte de uma organização criminosa ou terrorista?
As “máquinas” enviam sinais vídeo para o operador humano, um guarda fronteiriço que está a quilómetros de distância (um vídeo árbitro com treino policial). Ele verifica os vídeos e decide que afinal não há nenhuma ameaça. Prime um botão, e os robôs retiram-se para continuarem com a sua missão de patrulhamento.
É assim que deverá funcionar este sistema, apelidado oficialmente como Roborder (https://roborder.eu/).
São dadas “garantias” que o sistema nunca será armado (será um projeto exclusivamente não-militar) e nunca será comercializado fora do espaço da União Europeia.
Acontece que já se vendem no mercado robôs voadores equipados com atordoadores (Tasers), gás pimenta, balas de borracha, e outras armas.
Acontece que ninguém garante que, após o projeto estar terminado, a sua tecnologia não possa ser redefinida e vendida fora da Europa, ou seja, que a sua “missão” de não provocar danos em humanos não possa ser redefinida e que não possa “cair nas mãos erradas”.
Acontece que assim que esta tecnologia tiver sido desenvolvida, ao fazer o trabalho eficientemente e a baixo custo, ela passará a ser vista como a solução para as migrações, acabando por ser instituída e aceite como rotina que acabará por ser aplicada sem qualquer consulta ou escrutínio legislativo (depois, a posteriori serão feitas Comissões Parlamentares).
A pergunta mais geral que se impõe:
“Quem decide se se deve ou não desenvolver tal tipo de tecnologia que pode potencialmente vir a ser usada contra pessoas vulneráveis em locais com poucas proteções relativas a direitos humanos?”
Noel Sharkey, professor de robótica e inteligência artificial (IA) da Universidade de Sheffield, fundador do Comité Internacional para o Controle de Armas Robóticas, avisa-nos sobre as implicações da combinação da tecnologia com base de decisões na IA e do seu uso em zonas fronteiriças politicamente sensíveis:
“É apenas uma questão de tempo antes de um drone ser capacitado para agir contra as pessoas, fazendo-as parar”.
Já vimos este filme. Literalmente, em 2013, Kosinski realizou Oblivion (Esquecido), com Tom Cruise, Olga Kurylenko e Morgan Freeman.
Muitos dirão: “OK, é filme. E mesmo que venha a acontecer, não é agora, e muito menos em Portugal”.
Surpresa: um dos seus principais parceiros do Roborder, é a Tekever, empresa portuguesa de drones criada em 2001 por ex-alunos do Instituto Superior Técnico, para a fabricação de drones (https://pt.wikipedia.org/wiki/Tekever).
Surpresa: o Roborder está previsto ser posto à prova com as polícias de fronteiras de Portugal, Hungria, Grécia e outras.
Os ingredientes estão todos lá, e até já estão a serem cozinhados. Muito brevemente a refeição estará pronta a ser experimentada. Mais um prato que teremos que comer e gostar. Porque sim.
Fábula:
“Num canto qualquer afastado do universo espalhado por cintilantes e inumeráveis sistemas solares, existiu uma vez um astro em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais arrogante e mais ilusório da «história universal», mas não passou de um minuto. Bastaram algumas respirações da Natureza para o astro se congelar, e os animais inteligentes foram obrigados a morrer. Tal é a fábula que alguém poderia inventar …”, Nietzsche, “Introdução teorética sobre a verdade e a mentira no sentido extra-moral”, 1873.
“Quem sabe se as pequenas coisas hoje feitas por nós não poderão virem a trazer, anos depois, resultados com que nunca sonhámos?”, Pete Seeger.
O quê? É a humanidade um erro de Deus? Ou é Deus um erro da humanidade? F. Nietzsche.
Pode um burro ser trágico? – Perecer debaixo de uma carga insuportável que não consegue nem transportar nem alijar? … É o caso do filósofo, F. Nietzsche.
Os humanos estão constantemente a serem tentados a moralizar a moralidade, a encontrar uma base para a própria moralidade.
Em maio deste ano, Pete Seeger (3 de maio de 1919 – 27 de janeiro de 2014) completaria cem anos. Cantor, compositor, poeta, ativista dos direitos civis, colocado na lista negra do senador Joseph McCarthy ao recusar responder às perguntas do Comité das Atividades Antiamericanas (18 agosto 1955, tendo sido sentenciado a um ano de prisão), contra a Guerra do Vietname e da utilização de armas nucleares, produziu muitas canções que ainda hoje fazem parte da memória coletiva americana e da humanidade.
Lembremos a célebre “We Shall Overcome” por ele registada em 1947, transformada em hino de resistência em 1960, e o desafiante otimismo inscrito na “Where Have All the Flowers Gone”, do seu último álbum “Seeds”.
Sobre esta última, recordava Seeger a parábola do semeador no Novo Testamento, sobre as sementes lançadas à terra, em que algumas caíam no caminho e eram esmagadas, outras caíam sobre pedras e não cresciam, e outras caíam no chão, cresciam e multiplicavam-se. “Quem sabe se as pequenas coisas hoje feitas por nós não poderão virem a trazer anos depois resultados com que nunca sonhámos?”
E, no entanto, os versos da “Where Have All the Flowers Gone”, diziam:
“Para onde é que foram todos os cemitérios? / Já passou muito tempo.
Para onde é que foram todos os cemitérios? / Há muito tempo.
Para onde é que foram todos os cemitérios? / Todos eles cobertos de flores.
Será que alguma vez aprenderemos’
Será que alguma vez aprenderemos?”
Mas, talvez que a mais popular das suas canções, por ter sido cantada por um sem número de cantores famosos e não famosos, a que mais alegria encontrava nos que acudiam aos seus espetáculos, tenha sido, a “If I Had a Hammer”, que aqui deixo na versão original e não traduzida, não só porque é totalmente diferente dizer que se agarra num martelo e se dá uma martelada seja no que for do que dizer que se agarra num “hammer” e se “hammer” qualquer coisa.
Além do mais, tenho reparado que todos os anúncios para festivais de Verão, quer em cartazes quer na locução dos órgãos de comunicação social, e até os das simples resmas de papel A4 da portuguesíssima Navigator são anunciadas como sendo The Art of Life, para já não falarmos dos artigos sobre computadores, softwares e das “novas” profissões, pelo que me escuso gastar tempo a traduzir o que já está em português corrente.
If I had a hammer, I’d hammer in the morning, I’d hammer in the evening, All over this land, I’d hammer out danger, I’d hammer out a warning, I’d hammer out love between, My brothers and my sisters, All over this land.
If I had a bell, If I had a bell, Ring it in the morning, I’d ring it in the morning Ring it in the evening! Ring it in the evening, All over this land, Ring out danger Ring out danger, Ring out a warning, Ring out a warning, Ring out love, ring out love between, My brothers and my sisters, All over this land.
If I had a song, If I had a song, Sing it in the morning, Sing it in the morning Sing it in the evening! Sing it in the evening, All over this land, I’d sing out danger I’d sing out danger, I’d sing out a warning, I’d sing out love between, My brothers and my sisters, All over this land.
Well, I got a hammer, Well, I got a hammer, I got a bell, And I got a bell, And I got a song, All over this land, This hammer of justice, The bell of freedom, Song about love between My brothers and my sisters, All over this land.
Marteladas diferentes são as efetuadas por Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) numa das suas últimas obras de 1888, Crepúsculo dos Ídolos ou, Como Filosofar com o Martelo.
Nietzsche compara o garfo de ressonância, usado para afinar instrumentos musicais, ao martelo que ele se propõe usar para aferir toda a produção cultural feita pela humanidade, especialmente a dos próceres idolatrados.
A intenção que se propõe ao criticar e desconstruir todos os que fomos idolatrando ao longo do tempo, no campo da filosofia, da religião, da arte, da história, criticando inclusivamente os seus próprios escritos anteriores, tinha como finalidade a reavaliação de todos os valores.
Pretende demonstrar que a adoração e a insistência que dispensamos aos adoradores (“ídolos”), não tem qualquer possibilidade de dar resposta às nossas perguntas, mas que, contudo, continuamos a adorá-los.
E tudo isso porque os humanos estão constantemente a serem tentados a moralizar a moralidade, a fim de encontrarem uma base para a própria moralidade.
A obra está dividida em várias secções, começando com “Epigramas e Flechas”, onde expõe a sua hostilidade e desconfiança relativamente a toda a sistematização, abordando depois o problema de Sócrates, da razão na filosofia, de como o mundo verdadeiro não passa de uma ficção, da moralidade como sendo antinatural, dos quatro grandes erros, do que faz falta aos alemães, do que se deve aos antigos, e finalmente termina com “O Martelo Fala”, retirado da secção 29, parte III, “Dos Mandamentos Antigos e novos da Lei”, do Assim Falava Zaratustra:
“Porque tão duro! – “dizia o carvão da cozinha para o diamante: “Mas não somos nós parentes?”
Porque tão macios? Pergunto-vos então, meus irmãos: não são vocês – meus irmãos? Porque tão macios, tão moldáveis e submissos? Porque há nos vossos corações tanta negação, tanta negação própria? Tão pouco destino nos vossos olhares?
E se não sois destinos e implacáveis: como poderão – ser um dia vitoriosos comigo?
E se a vossa dureza não se incendiar e cortar e cortar em pedaços: como poderão – criar um dia comigo?
Porque todos os criadores são duros. E isso deve parecer-vos como uma bênção o imprimir a vossa mão nos milénios como se fossem cera –
- como uma bênção o escrever o testamento dos milénios como se fosse bronze – mais duro que bronze, mais nobre que bronze. Apenas o que é mais nobre é igualmente duro.
Este mandamento da nova lei, meus irmãos, deixo-o a vocês: Tornem-se duros!
Mas, já que chegámos até aqui, julgo ser interessante apresentar a muito curta primeira secção, “Epigramas e Flechas”, especialmente pela utilização que Nietzsche faz do aforismo.
A sua intenção ao utilizar o formato do aforismo, é fazer com que o leitor não se veja dominado ou controlado pelo que é escrito.
Quando se lê um aforismo, ele pode aparecer-nos como um truísmo, ou como manifestamente falso, ou como desnecessário, não essencial, sendo rapidamente abandonado ou esquecido, ou como não tendo qualquer sentido.
Para compreendermos um aforismo, temos de o interiorizar até ele se confundir connosco, ruminá-lo, como dizia Nietzsche: “temos de quase ser uma vaca, e certamente não um homem moderno”.
Mas, quando nos sentirmos tocados pelo aforismo, tal significará que já não nos interessa o que o aforismo significa, interessando-nos antes a descrição do mundo a que nos estamos a referir quando utilizámos o aforismo.
O aforismo apresenta-se então como a resposta a uma pergunta que nós não sabíamos. Pelo que escrever com aforismos é uma tentativa para recuperar perguntas – para recuperar filosofia – para saber como fazer perguntas.
Eis alguns desses aforismos constantes da secção “Epigramas e flechas”:
“Estar sem nada fazer é o começo de toda a psicologia. O quê? Será então a psicologia um vício?
Para se viver sozinho tem de se ser ou um animal ou um deus - dizia Aristóteles. Mas há uma terceira opção: pode-se ser ambos – um filósofo.
“Toda a verdade é simples”. Indubitavelmente, não é isso uma mentira?
O quê? É a humanidade um erro de Deus? Ou é Deus um erro da humanidade?
Da escola da vida militar – O que não me matar torna-me mais forte.
Ajuda-te a ti mesmo: então todos os outros te ajudarão. Princípio de amor da vizinhança.
Pode um burro ser trágico? – Perecer debaixo de uma carga insuportável que não consegue nem transportar nem alijar? … O caso do filósofo.
Desconfio de todos os sistematizadores e nem me quero encontrar com eles. O amago de um sistema é a sua falta de integridade.
Procurar pelos começos é transformarmo-nos em caranguejo. Os historiadores procuram sempre para trás; acabam sempre por acreditarem para trás.
“Espírito alemão”: durante os últimos dezoito anos um contradictio in adjecto.
Este é um artista como eu gosto de artistas, com necessidades simples: ele quer apenas duas coisas, o seu pão e a sua arte – panem et Circen…
O quê? Está à procura? Gostaria de multiplicar-se por dez, por cem? Está à procura de seguidores? – Procure por zeros!”
Por ano, cada bebé produz cerca de 400 quilos de resíduos sólidos não tratados.
Foi em meados dos anos 50 que a Procter & Gamble inventou as fraldas descartáveis.
Só nos EUA, para a produção anual de fraldas descartáveis, são destruídas 250.000 árvores e utilizados 3,4 biliões de galões de petróleo, que dariam para 5.222.000 automóveis circularem no mesmo período de tempo.
Retirando as soluções de um regresso ao passado, todas as outras soluções baseadas num progresso tecnológico não resolvem o problema.
O grande “casamento do século” realizado a 29 de julho de 1981 entre o príncipe Carlos e a lady Diana, foi meticulosamente preparado para a sua transmissão, em direto e pela primeira vez a cores, pela televisão britânica. Foi visto por 25 milhões de pessoas.
A cor escolhida para que ninguém ressaltasse para além dos noivos, foi a pastel. Se repararem, na Igreja, onde todos estão reunidos, não se dá por nenhuma cor dissonante. O mesmo aconteceu para os cavalos da guarda e para os que puxavam o coche: foram-lhes dados comprimidos por forma a que as suas bostas saíssem com a cor pastel, para que assim não fossem visíveis na emissão televisiva.
Foi em meados dos anos 50 que a Procter & Gamble inventou as fraldas descartáveis. “Acontece” que, para além de conterem químicos tóxicos e micro plásticos, elas eram (e são) feitas com polietileno não-reciclável que só ao fim de várias centenas de anos é que se degradam (500 anos, segundo https://www.smallfootprintfamily.com/dangers-of-disposable-diapers).
Hoje, a dimensão deste problema é inimaginável, embora quantificável. No geral, os bebés fazem, em média, cocó quatro vezes ao dia e mais umas três a quatro vezes xixi. (http://www.worldwatch.org/system/files/M-A%2007%20Life-cycle.pdf). Ou seja, por ano, cada bebé produz cerca de 400 quilos de resíduos sólidos não tratados, sem considerar os resíduos líquidos. Como nascem mais de 300.000 bebés todos os dias, tal dará mais de uma centena de milhões de fraldas por ano.
Segundo Jo Royle, diretor da Commom Seas, uma organização não governamental a trabalhar nesse campo, “as fraldas sujas podem ser consideradas como o mais perigoso dos lixos”, destruindo a vida selvagem, disseminando doenças, e bloqueando tubagens e drenos.
Cientes disso, a American Academy of Pediatrics e The American Public Health Association, “avisa” os pais (aviso que consta de todos os pacotes de fraldas descartáveis) que devem enxaguar a fralda e remover o cocó para a sanita antes de a colocar no lixo. Aparentemente, ninguém faz isso!
A matéria prima para a produção do plástico de polietileno é o petróleo: 215 gramas por fralda. Ao longo dos trinta meses que os vai usar, serão 6.500 fraldas, ou seja 1.397 quilos de petróleo: para manter o bebé seco durante 2 a 2anos e meio, usará mais óleo do que o que virá a utilizar no seu carro durante a sua vida.
Outra forma de ver: Por cada ano, para a produção de fraldas descartáveis, só nos EUA são destruídas 250.000 árvores e utilizados 3,4 biliões de galões de petróleo, que dariam para que 5.222.000 automóveis circulassem no mesmo período de tempo.
E quanto à toxidade, sabe-se que a pouco desenvolvida camada exterior da pele do bebé absorve, pelo menos, cerca de 50 produtos químicos diferentes contidos nas fraldas descartáveis. Desde o poliacrilato de sódio (que o torna superabsorvente com a capacidade para absorver 100 vezes o seu peso em água, mas capaz de provocar irritações de pele, febre, vómitos, etc.), à dioxina (cancerígena), aos metais pesados e ao tolueno, tudo é mau. Pode-se ver uma listagem completa em https://www.smallfootprintfamily.com/dangers-of-disposable-diapers.
Com a generalização do seu uso em todo o mundo, a forma como nos descartamos das fraldas após a sua utilização, tem passado por vários estudos e decisões. Por exemplo, para o Central Pollution Control Board, a melhor forma para o fazer é a sua inceneração ou enterro.
Mesmo que fossem dadas as condições para que isso fosse possível (o que não se verifica), nem sempre o mundo acolheria de bom grado tais indicações. É assim que algumas comunidades acreditam que o enterrar ou queimar as fraldas provoca doenças de pele e outras, nas crianças. Preferem lançá-las ao rio para que o bebé não sofra.
Daí que, por exemplo, o rio Brantas, em Java, a ilha mais populosa da Indonésia, esteja praticamente atulhado com fraldas: estima-se que milhão e meio de fraldas sejam diariamente lançadas ao rio!
Não é de admirar que em 80% dos peixes do rio Bantas sejam encontrados pedaços de plástico, que passam do estômago para a carne que, quando comida, passa para os corpos humanos.
Para além da inceneração e do enterro, as outras soluções apontadas para resolver este problema vão desde o regresso à utilização de fraldas reutilizáveis (fraldas de pano) ao redesenho das fraldas descartáveis e à sua reciclagem.
Advoga-se mesmo a solução de deixar o bebé livre, sem qualquer tipo de fralda (estudos indicam que as crianças aprendem assim mais depressa a regular as suas atividades excretórias).
As grandes empresas respondem com a diminuição do tamanho das suas fraldas (em 50%), ou com um programa de reciclagem de maneira a extrair o papel e o plástico. A reciclagem tem-se revelado complicada e custosa, além de obrigar os pais a dirigirem-se a determinados locais para depositarem as fraldas usadas.
Ou seja, retirando as soluções de um regresso ao passado, todas as outras soluções baseadas num progresso tecnológico não resolvem o problema.
Com a enorme capacidade tecnológica e de previsão do futuro que nos preparam e que acreditam ser certamente o melhor para nós, os nossos decisores começam a pensar em métodos alternativos mais radicais e já provados, como por exemplo:
Diminuição drástica do número de bebés, o que pode ser conseguido através de incentivos fiscais ou do seu contrário (restrição aos subsídios e ao crédito), restrição ao uso do espaço público, da ablação dos testículos (dos pais), da liberalização do aborto (das mães), etc.
Ingestão gratuita de bebidas anticoncecionais e anti erotizantes (já anteriormente utilizado pelos vários exércitos do mundo).
Encorajamento da homossexualidade, nomeadamente nos colégios unissexo (já anteriormente praticado pela então socialmente progressista União Sul Africana, quando inclusivamente legalizava o casamento entre negros masculinos).
Diminuição do número de pais envolvidos, nomeadamente através do fomento de guerras (declaradas ou não).
Obrigatoriedade do contacto com outro ser humano ser sempre feito através da intermediação de um meio eletrónico (lembram-se do “Paris-Texas”?), ou da utilização intensiva da “realidade” virtual, ou de qualquer outra realidade que não seja a que se acredita ser a real.
Jornada de trabalho de 12 horas, sem interrupção semanal (várias empresas já a seguem: na Alibaba, incentiva-se o regime 996, trabalho das 9 da manhã às 9 da noite, 6 dias por semana).
Avanços farmacêuticos (nomeadamente comprimidos) que façam com que o xixi dos bebés jorre como água ou vinho (branco) e o cocó com cheiro a rosas e sabor a chocolate ou a baunilha, conforme a preferência da cor.
A telemetria criou a possibilidade para se fazer a recolha de uma enorme quantidade de conjuntos de data e a oportunidade para se fazerem estudos correlacionais de populações inteiras de animais.
Este processo de monitorização do comportamento dos animais, poderia ser “invertido” através de tele-estimulação, o que permitiria modificar e otimizar esse comportamento.
Quem quiser pode já ver a versão da dinâmica dos humanos a deslocarem-se nas ruas das cidades em tempo real numa plataforma como a Google Earth.
Um problema de fé e de religião. Ou de impotência.
Stuart MacKay, físico, engenheiro eletrotécnico, biólogo, cirurgião, especialista em telemetria (tecnologia em que se baseava a transmissão a longa distância de data de computadores), chefiou em 1964 uma expedição internacional às Ilhas Galápagos, com o objetivo de melhor estudar e proteger a fauna animal com a introdução de novas técnicas de observação.
Segundo MacKay:
“O uso de um sinal rádio a partir de um transmissor, localizado dentro ou sobre um sujeito, para transmitir informação para ser gravada num recetor remoto, permitia, para além da flexibilidade de movimento, explorar livremente sem causar qualquer perturbação, partes do corpo inacessíveis por outros métodos sem que o sujeito se aperceba desse processo de medição… estes métodos deixam o sujeito num estado psicológico e fisiológico relativamente normal, e não interfere com a continuação das suas atividades normais”.
Ou seja, a telemetria criou a possibilidade da recolha de uma enorme quantidade de conjuntos de data e a oportunidade para se fazerem estudos correlacionais de populações inteiras de animais.
MacKay deixou indicações no sentido de que esta técnica também pudesse vir a ser aplicada ao mundo estático: canópias de florestas, reações químicas, cura do cimento, e no processamento de alimentos.
E, acrescentou ainda que este processo de monitorização do comportamento dos animais, poderia ser “invertido” através de tele-estimulação, o que permitiria modificar e otimizar esse comportamento.
Hoje, para além da utilização de sensores avançados, satélites, rede internet, computação avançada, análise preditiva de “big data”, que permitem ver e prever em tempo real as movimentações das hordas de animais e de animais isolados, faz-se já o mesmo com os seres humanos.
Em 2014, uma equipa da Universidade de Washington, chefiada por Jenq-Neng Hwang, anunciou a desenvolvimento de um “super GPS” que juntamente com as câmaras de vigilância do município permitiam “a visualização dinâmica da situação realística de humanos a caminharem pelas estradas e passeios, pelo que as pessoas que quisessem podiam ver a versão da dinâmica das ruas da cidade em tempo real numa plataforma como a Google Earth”.
Hoje, as boas intenções tecnológicas de MacKay foram totalmente pervertidas ao serem apropriadas por empresas e governos que as aplicam aos seres humanos: a vigilância foi estendida a todos os lugares mais privados, desde o lugar da frente do nosso carro, à nossa cozinha e aos nossos rins.
E o “processo inverso” previsto por MacKay, passou a ser utilizado para automaticamente estimular um comportamento, não para salvar o rebanho humano da catástrofe, mas para obter mais lucro com a melhoria da previsibilidade desse comportamento.
A diferença, ou talvez não, é que os animais não se apercebem dessa vigilância, continuando a agir como se fossem totalmente livres. Já os humanos sabem que estão a ser vigiados, ou melhor, a grande maioria não sabe, mas parece que os que sabem não se importam e até agradecem: sempre há “alguém” a vigiá-los, a tomar conta deles. Big Brother, Google ou Deus, tanto faz. Um problema de fé e de religião.