“Amor é dar-se alguma coisa que não se tem a alguém que não a quer”, Lacan.
O ser amado constitui sempre para nós uma grande violência, na medida em que vai fazer-nos sentir o fosso entre aquilo que nós somos e aquilo que nos é desconhecido em nós, e que é a causa do amor.
Vivemos não só numa ética assente numa negação da realidade, como também numa ética universalista em que somos obrigados a traçar uma linha de exclusão e ignorar certos sofrimentos.
“Pôr de lado as “paixões tristes” que nos intoxicam e causam cuidado”, Espinosa.
Há um texto de Neil Gaiman, autor do romance em banda desenhada The Sandman, em que ele escreve sobre a vulnerabilidade de se estar apaixonado:
“Estiveste alguma vez apaixonado? É horrível, não é? Fica-se tão vulnerável? Ficas com o peito e o coração abertos e outra pessoa pode entrar dentro de ti e revolver-te por dentro. Constróis todas essas defesas, constróis uma armadura que te cobre de alto a baixo para que ninguém te possa ferir, e depois uma pessoa estúpida, igual a qualquer outra pessoa estúpida, atravessa-se na tua estúpida vida…. Dás-lhes um bocado de ti. Não to pediram. Fizeram um dia uma estupidez qualquer, como beijar-te ou sorrir-te, e a tua vida deixou daí em diante de ser tua. O amor faz reféns. Entra dentro de ti. Come-te e deixa-te a chorar no escuro, e é assim que uma simples frase do tipo ‘talvez devêssemos ser só amigos’ se transforma num estilhaço de vidro que te vai direito ao coração. Dói. Não é só na imaginação. Não é só mental. É uma dor da alma, uma dor real que te invade e te rasga e te parte. Odeio o amor.”
Independentemente da beleza emocional da escrita e das sensações expressas que a todos nos percorreram, uma ou outra vez, ao longo da nossa vida, importa debruçarmo-nos sobre aquilo que efetivamente é o problema principal subjacente ao texto: o do nosso relacionamento com o Outro, seja ele o outro ou nós próprios.
A ideia de que há uma ‘ética da bondade’ que, perto do fim (ou do que se julga ser), acaba sempre por se impor, assenta na verificação que fazemos de o ser humano, nos momentos de maior desespero, ter uma tendência para a confissão, seja ela de amor ou de conversão religiosa (ou de que for).
É assim que são interpretadas as declarações de amor (os I love you) das mensagens enviadas por quase todos os que iam morrer no 11 de Setembro de 2001 para as pessoas com quem mantinham laços mais estreitos.
É assim que beatificamente concordamos e recordamos S. Paulo quando dizia que, em última instância, o que importava era o amor:
“Quando tudo se desmorona, o amor é a única parte de nós que permanece sólida”.
É assim que quando se enfrenta o perigo ou a proximidade da morte, se sucedem nesses momentos, tidos como finais da vida, os pedidos de absolvição e de entrega a Deus, negando muitas vezes toda uma vida feita fora da religião.
E, como acreditamos (ou queremos acreditar) na existência da ética da bondade, esses momentos finais são por nós vistos como sendo os mais verdadeiros e os que melhor nos definem como seres humanos.
Mas, porque é que não admitimos que confissões de amor e conversões no leito de morte são antes sacrifícios desesperados do desejo de viver? Porque não admitimos que podemos estar antes perante um instinto de sobrevivência, que nos momentos finais nos leva a trair o nosso verdadeiro desejo de viver?
Esta crença na ética da bondade leva-nos ainda a todo o tipo de contradições.
Por exemplo, ao escrever sobre a Revolução Francesa, já Kant observara a contradição existente entre a realidade da simpatia e da esperança que se estendia por toda a Europa para com a revolução, e a realidade dos acontecimentos horrorosos e violentos que se passavam em Paris.
O mesmo aconteceu com a Revolução soviética, que apesar das atrocidades cometidas, suscitou uma enorme onda de entusiasmo e esperança.
A um nível menos ‘visível’ mas mais alargado e disseminado, podemos citar idênticas contradições entre as condições horrorosas em que, por exemplo, os porcos e as galinhas são criados para abate (cegos e imobilizados para a engorda), as torturas, abusos e maus tratos a que sistematicamente milhões de pessoas são sujeitas, e o muito mais que escolhemos ignorar enquanto saboreamos uma boa costeleta de vaca, leitão assado, cochas de galinha, ou quando compramos tapetes tecidos por crianças escravas, ou quando vemos um documentário sobre os povos miseravelmente ‘felizes’ de terras longínquas que iremos visitar nas nossas próximas férias.
Tudo isto são casos reais que nos põem perante a ‘negação’ da realidade: esquecemos para a não ver.
“Sei, mas não quero saber o que sei, e por isso não sei”. Sei, mas recuso-me a assumir inteiramente as consequências desse saber, o que me permite continuar a agir como se o não soubesse.
Vivemos assim numa ética assente na negação da realidade. Mas vivemos simultaneamente também numa outra ética universalista que pretensamente entendemos ser a todos comum.
Só que esta ética, que acreditamos ser universalista, esconde sempre (e quanto mais universal e explícita for, mais esconde) a exclusão que lhe está subjacente. Por exemplo:
Quando S. Paulo proclama que “não há homens nem mulheres, nem judeus nem gregos”, esta proclamação universal tem por base a exclusão total de todos os que não aceitam ser incluídos na comunidade cristã. Ela só se aplica se todos forem cristãos.
De igual forma, quando proclama que “todos os homens são irmãos”, tal significa que todos aqueles que não aceitem esta fraternidade não são homens.
Também Khomeini dizia que a revolução iraniana fora a mais humana da história da humanidade porque nenhum homem tinha sido morto. Isto porque, segundo ele, os que tinham sido executados “não eram homens, mas cães criminosos”.
Ou seja, para seguirmos esta ética universalista, somos obrigados a traçar uma linha de exclusão e ignorar certos sofrimentos.
Mas há ainda uma outra ética que se baseia antes na consideração do Próximo como Outro merecedor do nosso respeito incondicional, ou seja, que se baseia no preceito “ama o teu próximo”.
Infelizmente, tal ética, ao pressupor um encontro autêntico com o Outro, torna-se impossível de se realizar na sua totalidade, uma vez que o Outro é sempre alguém cujo próprio modo de raciocínio nos é estranho. O Outro aparece-nos sempre fora da nossa humanidade.
Por isto é que o ser amado constitui sempre uma grande violência, na medida em que vai fazer-nos sentir o fosso entre aquilo que nós somos e aquilo que nos é desconhecido em nós e que é a causa do amor.
Freud explicava que o Próximo era originariamente uma coisa, um intruso, alguém com modo de vida diferente que nos perturba, podendo inclusive originar uma reação agressiva.
É por isso, que contrariamente aos adeptos da globalização que veem na comunicação um espaço de reunião de toda a humanidade, Peter Sloterdijk afirma que “Mais comunicação significa à partida mais conflito”.
Um exemplo evidente foi o acontecido com as caricaturas do Profeta Maomé publicadas na Dinamarca que, devido à globalização da informação, chegaram rapidamente a todos os países muçulmanos, com as repercussões que sabemos.
Como resolver este medo que temos provocado pela proximidade do Outro?
A nível social, através do distanciamento que mantemos na vida quotidiana para com os outros, o que nos permite ignorá-los ainda que vivamos ao seu lado. Movimentamo-nos assim num espaço social em que interagimos com os outros obedecendo a certas regras de discrição, sem partilhar o seu mundo interior. Por incrível que pareça, talvez resida nesta forma de proceder a tão propalada tolerância europeia.
A nível individual, podemos sempre procurar o auxílio de Espinosa quando dizia que a liberdade é qualquer coisa que só pode ser alcançada quando conseguirmos apreender as verdadeiras causas das nossas ações, quando conseguirmos pôr de lado as “paixões tristes” que nos intoxicam e causam cuidado.
A obstrução provocada pela verdadeira dimensão do que não vemos (mas que julgamos ver) constitui o desconhecimento ideológico.
“O que é o assalto a um banco comparado com a fundação de um banco?”, B. Brecht in Ópera dos Três Vinténs.
A democracia tal como a entendemos, deixou de ser condição e motor do desenvolvimento económico passando antes a ser um obstáculo.
A China é o país capitalista ideal, em que a principal tarefa do Partido comunista é controlar os trabalhadores e impedir a sua auto-organização e mobilização contra a exploração.
O nosso conhecimento é sempre ideológico, conforme a sociedade em que estivermos inseridos, a época em que vivermos, o meio que frequentarmos, o estrato social a que pertencermos. Daí que ele não seja sempre todo o conhecimento, podendo inclusivamente ser desconhecimento, e até ser verdadeira obstrução ao conhecimento.
A essa obstrução ao conhecimento, Jean-Claude Milner, na sua obra L’Arrogance du présent. Regards sur une décennie: 1965-1975, ao criticar a falta de visão da Gauche prolétarienne (principal formação política oriunda do maio de 1968), vai chamar desconhecimento ideológico.
E explica-o do seguinte modo: imaginemos uma sala com uma janela na parede; nessa janela, existe um quadro pintado que a cobre totalmente, impedindo que se veja através dela, mas, em que essa pintura reproduz exatamente o que se veria pela janela caso ela não estivesse tapada. Esta obstrução da verdadeira dimensão do que não vemos (mas que julgamos ver) constitui o desconhecimento ideológico.
Por exemplo, o nosso “conhecimento” diz-nos que Israel aceita, oficialmente, a solução dos dois Estados para resolver o conflito com a Palestina, sendo a Palestina quem na prática a rejeita com as suas ações constantes contra o Estado israelita.
Contudo, quando em 2009 foi dado a conhecer que o governo israelita traçara planos para construir mais 70.000 novas habitações nos colonatos judeus da Margem Ocidental ocupada (o que elevará para mais de 300.000 o número de colonos israelitas instalados em territórios palestinianos), e que 20.000 dessas novas habitações ficarão em colonatos afastados da “linha verde” que separa Israel da Margem Ocidental (ou seja, em zonas que a haver um acordo de paz, Israel nunca as poderá esperar conservar), parece ser lógico concluir que aquilo que Israel pretende é criar no terreno uma situação de fato, que tornará inviável a solução que dizem aceitar.
Vejamos também o caso do Museu da Tolerância e Centro Promotor da Dignidade Humana, um velho sonho que Simon Wiesenthal (célebre ‘caçador de nazis’) tinha, para ser construído em Jerusalém, para o qual nunca havia um local disponível.
Finalmente em 2008 foi concedido ao Centro Wiesenthal um terreno para tal fim. Escolhido o arquiteto, Frank Gehry, o grande complexo teria todas aquelas facilidades inerentes, com a missão de promover a civilidade e o respeito entre os membros de todas as confissões.
Só que o terreno escolhido para a construção do museu tinha sido até 1948 o principal cemitério muçulmano de Jerusalém, onde repousavam ossadas que remontavam às cruzadas dos séculos XII e XIII. Apesar do recurso apresentado pela comunidade muçulmana, o Supremo Tribunal não lhe deu provimento.
Ou seja, todo aquele projeto multiconfessional que o Estado de Israel dizia apoiar, tornando Jerusalém um lugar de celebração de tolerância aberto a todos, seria construído ignorando as vítimas subterrâneas da intolerância, numa clara demonstração de que para haver tolerância terá de haver uma certa dose de intolerância.
Vejamos ainda aquele outro projeto de desenvolvimento para Jerusalém, também já aprovado por Israel, e que pretende fazer da zona atribuída uma “bacia sagrada” onde os lugares religiosos de maior significação histórica se poderão apreciar inseridos num vasto conjunto de parques florestais e panoramas grandiosos.
Trata-se de construir um novo lugar religioso privilegiado, um “espaço público” interconfessional, debaixo da autoridade e controle da proteção de Israel. Para isso, com o fim de conseguirem espaço para o reordenamento da zona, o Estado tem vindo a comprar bens imobiliários palestinos (tudo dentro da legalidade e feito por empresas privadas) que futuramente permitirão a instalação de israelitas na zona oriental de Jerusalém, demolindo também ao mesmo tempo numerosas casas palestinas, que evidentemente se encontravam “não autorizadas”.
No mesmo dia em que era noticiada a construção de uma nova zona residencial em Jerusalém, Hillary Clinton comentava sobre os disparos de rockets a partir de Gaza:
“É indiscutível que qualquer nação, incluindo Israel, não pode deixar de fazer alguma coisa quando o seu território e a sua população é alvo de ataques de rockets”.
Curiosamente, a mesma teoria não se aplica aos palestinianos pois, enquanto vão sendo diariamente espoliados dos seus territórios da Margem Ocidental, não devem fazer nada.
Porque o que acontece quando não há ataques, nem negociações, nem conflitos, é que continua a ser desenvolvido o processo através do qual os israelitas ocupam os territórios palestinianos, construindo novos colonatos, forçando os agricultores a abandonarem as suas terras.
Esta ocupação militar é consolidada com uma “ocupação pela burocracia” através de formulários, requerimentos, títulos de propriedade, autorizações de residência e outras: é assim que os palestinianos precisam de uma autorização formal para se deslocarem com a sua família, para cultivarem as suas próprias terras, para abrirem um poço, para irem para o trabalho, escola ou hospital.
Vão sendo assim impedidos de viverem ou trabalharem em Jerusalém, ao mesmo tempo que lhes são sucessivamente negadas autorizações de residência.
Lentamente, o Estado de Israel está a esvaziar a Margem Ocidental por forma a torná-la “livre de palestinianos”, para que quando chegar a altura a apresentar como uma realidade que teremos de aceitar pois nada mais há a fazer.
Há ainda aquela enorme pintura, inserida no muro que Israel construiu a fim de o separar dos territórios palestinos, onde podemos ver uma imagem dos campos que ficam do outro lado, em que a povoação palestiniana existente desapareceu, substituída apenas por natureza, árvores e relvados. Um vazio virgem à espera de ser colonizado. Uma limpeza étnica indolor, colorida e pura.
Por tudo isto, podemos concluir que desde a sua fundação, Israel, embora tenha sempre aceitado as condições de paz propostas pela comunidade internacional, tem também sempre apostado no não-funcionamento dos planos de paz.
Perceber isto, não significa que se mostre qualquer compreensão por quaisquer ações terroristas que se pratiquem nessa região. Todos os que as praticam devem ser condenados. Dos dois lados há corruptos e extremistas que rejeitam a paz.
Outro dos nossos “conhecimentos” é o que relaciona a explosão de cenas de violência e barbárie com o terceiro Mundo, nomeadamente com o africano.
É o que as empresas de “informação” nos têm vindo a transmitir ao longo de decénios. Por exemplo, na revista Time de 5 de junho de 2006, Simon Robinson e Vivienne Walt, no seu artigo “A Guerra mais Mortal do Mundo” (http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1198921,00.html) vão chamar ao Congo o “coração das trevas” africano, local onde só nos últimos dez anos teriam morrido perto de quatro milhões de pessoas devido à violência política.
O problema é que deste a queda de Mobutu, o Congo deixou de existir como Estado unitário, passando antes a ser uma multiplicidade de territórios governados por senhores da guerra locais.
Cada um dos senhores da guerra tem ligações de negócios com uma companhia ou uma firma estrangeira que explora as principais riquezas minerais da zona. As companhias exploram os minérios sem pagarem impostos e os senhores da guerra enriquecem. Quem perde é o povo congolês.
Segundo uma investigação das Nações Unidas de 2001, a exploração dos recursos naturais do Congo (os diamantes, o cobre, o cobalto, o ouro e o coltan - columbite-tantalita, de onde se extrai um material ultra resistente, que aparece ficcionado no filme O Exterminador do futuro: as crónicas de Sarah Connor) é feita de maneira “sistemática e sistémica” por senhores da guerra locais, que transformaram as suas tropas em exércitos regulares, e por exércitos estrangeiros, em particular pelos do Uganda e do Ruanda, seguidos de perto pelos do Zimbabwe e Angola.
Só com a venda de coltan, o exército do Ruanda fez 250 milhões de dólares em sete meses. Alguns dos tutsis do Ruanda muito se beneficiaram com este saque, até há uma dezena e meia de anos ter acontecido o seu imenso genocídio.
Em 2008, o governo do Ruanda apresentou documentação que implicava o Presidente Mitterrand neste genocídio por fornecer armamento aos hútus, para que conseguissem derrotar os tutsis suportados pelo Reino Unido, para assim acabar com a influência anglófona na região.
Teria sido interessante que o processo tivesse ido a tribunal para se poder comprovar a cumplicidade das potências ocidentais naquilo que os agentes informativos nos descrevem como “as explosões de barbárie do terceiro Mundo”.
É que as causas dessas trevas e explosões de barbárie que se verificam nas selvas congolesas, encontram-se nas luxuosas salas de reuniões dos nossos bancos e das nossas empresas de tecnologia avançada.
Como escrevia Brecht na Ópera dos Três Vinténs: “O que é o assalto a um banco comparado com a fundação de um banco?”.
Vejamos agora a que nos conduz o nosso “conhecimento” quando abordamos o problema China.
Segundo este “nosso” conhecimento, perante o desenvolvimento espantoso do capitalismo na China, interrogamo-nos frequentemente sobre quando é que a democracia política, que consideramos como companheira “natural” do capitalismo, aí acontecerá, até porque, segundo esse mesmo nosso conhecimento, o desenvolvimento da China seria muito mais rápido se fosse acompanhado com a democracia.
Isto significa estarmos a ver a China como uma distorção ‘despótico-oriental’ do capitalismo, esquecendo-nos, por exemplo, que no início da era moderna todos os Estados europeus não eram democráticos.
É esquecermo-nos que, sem contar com as colónias, na Europa as condições para o desenvolvimento do capitalismo assentaram sempre em brutais ditaduras do Estado, legalizando expropriações sistemáticas das populações (do “commom people”, as pessoas vulgares ou comuns como as classificam os ingleses), forçando os seus membros a serem proletários e disciplinando-os para o exercício de novas tarefas.
Mais recentemente, é esquecermo-nos que na transição do socialismo soviético para a economia de mercado capitalista, a Rússia, ao adotar uma “terapia de choque” mergulhando de cabeça na democracia e no capitalismo, em vez da “abundância” prometida entrou numa bancarrota, com consequentes percas da segurança e bem-estar limitado, e grande destruição social.
Ou seja, não há uma transição automática ou em curto espaço de tempo, que não provoque grandes sofrimentos ao povo. Note-se que o mesmo se tem pretendido fazer na Europa atual, onde a transição do estado social para a nova economia global de mercado livre implica renúncias dolorosas, menor segurança, menor proteção social.
Já a China, ao usar um poder autoritário do Estado sem quaisquer entraves, controlou assim os custos da transição para o capitalismo, evitando o caos. Ou seja, a combinação de capitalismo e de comunismo foi essencial para o tão rápido desenvolvimento da China, ou, dito de outro modo, a China desenvolveu-se tão rapidamente não a despeito da dominação comunista autoritária, mas graças a ela.
De certa forma, a China é mesmo o país capitalista ideal, em que a principal tarefa do Partido comunista é controlar os trabalhadores e impedir a sua auto-organização e mobilização contra a exploração.
É, pois, bem possível que o capitalismo autoritário da China não seja uma simples recordação do nosso passado, uma repetição do processo de acumulação capitalista da Europa dos séculos XVI ao XVIII, mas um sinal do futuro.
A ser assim, então a democracia tal como a entendemos, deixou de ser condição e motor do desenvolvimento económico passando antes a ser um obstáculo. Uma “força de bloqueio”.
Há, contudo, um ‘pequeno’ problema muito interessante, citado por S. Zizek (Living in the End Times). Quando John Thornhill, jornalista do Financial Times visitou a China pediu para ver o lugar mais pobre e menos desenvolvido. Levaram-no a uma pequena aldeia do Norte perto da Mongólia. Verificou que só lá habitavam velhos e crianças, pois os outros tinham ido para as cidades trabalharem, enviando depois dinheiro para apoiar as suas famílias, que por isso dispunham de aparelhos de televisão, leitores de DVD, etc.
As autoridades mantinham a funcionar serviços de saúde, educação e outros, dando resposta às necessidades básicas. Perguntando a uma autoridade local a razão pela qual o governo mantinha todos aqueles serviços em vez de deixar a aldeia desaparecer obteve a seguinte resposta:
“Não podemos fazer uma coisa dessas. Somos comunistas, temos de proteger o povo!”.
Não se trata aqui de verniz ideológico. O que acontece é que pelo simples fato de as autoridades comunistas não serem ‘democraticamente’ legitimadas (eleições ‘livres’ como as ocidentais), sabem que têm de levar em consideração as necessidades populares para compensarem os efeitos mais desastrosos do desenvolvimento capitalista, com a aplicação de um mínimo de medidas sociais.
Ou seja, o que as eleições democráticas fazem é dar ao governo uma legitimação que o torna muito menos permeável às pressões dos movimentos sociais.
É por isto que é vulgar ouvirmos os ‘nossos’ governantes desvalorizarem esses movimentos sociais, considerando-os como uma minoria “extremista” desfasada da maioria governamental. “Quem são vocês para nos criticarem? Somos um governo eleito, podemos fazer o que quisermos!”.
E vai ser exatamente neste importante campo da legitimação do comportamento dos governos para com os seus ‘súbditos’, que tudo se irá jogar.
“Deus Todo Poderoso criou as raças branca, preta, amarela e vermelha, e colocou-as em continentes separados. Exatamente por isso é que não pode haver casamentos inter-raciais. O facto de Ele ter separado as raças mostra que Ele não tinha qualquer intenção para que as raças se misturassem”, Tribunal de Caroline, Virgínia, 1964.
As leis de segregação racial eram racistas e apenas existiam para perpetuarem a supremacia branca, segundo Supremo Tribunal dos EUA, 1967.
As transformações sociais duram o que duram, muitas perdem-se, outras alteram-se.
É convicção generalizada que, por vezes, há pequenas ações, individuais ou não, que dão origem a grandes transformações. Se estivéssemos no campo da genética, diria que nos estávamos a referir a mutações. Neste caso específico, por se passar no campo do social, acontece que até sabemos a data exata em que se produziu: 12 de junho de 1958.
Apesar de ser fevereiro de 1958, o dia não estava tão frio como seria de esperar, especialmente em Central Point, condado de Carolina, Virgínia. No alpendre da casa dos pais, Mildred Delores Jeter, apenas tapada com uma manta, diz ao seu namorado, Richard Perry Loving, que está grávida. Ele põe-lhe o braço à volta das costas, e aconchega-a: “Está tudo bem. Ótimo.”
Nascidos na mesma terra, sempre se tinham conhecido, infância e adolescência. Não era condição para se enamorarem, mas aconteceu. E assim ia transcorrendo a vida de cada um.
Ele, trabalhava como pedreiro, muito embora o que gostasse era de ser mecânico de automóveis de arranque (dragsters), que conduzia em algumas provas. Ela, trabalhava como mulher a dias. Tinha acabado o liceu, tinha carta de condução, mas o que verdadeiramente gostava era de tratar da casa, cozinhar e costurar.
Eram pobres, mas quem não era pobre em Central Point? O importante era que se amavam, e iam formar uma família. Formavam um bonito casal multicolorido: ele branco, ela preta.
Como o casamento inter-racial estava proibido na Virgínia, o que aliás acontecia em 16 Estados do Sul, decidiram fazer a viagem de cento e sessenta quilómetros até Washington, Estado de Columbia, onde em junho de 1958 casaram, numa singela cerimónia.
De regresso a Central Point, encaixilharam a certidão de casamento e penduraram-na à entrada do quarto, na casa dos pais de Mildred onde viviam.
Devido a uma denúncia anónima, a polícia invadiu a casa durante a noite, esperando encontrá-los a fazerem sexo, o que era proibido por lei. Só que eles estavam na cama, a dormir. Acordada, Mildred ainda apontou para a certidão de casamento, ao que a polícia lhe disse que não era válida naquele Estado.
Foram levados para a esquadra, onde permaneceram na prisão até serem presentes a julgamento no tribunal de Caroline. Com base no Racial Integrity Act de 1924, segundo o qual o casamento entre raças diferentes era considerado crime, foram condenados a um ano de prisão efetiva, pena que poderiam não cumprir se se divorciassem ou se abandonassem o Estado da Virgínia durante vinte e cinco anos.
Os Loving declaram-se então culpados por “coabitarem como marido e mulher, contra a paz e dignidade do Estado”, e foram viver para o Estado de Columbia para evitar ficarem presos.
Durante seis anos tentaram aí levar uma vida normal. Arranjaram emprego, tiveram filhos: o amor sempre os manteve unidos. Mas não gostavam de Washington: as saudades do seu Sul, dos campos abertos, estavam sempre presentes. Mildred, afligia-se sempre que via os filhos a brincarem na rua, entre os carros que passavam. Além disso, sempre que tinham de vir ao sul para estarem com a família, tinham de a fazer separados quer a viajem, quer a visita.
Frustrada com isso, com o isolamento social em que viviam, e com a não resposta a um recurso sobre a situação injusta em que se encontravam e que, entretanto, interpusera em tribunal, Mildred resolve em 1964 escrever uma carta de protesto ao Procurador Geral dos EUA, Robert Kennedy, que a envia para a ACLU (American Civil Liberties Union).
Dois advogados iniciam então um processo que os vai conduzir até ao Supremo Tribunal. Após quase um ano de espera, no primeiro tribunal de Virgínia onde colocaram o pedido, obtêm uma sentença negativa, onde se pode ler:
“Deus Todo Poderoso criou as raças branca, preta, amarela e vermelha, e colocou-as em continentes separados. Exatamente por isso é que não pode haver casamentos inter-raciais. O facto de Ele ter separado as raças mostra que Ele não tinha qualquer intenção para que as raças se misturassem.”
Da sentença, recorreram para o Supremo do Estado de Virgínia, onde também não obtiveram acolhimento.
Entretanto, os Loving decidem voltar a viver na Virgínia, e instalam-se numa pequena casa alugada em Coraline. É ali, que em 1966, albergam Grey Villet, que lhes pretendia tirar fotografias para mostrar aos americanos como é que eles vivam, a sua quotidianidade, a sua simplicidade. A publicação dessas fotos na revista Life (março, 1966) correu toda a América.
Restava apenas o recurso para o Supremo Tribunal dos EUA.
E finalmente a 12 de junho 1967, o juiz Earl Warren dá a conhecer a sentença, que determinou, por unanimidade, que a proibição de contrair matrimónio entre pessoas brancas e de cor (outra cor, evidentemente) era inconstitucional:
“O casamento é um dos direitos civis básicos humanos, fundamentais para a nossa existência e sobrevivência […] Negar esta liberdade fundamental numa base tão insuportável como o da classificação racial, classificações que só por si subvertem o princípio da igualdade presente no âmago da Décima Quarta Emenda, é seguramente privar de liberdade sem julgamento todos os cidadãos dos Estados. A Décima Quarta Emenda exige que a liberdade de escolha para contrair matrimónio não possa ser restringida por qualquer critério de descriminação racial. Pela nossa Constituição, a liberdade para casar, ou para não casar, com uma pessoa de outra raça depende apenas do indivíduo e tal não lhe pode ser retirado pelo Estado.”
E, conclui que as leis de segregação racial eram racistas e apenas existiam para perpetuar a supremacia branca, como se pode ler no extrato da sentença exarada no processo do Supremo Tribunal, Loving X Virgínia (http://www.encyclopediavirginia.org/Loving_v_Virginia_June_12_1967).
Os Loving, não querendo ser o centro das atenções, até porque o que pretendiam era verem resolvida a sua situação, não compareceram no tribunal. Richard Loving disse a um dos advogados que os foi representar que apenas informasse o Tribunal que “ele amava a sua mulher, e que não era justo que não pudesse viver com ela na Virgínia”.
Desde então, o dia 12 de junho é comemorado todos os anos e, apesar de não ser feriado é talvez uma das maiores celebrações inter-raciais americanas. Chamam-lhe, Loving Day.
Mildred Delores Loving (nascida Jeter; 22 julho 1939-2 maio 2008), afro-americana, e Richard Perry Loving (29 outubro 193329 junho 1975), branco.
Richard Loving morreu com 41 anos em 1975, quando um condutor bêbado chocou contra o seu carro, em Caroline, Virgínia. Mildred Loving, que ficou cega de um olho nesse acidente, morreu com 68 anos de pneumonia, a 2 de maio de 2008, em Milford, Virgínia. Tiveram três filhos.
Apesar da decisão do Tribunal, as leis contra os casamentos inter-raciais mantiveram-se nas legislações de vários estados, embora não pudessem ser aplicadas. O Alabama foi o último estado a abolir essas leis, só as eliminando quando, no ano 2000, um referendo pediu maioritariamente (60%) a sua retirada da constituição do Estado.
Tudo isto vem a propósito de um filme que faz parte da lista dos escolhidos este ano para os Óscares e que tem passado despercebido. Uma escolha que aparece como que deslocada, obrigatoriamente envergonhada e que conta esta história americana.
O filme chama-se Loving, e foi realizado em 2016 por Jeff Nichols, tendo como atores Joel Edgerton e Ruth Negga.
Aditamento, a ter em atenção: na genética, as mutações nem sempre são irreversíveis, e nem sempre são para sempre. Tal como com as transformações sociais, que duram o que duram, muitas perdem-se, outras alteram-se.
No Canadá, qualquer pessoa que pratique um ato que envolva uma relação anal pode vir a ser considerada culpada, podendo incorrer numa pena de prisão até dez anos, Secção 159 do Código Criminal.
Na Rússia, foi aprovada no Parlamento (Duma),a lei que descriminaliza a violência doméstica, passando a ser considerada apenas como ofensa administrativa.
O “globalismo 1”serviu para concentrar riqueza nas mãos de alguns poucos (1%), com tradução em privilégios políticos e arrogância cultural.
O “globalismo 2” beneficiará uma percentagem ainda menor da elite, em que os 1% serão ‘verdadeiros’ cristãos, radicalmente conservadores e subordinados ao nacionalismo.
“C’est la vie”, Chuck Berry ,1972.
No Canadá, país socialmente liberal, existe uma lei (Secção 159 do Código Criminal do Canadá) que regula as relações anais:
“Qualquer pessoa que pratique um ato que envolva uma relação anal pode vir a ser considerada culpada, podendo incorrer numa pena de prisão até dez anos.”
São consideradas exceções o caso de tal acontecer entre marido e mulher, e no caso de ambos os parceiros terem mais de 18 anos.
Uma vez que no Canadá a maioridade é legalmente considerada ser aos 16 anos, esta lei não permite as relações anais para as pessoas de 16 e 17 anos, o que infringe os direitos dos homossexuais e outras minorias. Daí a lei ter começado a ser acusada de discriminação contra os homossexuais.
Conforme dizia Wilson-Raybould:
“Esta secção do código Criminal é discriminatória e a comunidade LGBTQ2 tem todo o direito de pedir que seja repudiada. A nossa sociedade evolui durante as últimas décadas, e o nosso sistema de justiça tem de acompanhar essa evolução, só assim podendo continuar a alcançar as espectativas dos Canadianos.
Os Canadianos esperam que as suas leis e o seu governo reflitam esses valores.”
Aparentemente, o que o governo bem intencionadamente fez, foi criar uma exceção, uma exceção que sempre tinha constituído uma descriminação contra os homens homossexuais.
Curiosamente, já em 1995 o tribunal de Apelação de Ontário tinha considerado inconstitucional esta Secção 159, por “arbitrariamente tratar de modo desigual os indivíduos.”
Apesar disso, a lei continuou efetiva nas outras cinco províncias do Canadá, tendo sido levada a julgamento 69 pessoas, embora nenhuma tenha sido condenada.
Já o grupo REAL Woman of Canada defende que em algum lado terá de ser traçada uma linha, uma vez que o sexo anal e o sexo vaginal acarretam diferentes riscos:
“Se quisermos proteger as pessoas, tem de haver algures uma proibição.”
Para estudar o problema, foi indicado um “consultor” especializado em LGBTQ2, que certamente pedirá desculpas por injustiças passadas. LGBTQ2 é a abreviatura dum grupo que compreende L de Lesbian (lésbias), G de Gay (homossexual), B de Bisexual, T de Transgender (transexuais), Q de Queer (travestis) e 2 de Two-Spirited (2 espíritos, uma espécie de identidade reconhecida pelos Nativos Americanos, vulgo índios).
Na Rússia, foi aprovada no Parlamento (Duma) por 380 votos a favor, 3 votos contra e nenhuma abstenção, a lei que descriminaliza a violência doméstica, passando esta a ser considerada apenas como ofensa administrativa.
A deputada Olga Batalina, do partido Rússia Unida, uma das proponentes, justifica-a fazendo notar que a lei anterior que criminalizava a violência doméstica era discriminatória para com os pais, que, por darem uma bofetada na cara dos filhos, podiam serem presos por dois anos, o que já não acontecia caso fosse um vizinho a dar a estalada no miúdo, que ficaria sujeito a pagar apenas uma multa.
A nova lei é muito precisa, nomeadamente especificando que da primeira vez que se agrida fisicamente os familiares, desde que não haja dano corporal, a multa poderá ir dos 5.000 aos 30.000 rublos, 60 a 120 horas de trabalho comunitário, ou 10 a 15 dias de detenção policial.
Se as agressões se repetirem, ou desde que haja dano corporal, continuam a não serem consideradas como crime, apenas a multa poderá aumentar até aos três meses de vencimento, o trabalho comunitário poderá ir até às 360 horas, e a detenção policial poderá ir até três meses.
Segundo o presidente da Duma, Vyacheslav Volodin, os legisladores foram motivados pelas opiniões expressas dos seus eleitorados e pelos inquéritos de opinião pública que indicavam que a maioria (59%) do povo russo era a favor de descriminalizar a violência doméstica, se não houvesse qualquer dano físico.
Poderemos ver nestes dois exemplos de legislação o caminho que os estados contemporâneos estão a tentar querer fazer seguir as respetivas sociedades, na sua intenção de tudo quererem controlar, diluindo as fronteiras entre o privado e o público e vice-versa, tudo reduzindo a normas que em breve (julgam eles) passarão a algoritmos de uma sociedade em que qualquer computador dos ministérios de justiça aplicará a lei. Que, evidentemente acabará por ser feita por “eles”.
Poderemos também discutir sobre as diferenças entre uma lei aparentemente progressista e outra, aparentemente retrógrada, sobre o aperfeiçoamento das sociedades através da legislação, na persecução de um progresso que não se sabe bem o que será, ou o que é.
Mas, podemos também pensá-las como representando a aparente clivagem entre as forças que se digladiam hoje, entre os que são favoráveis à “globalização 1” e os que são favoráveis à “globalização 2”.
Steve Bannon, o ideólogo por trás de Trump, já nos tinha dito:
“Eu não sou um nacionalista branco, eu sou um nacionalista. Os globalistas afundaram a classe trabalhadora americana e criaram uma classe média na Ásia. O problema agora é de como evitar que os trabalhadores americanos não sejam de novo fodidos.”
Para ele, os globalistas representam o perigo principal. Os globalistas são aquela elite que se beneficiou do comércio livre, impôs o multiculturalismo, e que, num abraço fraternal, envolveu todos aqueles que no mundo, em conclaves como o de Davos e nas instituições como a ONU, agiam com os mesmos objetivos.
Os globalistas desprezam as tradições nacionais e menorizam os valores religiosos (Cristãos). Afirmando-se politicamente corretos, preocupam-se apenas com as minorias, não com as maiorias. Pretendem abolir as fronteiras para assim poderem encher mais facilmente os bolsos.
É hoje totalmente claro que este globalismo 1, este internacionalismo liberal, serviu para concentrar riqueza nas mãos de alguns poucos (1%), com tradução em privilégios políticos e arrogância cultural. Sabe-se hoje que a economia global funciona como um casino.
Será que Bannon, Trump, pretendem resolver esta situação democratizando o globalismo? Evidentemente que não.
Basta uma simples enumeração dos negócios de Trump, que vão de campos de golfo a empresas de desenvolvimento urbano e comercial, que se estendem por quatro continentes e 24 países, incluindo Argentina, Azerbaijão, Brasil, Canadá, China, República Dominicana, Egito, Geórgia, Índia, Indonésia, Irlanda, Panamá, Filipinas, Qatar, St. Martin, St. Vicente, Granadinas, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Turquia, Emiratos Árabes, Reino Unido, Uruguai, para perceber que não se trata de democratizar o globalismo.
Se juntarmos a esta lista todos os produtos com a marca Trump (gravatas, fatos, camisas, óculos, fragâncias, recheio de casas, recheio de hotéis, bebidas alcoólicas), vemos que todos eles são feitos fora dos EUA, em 12 países (China, Holanda, México, Índia, Turqui, Eslovénia, Honduras, Alemanha, Bangladesh, Vietname e Coreia do Sul), e não consta que Trump os vá passar a fabricar nos EUA.
O que pretendem é criar um globalismo para seu próprio benefício. Um novo globalismo em que os 1% sejam ‘verdadeiros’ cristãos, radicalmente conservadores e subordinados ao nacionalismo. Ou seja, este globalismo 2 beneficiará uma percentagem ainda menor da elite.
E, os seus seguidores a nível internacional, estão já perfilados: Vladimir Putin, Marine LePen, Viktor Orban.
“Vemos como hoje em dia muitos dos países Euro-Atlânticos estão a rejeitar as suas raízes, incluindo os valores do Cristianismo que constituem a base da civilização ocidental. Renegam princípios morais e todas as identidades tradicionais: nacionais, culturais, religiosas e sexuais. Estão a implementar políticas que equiparam o conceito de família ao de uniões do mesmo sexo, a fé em Deus com a fé em Satanás. Os excessos do politicamente correto atinge um extremo em que as pessoas não veem qualquer mal em registar partidos políticos cuja finalidade seja a de promover a pedofilia.”
Percebe-se agora a legislação aprovada na Duma sobre a descriminalização da violência doméstica.
Enquanto se sossega o povo com uma reposição de valores de acordo com o desejado por esse mesmo povo, o roubo descarado à moda antiga impõe-se, perante a complacência dos militares com novas armas para se distraírem. É assim na Rússia e é assim nos EUA.
Nos EUA, enquanto dão mais emprego, mas pior pago, os oligarcas dos novos 1% vão enriquecer mais, à custa do programa de infraestruturas lançado pelo (seu) governo, dos novos tratados comerciais, e da nova enfase nas indústrias extrativas.