(166) A sociedade do "Até quando?"
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Até quando é que terei emprego? Até quando poderei pagar a renda da casa? Até quando teremos reformas mínimas garantidas? Até quando …?
Os ricos deste mundo fazem já fila para ‘comprarem’ os bilhetes de saída deste mundo finito.
E este é o limite da vida, de uma vida que valha a pena ser vivida.
O que nos oferecem é uma sobrevivência aos soluços, militarizada, limitada e caduca, fora deste planeta.
Vivemos num tempo que vem depois do depois.
Curiosos tempos estes que vivemos em que a globalização nos prometia um presente eterno, finalmente um capitalismo democrático livre das ameaças do comunismo soviético, uma nova era onde, a pouco e pouco, todos os países em vias de desenvolvimento iriam chegando, e onde todos os cidadãos do mundo iriam, progressivamente, ligando-se.
Só que os ‘descobridores’ destes novos tempos, quais novos Gamas, Cabrais, Magalhães, não tentam conquistar novas terras, mas antes o planeta Marte. Os ricos deste mundo adiantam-se e fazem já fila para ‘comprarem’ os bilhetes de saída deste mundo finito.
Julgando terem posto em marcha a verdadeira história, o único que alteraram foi a relação com o presente: em vez de ser aquilo que tinha que durar para sempre, converteu-se naquilo que já se não pode aguentar. No que é insustentável.
Vivemos no tempo da iminência, em que tudo pode mudar radicalmente ou em que tudo pode acabar definitivamente.
O que temos pela frente já não é um presente eterno nem um lugar de chegada, mas uma ameaça. Um tempo onde dominam perguntas básicas, como:
Até quando é que terei emprego? Até quando poderei pagar a renda da casa? Até quando é que poderei viver com a minha companheira? Até quando poderei fazer planos para o futuro? Até quando teremos acesso a serviços de saúde? Até quando teremos reformas mínimas garantidas? Até quando teremos água potável? Até quando a Europa será rica e laica? Até quando acreditaremos na democracia? Até quando …?
Face a esta realidade, não é de admirar o aparecimento dos impulsos dos que tudo tentam resolver à base do “agora ou nunca”, “senão for agora, então quando?”, em que se filiam os atuais movimentos de protesto, de auto-organização da vida, da intervenção nas guerras, da cultura livre, dos novos feminismos …
No fundo, a mesma sensação de que isto assim não vai durar, de que a continuar assim virá o colapso. É uma mesma experiência de limite. E este limite, é o limite da vida, de uma vida que valha a pena ser vivida.
Porque pode ser que haja outra vida para além desta com que nos querem seduzir, só que essa não será para nós, para a vida humana. Uma sobrevivência aos soluços, militarizada, limitada e caduca, fora deste planeta.
Como observou Marina Garcés, o nosso tempo já não é o da pós-modernidade que alegremente deixara o futuro para trás, mas o tempo pós-póstumo, tempo emprestado e vivido com aceitação plena da possibilidade real do nosso próprio final. Tempo que vem depois do depois.